Foi meu companheiro de redação na Agência Estado. E, quando já marchava para a aposentadoria, lá pelos seus 55 anos, tomou a temerária decisão de demitir-se para dar assistência ao pai, em seu final de vida.
O FGTS foi suficiente para bancar o quase um ano que ele passou cumprindo, em tempo integral, o dever de bom filho.
Quando o óbito ocorreu, já não havia emprego à sua espera na AE, nem em redação nenhuma.
Aceitou a adversidade e lutou contra ela, trabalhando até como pedreiro, mecânico e corretor de imóveis.
De quebra, realizou (foto acima) o antigo sonho de obter um diploma de jornalismo -- que não lhe fora necessário para o exercício da profissão, pois nela já atuava quando o curso se tornou obrigatório para os ingressantes na carreira.
Mesmo sem esperança nenhuma de voltar à ativa, passou quatro anos nas Faculdades São Judas Tadeu e se graduou brilhantemente.
Hoje ele banca impressões baratas do seus textos e entrega para moradores de rua os venderem. Uma pequena contribuição, mas a única que está em condições de dar, para a subsistência dos excluídos.
E amarga a insensibilidade de burocracias kafkianas como a do INPS, que resiste a dar-lhe aposentadoria integral porque... ela própria perdeu (e admite ter perdido) as provas que o Apollo anexou ao processo no qual a pleiteava! Ainda que admitamos ter sido um extravio acidental, a aceitação desta tese abriria um precedente para os reclamados sumirem com tudo que lhes causasse problemas...
A Justiça deu ganho de causa ao Apollo, claro, mas os desumanos apelaram. Ele já está com 75 anos. Quantos mais precisará viver para poder desfrutar seu direito líquido e certo?
O Apollo me mandou o artigo abaixo. Não sei nem se este blogue é o mais apropriado para tal texto. Publico porque é uma lição de jornalismo... e de vida.
QUEM QUER SER JORNALISTA?
Apollo Natali
Imagino que os viciados feudos ideológicos da comunicação que, no Brasil, empunharam a bandeira da desobrigatoriedade do diploma de jornalista, poderão zombar desta conversa. A vida se encarrega deles.
Para ser jornalista basta saber contar historinhas?
É claro que é gostoso contar historinhas. O ser humano nasce para contar e ouvir historinhas. Menininhos e menininhas do Colegial, lógico que vai ser gostoso entrar no carro de reportagem, viajar, teclar no computador da redação as acrobacias da vida, aparecer na TV, ser chamado de jornalista. Isso não é tudo. Não é nada.
O mundo é mau, crianças, ouçam-me. Não tem tamanho a falta de pudor de quem expele tal paupérrima definição sobre ser jornalista, de que é um simples contador de historinhas. Partindo da boca de altas autoridades, como partiu, essa maldosa definição é um sarcasmo contra o mais precioso item de nossas vidas: a qualidade da informação.
Sem ela, como querem os ditadores, e como se tem visto, sufoca-se a espécie humana. Jornalismo é função social vital, de imperiosa qualificação por uma faculdade e respectiva regulamentação, como igualmente são imperiosas essas regulamentações em atividades vitais como medicina, direito, engenharia.
Crianças, trabalhar hoje no jornalismo, nem precisa de faculdade. A obrigatoriedade do diploma, imposta no regime militar, não existe mais. O que vai acontecer com vocês agora?
Vai acontecer isto: os pobres dos editores vão acrescentar à própria carga desumana de trabalho a função de ensinar a vocês tudo o que uma faculdade ensina.
Para ser jornalista basta saber contar historinhas?
É claro que é gostoso contar historinhas. O ser humano nasce para contar e ouvir historinhas. Menininhos e menininhas do Colegial, lógico que vai ser gostoso entrar no carro de reportagem, viajar, teclar no computador da redação as acrobacias da vida, aparecer na TV, ser chamado de jornalista. Isso não é tudo. Não é nada.
O mundo é mau, crianças, ouçam-me. Não tem tamanho a falta de pudor de quem expele tal paupérrima definição sobre ser jornalista, de que é um simples contador de historinhas. Partindo da boca de altas autoridades, como partiu, essa maldosa definição é um sarcasmo contra o mais precioso item de nossas vidas: a qualidade da informação.
Sem ela, como querem os ditadores, e como se tem visto, sufoca-se a espécie humana. Jornalismo é função social vital, de imperiosa qualificação por uma faculdade e respectiva regulamentação, como igualmente são imperiosas essas regulamentações em atividades vitais como medicina, direito, engenharia.
Crianças, trabalhar hoje no jornalismo, nem precisa de faculdade. A obrigatoriedade do diploma, imposta no regime militar, não existe mais. O que vai acontecer com vocês agora?
Vai acontecer isto: os pobres dos editores vão acrescentar à própria carga desumana de trabalho a função de ensinar a vocês tudo o que uma faculdade ensina.
Ao mesmo tempo, menininhos e menininhas, vocês vão ser conduzidos como carneirinhos pelo caminho ideológico que os donos da imprensa impõem. Dono de imprensa tem sua opinião. Vocês, descubram as suas, estudem, façam uma faculdade de Comunicação.
Os retrógrados defensores da desobrigatoriedade do diploma de jornalista seguem os rastros sombrios dos colonizadores do Brasil, que plantaram nossa herança de mediocridade política, cultural e econômica, ao proibirem, nos primórdios da vida brasileira, o uso da prensa, em conseqüência a própria atividade da imprensa, a criação de escolas, de universidades, de indústrias.
Retrógrados da desobrigatoriedade, vocês dão continuidade ao processo colonizador de estrangulamento do Brasil!
Crianças! Futuros jornalistas! Uma boa faculdade, freqüentada com assiduidade e empenho, com bons professores, pode não apagar esse passado lamentável do Brasil, mas pode desconstruir a herança que ele deixou. Façam uma boa faculdade de Jornalismo, sepultem a desobrigatoriedade do diploma.
As faculdades, por sua vez, têm a obrigação social de manter seus cursos de Comunicação com qualidade, com todo o direito de divulgá-los e de ganhar seu dinheirinho com eles. Pelo bem do Brasil. Caso contrário, boa coisa não vem por aí.
6 comentários:
Respeito a pessoa, mas não concordo com a obrigatoriedade de diploma pra exercer o jornalismo, bem como para algumas outras profissões. Acredito ter sido justa a decisão tomada pelo STF.
Eu fico num meio termo: considero necessário o diploma de jornalista OU o de algum curso superior da área de humanidades, com habilitação em jornalismo.
Se um médico sem formação adequada pode matar o paciente e um arquiteto idem construir edifício que desaba, o jornalista pode destruir reputações, causando a morte moral e até física de um cidadão.
Então, não é profissão que possa ser exercida por qualquer irresponsável que caia nas graças de um barão da imprensa.
Para ser um ótimo jornalista , o cara só precisa contar a verdade , e ouvir os dois lados , nada mais.
Permita-me discordar, mas destruir reputações causando a morte moral, e até física, de um cidadão independe de possuir diploma de jornalista. Cursos mercantilizados, como a grande maioria, e que apenas despejam meros reprodutores do sistema na sociedade.
Desculpem-me, mas ambos não sabem do que estão falando.
Só com sólida formação cultural e conhecimento de teorias críticas da sociedade é que o jornalista consegue agir como verdadeiro jornalista, não como operador da desinformação da indústria cultural.
É exatamente isto que o Apollo quis dizer. Escolas de jornalismo às vezes ensinam, p. ex., as teorias da Escola de Frankfurt, que estimulam a reflexão sobre o papel que o comunicador realmente desempenha na sociedade.
Quem não é vacinado contra isso, tende a fazer o que o patrão e as chefias preferem: manipular e deformar.
Afora o fato de que, com sua inabilidade, esses paraquedistas embarcam mesmo em canoas furadas, destroem reputações e podem causar graves danos à comunidade.
Vejam a sofreguidão com que se deixam tomar pelo frenesi dos casos espetacularizados! Nunca lhes passa pela cabeça que os donos da Escola Base podem não ser, afinal, pedófilos. Estão ocupados demais em aparecer.
Tudo isto eu falo a partir de casos de que participei ou que presenciei, da experiência vivida como repórter, redator e editor, durante mais de três décadas de atuação.
AFIRMO TAXATIVAMENTE QUE, DA PARTE DOS PATRÕES, A LUTA CONTRA A OBRIGATORIEDADE DO DIPLOMA VISOU DOMESTICAR AS REDAÇÕES, SEJA DO PONTO DE VISTA DOS POSICIONAMENTOS CRÍTICOS, SEJA DO PONTO DE VISTA DA DEFESA DA PROFISSÃO.
O resultado já se nota: um jornalismo que é cada vez mais a voz do dono, com remunerações aviltadas e uma carga de trabalho exageradíssima.
Se vocês quiserem saber mais, recomendo estes posts:
http://naufrago-da-utopia.blogspot.com/2009/06/jornalistas-uma-batalha-perdida-e-uma.html
http://naufrago-da-utopia.blogspot.com/2009/06/diploma-dispensavel-janio-de-freitas.html
http://naufrago-da-utopia.blogspot.com/2009/07/gilmar-mendes-acabou-com-profissao-de.html
http://naufrago-da-utopia.blogspot.com/2011/04/furo-do-blogue-comprovada-existencia-da.html
Com diploma de jornalismo ou sem, os donos da informação sempre colocam aqueles que lhes melhor servem.
Óbvio que para exercer a profissão é mister uma sólida formação cultural, coisa que milhares dessas faculdades de jornalismo estão a anos-luz de proporcionar.
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