Aconteceu! A volta de Geraldo Vandré aos palcos brasileiros se deu no último dia 22, em João Pessoa, quando declamou seus poemas e cantou suas canções durante pouco mais de 30 minutos, em espetáculo organizado pela Secretaria da Cultura do Estado da Paraíba, cuja duração total foi de 1h45, pois incluiu também músicas eruditas e instrumentais.
Foi sua primeira apresentação em território brasileiro desde o fatídico dezembro de 1968, quando, no dia 12, apresentou-se em Anápolis, GO (ouça o áudio completo do show de 12/12/1968 aqui), e quase cantou a Caminhando.
É que, no final, muitos lhe pediram que apresentasse sua canção-tabu, mas ele explicou que não o poderia fazer porque estava proibida pelas "autoridades constituídas do País". Mas, calando o oh! de decepção do público, ele acrescentou que interpretaria, em seu lugar, a Continuando.
Era uma nova canção, com letra menos contundente e acordes bem parecidos, de forma que, no trecho do refrão, o que o público espontaneamente cantou junto foi "Vem, vamos embora,/ que esperar não é saber!/ Quem sabe, faz a hora,/ não espera acontecer!".
O que continuou, contudo, foi a escalada do arbítrio, que atingiu novo patamar no dia seguinte com a assinatura do AI-5, fazendo com que ele, às pressas, iniciasse a viagem de volta para São Paulo, de carro, com rodeios para evitar as vias principais.
Voltando ao espetáculo de dez dias atrás, notícia do G1 (vide aqui), tripudiando sobre sua desdita, fez questão de ressaltar que Vandré, hoje com 82 anos, novamente homenageou as Forças Armadas.
E eu ressalto que o Vandré verdadeiro é o que compôs e agora tornou a interpretar o hino da resistência à ditadura militar chamado Caminhando.
Na minha memória ele nunca será o Geraldo Pedrosa da Fabiana (canção homenageando a Força Aérea Brasileira) mas sim o Geraldo Vandré que, quando estava na plenitude do seu discernimento, atirou na cara dos verdugos estes versos que lavavam as nossas almas:
"Há soldados armados, amados ou não,
quase todos perdidos de armas na mão.
Nos quartéis lhes ensinam antigas lições,
de morrer pela pátria e viver sem razões"
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