domingo, 5 de agosto de 2012

OS GAVIÕES DA WEB (UM DESABAFO!)

Triste constatação: a  máquina de fazer doidos  conseguiu transformar a maioria das pessoas em meras torcedoras, que se posicionam sobre os acontecimentos marcantes do noticiário da forma mais intolerante e maniqueísta possível, mas raramente fazem algo de concreto além de escrever mensagens que se perdem no vazio virtual.

Uso o termo num sentido mais amplo do que na frase imortal do Stanislaw Ponte Preta, referindo-me não só à TV, mas a todos os tentáculos da indústria cultural. Eles hoje partidarizam a notícia, fazendo coberturas extremamente tendenciosas, que inspiram reações da mesma forma tendenciosas por parte de seus públicos.

Não escondo: começo a ficar cansado e enojado de ver pessoas teoricamente de esquerda repetindo na internet o mesmíssimo primarismo dos cidadãos comuns em papos de botequim.

Só para ficar nos exemplos mais recentes, é desalentador constatar a  torcida  por ditadores sanguinários como Muammar Gaddafi e Bashar al-Assad, apenas porque os adversários seriam presumivelmente piores --embora o primeiro fosse amigo do Silvio Berlusconi desde criancinha e seja difícil para mim vislumbrar alguém pior do que o canastrão mussolinesco...

Quando vilãos brigam, a postura sensata para nós é adotarmos distanciamento crítico dos dois lados. O povo não estava no poder na Líbia e não está na Síria; nada mais era/é do que duas tiranias familiares (uma que começou como nacionalismo militar à moda nasserista, mas se tornou mera ditadura de um clã; outra que não é nem nunca foi nada além de um despotismo transmitido de pai para filho).

Mesmo assim, no afã de se colocarem contra o  colonialismo, muitos  gaviões da web  recorreram à argumentação mais unilateral e patética, repetindo clichês em desuso desde o fim da guerra fria.

Cansei de alertar que, se a posição assumida pelos autoritários do teclado em absolutamente nada altera o desenrolar dos acontecimentos no Oriente Médio, serve como trunfo valiosíssimo para os ultradireitistas daqui nos desqualificarem a todos como adeptos de ditaduras bestiais, que presumivelmente estaríamos tentando instalar uma igual na  patriamada.

Ou seja, os  gaviões da web aplaudem os  carrinhos  do  timão  mesmo quando eles levam à expulsão do jogador faltoso (prejudicando a equipe) e provocam repulsa em todos os apreciadores do futebol. Nenhum ganho, perda total.

Isto se repete agora com o julgamento do  mensalão. Qualquer cidadão minimamente perspicaz percebe que o rolo compressor da indústria cultural, apresentando os acusados da forma mais negativa possível e dedicando espaços desmesurados para o assunto, produzirá a condenação objetivada --e por goleada!

Então, de que adiantam as defesas apaixonadas de réus que fizeram o que todos os políticos do sistema fazem, mas jamais deveria ter sido feito por quem começou na esquerda e até hoje é visto pelo povão como esquerdista?

De um lado, a indústria cultural martela na cabeça dos videotas o silogismo  o PT é de esquerda, os mensaleiros foram criminosos, então os esquerdistas são criminosos.

Do outro, pessoas de esquerda tentam provar o inacreditável --que não teria existido a compra dos parlamentares fisiológicos que todos os partidos no poder sempre compraram.

Para quem tiver desperdiçado seus esforços apostando contra o carteador num jogo de cartas marcadas, o que restará quando sair do cassino tendo nele deixado até as calças, ou seja, quando for anunciada a SENTENÇA QUE JÁ ESTAVA DECIDIDA NO DIA EM QUE COMEÇOU O JULGAMENTO? Nada. Perda total, de novo.

Não seria melhor a postura realista de reconhecer que o PT cometeu o mesmíssimo crime que, no poder, PMDB, PFL e PSDB haviam cometido, sem que desabasse sobre suas cabeças uma tempestade judicial e midiática? Ou seja, ao invés de alegar inocência e cair no ridículo, criticar o  dois pesos e duas medidas, que soaria plausível?

Mas, torcedores não enxergam isto. Preferem incentivar seu time mesmo quando a partida está 0x5 e faltam dois minutos para terminar.

Quem deveria estar empenhado em transformar o mundo, contudo, não pode se dar ao luxo de comportar-se como um torcedor qualquer.

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