A notícia é da Folha de S. Paulo e tem como título Brasil ignora solicitação de asilo de delator americano.
Começa errada, pois rotular Edward Snowden de delator é alinhar-se com a infame posição do governo estadunidense, colaborando com a estigmatização de um justo.
Se um governo comete flagrantes ilegalidades, como a de espionar em massa seus próprios cidadãos, qualquer homem digno que tome conhecimento deste delito, funcionário ou não, tem o direito e até o dever de denunciar a ilicitude. Snowden, portanto, é DENUNCIANTE, não delator. Nada fez que justificasse prisão; merecia, isto sim, medalhas, porque HERÓI ele é.
Assim como Julian Assange e Bradley Manning também são incontestáveis HERÓIS da luta pela transparência das ações governamentais. Os três colocaram sua liberdade e sua sanidade em risco para exporem os terríveis abusos de poder cometidos por altas autoridades dos EUA.
Quem deveria ser processado é, para começar, o diretor da Agência de Segurança Nacional dos EUA, general Keith Alexander. E todos os funcionários que obedeceram a suas ordens arbitrárias. E o próprio presidente Barack Obama, se ficar provado que teve conhecimento prévio desta arapongagem em larga escala e a autorizou.
Em fuga pelo mundo, Snowden ora se encontra num aeroporto de Moscou. A Rússia se recusa a entregá-lo aos EUA e até admite sua permanência, desde que se sujeite a uma imposição para ele inaceitável: a de nada fazer que venha a prejudicar o governo estadunidense. Ou seja, que aceite ser manietado em benefício da tranquilidade de terroristas de estado.
Tentando conseguir um asilo sem tal condicionante, ele mandou carta a 21 países, inclusive o nosso.
Segundo a Folha, o porta-voz do Itamaraty, Tovar Mendes declarou o seguinte:
"O Brasil não vai reagir à carta com pedido de asilo. Nem sequer considerará seu mérito, pois ele circulou em carta genérica. A concessão de asilo não é feita de modo automático. O cidadão sequer está em uma embaixada do Brasil".
Trata-se de uma repulsiva evasiva burocrática para não honrar a tradição brasileira de acolher perseguidos políticos de todos os quadrantes e de todas as ideologias. Conforme lembrou o combativo jornalista Laerte Braga, alguns dos piores vilões da extrema-direita, como George Bidault, Marcelo Caetano e Alfredo Stroessner, "foram recebidos com loas e protegidos enquanto viveram".
Para o Laerte, "a diferença entre Dilma Roussef e FHC é apenas a saia". Eu não iria tão longe, mas deixo registrada minha mais profunda indignação com esta saída pela tangente, uma maneira enviesada de fugir às responsabilidades que nossa dignidade nacional impõe. Teremos voltado, em pleno governo do PT, a ser quintal dos EUA?!
Um comentário:
Sem a bomba nuclear não dá pra peitar os EUA. Simples assim, Celso! Se ainda somos quintal dos EUA? Óbvio, mas é que nos últimos 10 anos esse quintal, a América Latina como um todo, ficou pequeno e Tio Sam anda muito furioso com isso!
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