Comi
o pão que o diabo amassou nos anos de 2004 e 2005; desempregado,
cinquentão, tive de vender praticamente tudo que tinha e até passei
privações. Para visitar minha mãe, chegava a fazer caminhadas de mais de
20 quilômetros por falta de grana para o ônibus.
Um
juiz da vara da Família decretou minha prisão por não pagamento de
pensão alimentícia, aceitando a bizarra argumentação de que, como
jornalista, eu deveria
estar conseguindo algum dinheiro com freelances; ou seja, tomou uma
medida extrema a partir de mera suposição, sem prova nenhuma.
Sei
lá o porquê, nunca vieram me prender e o problema acabou sendo superado
adiante. Mas, durante vários meses fiquei com essa lâmina pendente
sobre a cabeça.
Decidi
que jamais poderia resignar-me a tal descalabro; que, se fosse detido,
iniciaria no ato uma greve de fome, até me libertarem, até morrer ou até
terminarem os 30 dias de reclusão.
Por
que? Porque, mesmo em circunstâncias tão adversas, eu tinha uma imagem
de revolucionário pela qual zelar. Nós não nos conformamos com as
injustiças. Jamais as aceitamos passivamente. Consideramos que o espírito de Justiça está acima da aplicação distorcida da Justiça numa sociedade de classes.
Daí eu ficar estupefato quando vejo antigos revolucionários se declarando injustiçados e, ao mesmo tempo, jurarem que cumprirão como cordeirinhos as sentenças da Justiça burguesa. Isto só mostra o quanto eles encontram-se distantes dos valores de outrora.
E
é exatamente por terem deles se distanciado que agora estão tão
vulneráveis. "Quem entra num buraco de rato, de rato tem de transar",
constatou o Raulzito. Mas, os roedores vocacionais se movimentam melhor
no esgoto do que os roedores acidentais.
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