sábado, 8 de outubro de 2011

JOBS E SUA DISTOPIA: O HOMEM EGOÍSTA, CIRCUNDADO DE APARELHOS PERFEITOS

Quando um áulico comparou o tal Steve Jobs a John Lennon, quase vomitei. Mas, como totalmente desinteressado em  high tech, não tinha o que falar sobre quem sequer conhecia.

É engraçada essa situação de estarmos alheios às figuras da moda. O episódio mais emblemático que me ocorreu foi quando o bom amigo Luís Alberto de Abreu pediu para eu transmitir minha experiência ao elenco de uma peça teatral de sua autoria, que tinha conexão com os temas de resistência e tortura: A Guerra Santa.

Conversei com os atores de forma cordial, satisfazendo sua curiosidade sobre o que rolava nos porões da ditadura. Mas, percebi que uma senhora ficou meio espantada por ser tratada como uma  pessoal qualquer, sem salamaleques. Pensei com meus botões que ela deveria ser uma celebridade.

Era: Beatriz Segall. Só que não fazia parte do meu mundo.

Da mesma forma, só fiquei sabendo da existência do tal Jobs quando morreu. E, tendo ele sido um mero criador de tecnologias, achei exageradíssimas as loas. E absurda a comparação com o compositor de Imagine, uma das mais perfeitas sínteses, em todos os tempos, das melhores aspirações da humanidade.

Então, quando Marcos Palacios, outro velho amigo, enviou-me o artigo A morte de Steve Jobs, o inimigo número um da colaboração, de Rodrigo Savazoni, vi que a minha intuição não me traíra: o defunto não justificava mesmo tanta rasgação de seda.

Recomendando, como sempre, a leitura da íntegra, destaco o mais marcante:
"Steve Jobs morreu, após anos lutando contra um câncer que nem mesmo todos os bilhões que ele acumulou foram capazes de conter. Desde (...) o anúncio de seu falecimento, não se fala em outra coisa. Panegíricos de toda sorte circulam pelos meios massivos e pós-massivos. Adulado em vida por sua genialidade, é alçado ao status de ídolo maior da era digital. É inegável que Jobs foi um grande designer, cujas sacadas levaram sua empresa ao topo do mundo. Mas há outros aspectos a explorar e sobre os quais pensar neste momento de sua morte.
Jobs era o inimigo número um da colaboração, o aspecto político e econômico mais importante da revolução digital. Nesse sentido, não era um revolucionário, mas um contra-revolucionário. O melhor deles.
Com suas traquitanas maravilhosas, trabalhou pelo cercamento do conhecimento livre. Jamais acreditou na partilha. O que ficou particularmente evidente após seu retorno à Apple, em 1997. Acreditava que para fazer grandes inventos era necessário reunir os melhores, em uma sala, e dela sair com o produto perfeito, aquele que mobilizaria o desejo de adultos e crianças em todo o planeta, os quais formam filas para ter um novo Apple a cada lançamento anual.

A questão central, no entanto, é que o design delicioso de seus produtos é apenas a isca para a construção de um mundo controlado de aplicativos e micro-pagamentos que reduz a imensa conversação global de todos para todos em um sala fechada de vendas orientadas.

...A distopia jobiana é a do homem egoísta, circundado de aparelhos perfeitos, em uma troca limpa e 'aparentemente residual', mediada por apenas uma única empresa: a sua. Por isso, devemos nos perguntar: era isso que queríamos? É isso que queremos para o nosso mundo?"
 

9 comentários:

Naty CV disse...

O fato de se ter um pc em casa, pessoal, entender suas características, configurações, etc...deve-se MUITO a Steve Jobs.

Eu realmente não consigo imaginar minha vida sem algumas tecnologias que só chegaram às mãos até de gente com menos poder aquisitivo, como eu, graças a Steve Jobs. Mesmo tais tecnologias não sendo da Apple.

Tu disse que nunca havia ouvido falar dele antes de sua morte, então deveria pesquisar muito bem, como o competente jornalista que tu é, antes de chegar a qualquer conclusão.

Abraços.

celsolungaretti disse...

Naty,

tecnologia que convém ao sistema, se um não cria, outro cria.

Uma "Imagine", só um Lennon faria.

Eu admiro os idealistas, os pensadores e os artistas.

Não os Jobs e Gates. Jamais os Jobs e Gates! Eles são, como bem notou o articulista que citei, os agentes da distopia.

Abs.

Anônimo disse...

Celso, eu também nunca tinha ouvido falar do Jobs antes dele falecer.
Já a tal Beatriz Segall...urgh! embrulhou meu estômago só de lembrar...

Naty CV disse...

Bá, eu esqueci de falar do caso da Beatriz Segall, em que ano foi isso que tu mencionou no post?

Pq não conhecer o Jobs, é aceitável, mas a Beatriz Segall? até eu que não sou do tempo da Odete Roitman sei bem quem é ela...hehehe...

Abraços.

celsolungaretti disse...

Foi no 2º semestre de 1993. É fácil lembrar, porque eu estava me recuperando de um atropelamento e um dos atores me perguntou se as muletas ainda eram consequência das torturas...

Posso dizer que as novelas, para mim, foram um caso de desamor à primeira vista: detestei-as desde que "O Direito de Nascer" iniciou o ciclo, no agourento ano de 1964.

Sou cinéfilo desde criancinha; as matinês de domingo eram a grande curtição de um garoto pobre na década de 1950.

Então, acostumei-me à linguagem dinâmica, essencializada, do cinema. Novelas, para mim, são insuportavelmente lentas e tediosas, por valorizarem as banalidades e miudezas do cotidiano.

Naty CV disse...

Meus pais tb, DETESTAM novela, mas eles assistiram Vale Tudo em 1988, eu tinha 1 ano apenas, e até hoje me dizem que foi a melhor novela já feita no Brasil, justamente por eles terem a mesma visão de mundo e ideias que tu.

Valmir disse...

stalin impediu a pesquisa de computadores e automoveis na ex-URSS pq achava que eram coisas que nao tinham nenhum futuro...gadgets apenas

Anônimo disse...

Seu artigo é superficial e inconsequente. As coisas não parecem serem naquilo que se vê.

nao existe a tal colaboraçao, o que existe é a manipulação e o controle social. JOBS lutou pela liberdade, pela qualidade, e revolucionou o mundo. Era do bem, ao contrario de Gates (absolutamente do mal).

Você deveria estudar mais

celsolungaretti disse...

Registro sua opinião, anônimo, mas, no limite dos meus insuficientes conhecimentos sobre informática, acredito nas conclusões do velho companheiro Marcos Palácio.

Minha convicção se robustece cada vez que vejo zumbis mesmerizados por essas geringonças nas ruas, nos restaurantes, nos transportes públicos, nos cinemas, fofocando baboseiras no Youtube ou espalhando pelo mundo as fotos com as quais tentam acreditar que são importantes e que alguém lhes dá importância.

Cada um desses coitados é uma ilha, fazendo-me lembrar os versos antológicos de Cid Franco:

"Benção da luz a nascer
Aberta ao sol uma rosa
Penso em quem não pode ver
A cena maravilhosa"

Hoje, tem gente que só consegue ver as cenas da tela, não as da vida que pulsa ao seu lado.

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