terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

O PRÉ-SAL É SÓ UMA CONTA SALGADA QUE NÃO VALE A PENA PAGARMOS?

Um artigo imperdível é o do grande físico José Goldemberg, O fim da 'era do petróleo'? (vide íntegra aqui), publicado nesta 2ª feira (16) n'O Estado de S. Paulo.

Baseado em dados da revista Foreign Affairs, ele sustenta que o motivo da atual queda dos preços do petróleo "é uma mudança estrutural na economia dos Estados Unidos e de países industrializados, cujo consumo caiu de 50,1 milhões de barris de petróleo por dia em 2005 para 45,5 milhões em 2013", tendência surgida "antes da crise da economia de 2008 e muito antes do aumento da produção de gás e óleo de xisto nos Estados Unidos".

Tais mudanças estruturais, segundo ele, têm duas componentes:
  1. pelo lado da produção, a eficiência na extração do petróleo, que está aumentando, de modo que pequenos produtores estão produzindo mais e os países importando menos. O aumento da produção de gás também leva à redução do uso de petróleo;
  2. pelo lado do consumo, automóveis mais eficientes e automóveis elétricos e híbridos reduzem o consumo de gasolina ou diesel. Além disso, a eficiência energética em geral leva à redução do consumo de energia de todos os tipos.
Daí suas conclusões: 
"Por sua própria natureza, as energias renováveis e a aplicação crescente de medidas de eficiência energética são descentralizadas - como é a produção de gás e óleo de xisto em pequenos poços - e não se prestam à formação de cartéis, que só funcionam quando são poucos os produtores. Por essas razões, a queda dos preços do petróleo - se for permanente - indica que os custos menores de energia abrirão caminho para um futuro energético mais diversificado, o que será salutar para todos.
Durante décadas cientistas se digladiaram com análises e teorias contraditórias: ou as reservas de petróleo se esgotariam rapidamente (em 20 ou 30 anos) ou durariam muito mais (de 50 a 100 anos). Paradoxalmente, a controvérsia parece estar se resolvendo de uma forma inesperada: não são as reservas de petróleo que se vão esgotar, mas o seu consumo é que vai cair, deixando muito petróleo no solo. Novas opções serão as fontes de energia dominantes no futuro".
Resta sabermos se o ritmo da mudança estrutural na matriz energética será suficiente para evitar que as alterações climáticas atinjam um ponto de não-retorno -o maior risco enfrentado pela humanidade desde o fim da guerra fria

Particularmente, acredito que não. Minha esperança é de que, quando começarem a pipocar as grandes catástrofes decorrentes do aquecimento global, a ficha finalmente caia para os cidadãos e governos, acordando-os de sua letargia atual e fazendo com que comecem a tomar as medidas drásticas que se fazem necessárias para garantirem a existência de um século 22.  

E, para a Petrobrás, eis outra má notícia: tudo indica que o pré-sal venha a ser mais um sonho de uma noite de verão, como muitos que os brasileiros já acalentaram em suas quimeras de que o progresso caia do céu para alçá-los instantaneamente ao patamar de 1º mundo. 

Goldemberg alerta que a exploração de petróleo a grandes profundidades se tornou inviável pelo custo (aproximadamente US$ 50 o barril) e desnecessária em função da abundância da oferta. Persistindo o quadro atual, o investimento não compensa. Caso se confirmem as tendências por ele apontadas, menos ainda. 

Então, ao invés de tentar convencer os brasileiros de que está em curso uma monumental conspiração para entregar as riquezas brasileiras aos gringos, o PT melhor faria se começasse a refletir sobre como o governo deve redimensionar a Petrobrás em função da nova realidade que já estamos vivendo.

3 comentários:

Anônimo disse...

Quando Lula tomou posse no seu primeiro governo, meu velho tio dizia; "O PT é uma grande sucuri. Colocou a cabeça no governo mas o rabo já está podre. Poderá evoluir para uma a metástase"

Por que diz isso tio?

"Vou lhe dar um exemplo. O agora ministro Pallocci quando prefeito em Ribeirão Preto fez uma concorrência dirigida para merenda escolar, para merenda escolar, repito.

Um dos itens da merenda era ervilha com molho de tomate.

Só tinha uma empresa que fabricava e enlatava esse produto e estava na mão de um dos concorrentes.

Houve a denuncia e a licitação foi anulada. Não virou nada judicialmente.

Num país sério Pallocci seria cassado como prefeito e preso com sua assessoria licitadora. Agora é nomeado ministro deste governo".

O tio foi profético. Pallocci deu no que deu e no governo petista a corrupção atingiu nível nunca visto nesse país. Está aí a roubalheira na PETROBRAS.

E pior. Se em 2018 entrar um governo de direita, o PT deixou as condições para a privatização da empresa dado a má gestão, dívida astronômica sem solução a médio prazo, a inviabilidade do pré sal como exposto no presente artigo.

Para que tal não aconteça [a privatização] só o povo indo para as ruas.

celsolungaretti disse...

Sou marxista, então não vejo motivo nenhum para mover uma palha para defender o que não pertence ao povo. Propriedade privada e propriedade estatal são duas faces da mesma moeda: C-A-P-I-T-A-L-I-S-M-O.

Quando entrevistei o Lula, no comecinho da campanha na qual ele seria derrotado pelo Collor, ele prometeu que, eleito, colocaria conselhos de trabalhadores à testa das estatais.

Em 2002, contudo, nem lembrava mais de que um dia disse isto...

Anônimo disse...

Algumas figuras dentro do PT começam [em conversas reservadas] a rememorar certos fatos na subida de Lula como líder sindical. A principal delas: Fazia um discurso radical nas grandes assembleias e depois negociava com as montadoras.

Era mais uma fraqueza ideológica, não traição.

Traição mesmo fez algumas vezes o Sindicato dos Bancários de São Paulo.

Numa poucas vezes em que houve segundo turno nas eleições com chapa de oposição que poderia tirar do comando da entidade João Vacari e Ricardo Berzoini, os "condotieris" da entidade [até hoje] negociavam com os banqueiros, como Bradesco, Itaú, para a entrada de membros da chapa da situação nos grandes centros administrativos desses bancos. À oposição era negada a entrada de seu membros.

Já que estou falando do Sindicato dos Bancários de São Paulo; você sabia caro Celso, que o sindicato tem 88 [oitenta e oito] diretores.

Isso é verificável contando, na contra capa nas revistas e publicações da entidade. A última vez que contei tinha 88 fora os diretores honorários como os dois "honoráveis" que citei e muitos outros.

Outro dado desse sindicato que dizem ser o "mais combativo", pelo menos da categoria:

Por convenção coletiva os trabalhadores bancários recebem em torno de R$ 980,00 mensais entre vale alimentação e restaurante.

Esses 88 diretores [todos afastados do local de trabalho] recebem do banco essas verbas. O Sindicato dá também essas verbas e mais uns R$ 600,00, ou mais de verba de representação.

Portanto sendo diretor recebe no mínimo em torno de R$ 1.500,00 que seu colega que está enfrentando os chefetes dos banqueiros.

É muito raro um diretor voltar para o ambiente de trabalho. Só quando desagrada "os condotieris" e não entram na formação da nova chapa.

E são dóceis aos banqueiros. Comemoram como grande vitória um aumento real de 1% quando os bancos aumentaram seus lucros em 15/20% no ano.

É essa republica petista regida pelo lulismo que engessou, tornou meras entidades burocráticas as Centrais e Sindicatos de Trabalhadores em geral.

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