Acabo de me dar conta de que este 19 de outubro marca mais um aniversário da morte do jornalista que mais e melhor contribuiu para tornar conhecidas as revoluções russa e mexicana no resto do mundo, John Reed, falecido em 1920, aos 33 anos, de tifo.
Como estamos também às vésperas do centenário da primeira (7 de novembro), são motivos mais do que suficientes para eu reproduzir aqui o ótimo artigo sobre Reed que Vandeck Santiago escreveu para o Diário de Pernambuco.
Como estamos também às vésperas do centenário da primeira (7 de novembro), são motivos mais do que suficientes para eu reproduzir aqui o ótimo artigo sobre Reed que Vandeck Santiago escreveu para o Diário de Pernambuco.
Só não concordo com o título: Um repórter americano na Revolução Russa, pois os nascidos nos EUA não passam de estadunidenses; o insaciável Tio Sam ainda não incorporou os 34 outros países do continente americano, nem mesmo os outros dois da América do Norte. Então, eles devem ser chamados pelo que são e não pelo que, com sua arrogância costumeira, gostariam de ser...
Reed e Louise na vida real... |
"Estar no lugar e na hora em que um fato histórico acontece é sonho de todo jornalista. John Reed esteve no lugar e na hora em que acontecia aquele que para muitos foi o episódio mais importante do século 20: a Revolução Russa de 1917. Morreu em um dia como hoje, 19 de outubro, de tifo, num hospital de Moscou, em 1920, três dias antes de completar 33 anos. O tratamento de tifo era muito deficiente na época e, além disso, os hospitais de Moscou, em péssimas condições, estavam longe de ser o melhor lugar para tratar a doença.
Cinco dias antes de morrer, ele teve metade do corpo paralisado. Em seguida, perdeu a fala. A mulher de sua vida, a escritora e feminista americana Louise Bryant, acompanhou seus últimos instantes. Antes de ele ser internado, ela o encontrara doente, fraco e debilitado. Precisava urgentemente de repouso. Funcionários do governo russo lhe disseram que ele estava trabalhando quase 20 horas por dia.
Cinco dias antes de morrer, ele teve metade do corpo paralisado. Em seguida, perdeu a fala. A mulher de sua vida, a escritora e feminista americana Louise Bryant, acompanhou seus últimos instantes. Antes de ele ser internado, ela o encontrara doente, fraco e debilitado. Precisava urgentemente de repouso. Funcionários do governo russo lhe disseram que ele estava trabalhando quase 20 horas por dia.
Ele queria finalizar seus trabalhos e pretendia voltar aos Estados Unidos, onde provavelmente seria preso, uma vez que lá estava fichado como comunista. Ela pede que ele descanse e não volte para os EUA. “Minha querida, eu faria qualquer coisa por você”, responde ele. “Mas não me peça para ser um covarde”. John Reed — um americano [vide ressalva no 2º parágrafo] nascido numa família rica de Portland — foi enterrado no Kremlim, com funeral de herói e presença de autoridades.
O jornalismo é a história escrita nas carreiras, e ele fez isso na cobertura da revolução russa, publicada em livro com o título Os 10 dias que abalaram o mundo (em inglês, Ten days that shook the world, cuja primeira edição saiu em 1919). É como uma transmissão ao vivo, com direito à descrição de detalhes e conversas com os protagonistas do que estava ocorrendo, como Kerenski, Lênin, Trotski e Kamenev.
...e no filme Reds, um tiquinho diferentes. |
“Figura pequena e entroncada, de grande cabeça calva e protuberante metida nos ombros”, diz ele, descrevendo Lênin. “Olhos pequenos, nariz largo e curto, boca ampla e generosa e queixo forte: estava barbeado, mas a sua barba tão conhecida no passado como o seria no futuro, começava novamente a despontar. Vestia um terno surrado em que as calças eram compridas demais.”
O livro tornou-se um clássico, indispensável para quem quer conhecer ou estudar a revolução. O título também — a família dele estaria multimilionária hoje se recebesse um centavo a cada vez que um jornalista ou escritor intitula um texto referindo-se a um fato que abalou determinado lugar ou instituição (o Nordeste, ou os Estados Unidos, ou a Europa, ou um partido, ou uma empresa)...
Aos olhos de hoje, a reportagem de Reed causaria discussões por ser apaixonada, ostensivamente partisan, sem buscar uma pretensa objetividade — consta que, em determinado momento, até em armas ele pegou, e em outro esteve perto de ser fuzilado. “John Reed não quer ser imparcial e tem orgulho disso”, disse dele um editor americano [vide ressalva no 2º parágrafo].
Para o jornalista brasileiro Geneton Moraes Neto, o livro “é um grande exemplo de uma reportagem apaixonada”, o que em sua opinião não se configurava como algo negativo: “A paixão na hora de reportar um grande acontecimento é algo que já não se vê hoje, quando o tom dos textos é marcado por uma aridez de paisagem lunar, como diria o eterno Nelson Rodrigues”.
A reportagem tem regras próprias, que a diferem do relato do noticiário tradicional. Convém atentar ainda que a narrativa é de 1917 e que Reed era um comunista militante. Nada disso, porém, diminui o valor de Os 10 dias que abalaram o mundo como jornalismo de qualidade e um relato valioso dos acontecimentos daqueles dias.
Mas o tom dado por Reed aos seus trabalhos jornalísticos fizeram com que alguns editores nos EUA rejeitassem reportagens dele feitas nos campos de batalha da 1ª Guerra Mundial. Entre 1911 e 1914 ele esteve no México, cobrindo a revolução mexicana. Durante meses acompanhou o general Pancho Villa e daí surgiu seu primeiro livro, México Insurgente, publicado em 1914.
Na vida pessoal, ele também não seguia os padrões tradicionais: tinha um relacionamento aberto com Louise Bryant, a ponto de em determinado momento morar junto com ela e com o amante dela, o dramaturgo Eugene O’Neill.
Neste momento em que chegamos ao centenário da Revolução Russa, vale a pena conhecer a contribuição de um jornalista que teve concretizado o sonho de estar no lugar certo e na hora certa, em um acontecimento que entrou para a história mundial".
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