Prezado Sr. Otávio Frias Filho, diretor de redação da Folha de S. Paulo,
peço que me seja concedido o direito de responder ao editorial desta 6ª feira (10/06) da Folha de S. Paulo, "Justiça desfeita", já que me considero pessoalmente atingido no seguinte trecho:
Minha solidariedade a Cesare Battisti foi expressa em 236 artigos escritos desde novembro/2008, que circularam amplamente na internet, a ponto de uma busca virtual associando nossos dois nomes revelar, hoje, a permanência de 65 mil citações (hits) no ar.
Além disto, dei palestras e participei de mesas-redondas sobre Battisti, em vários Estados; sou integrante do Comitê de Solidariedade a Cesare Battisti; grande parte dos meus artigos sobre o escritor italiano é mantida no ar no site do comitê, o http://cesarelivre.org; fui apresentado ao Senado brasileiro como defensor de Battisti, em plena sessão, pelo senador Eduardo Suplicy; e já fui citado na própria Folha de S. Paulo, em 15/01/2009, como um "escritor que comemorou a decisão" do ex-ministro da Justiça Tarso Genro, de conceder refúgio humanitário a Battisti.
É público e notório, portanto, que preencho as três características discriminadas: sou ex-militante de esquerda; antigo adepto da luta armada (anistiado pela União e indenizado pelo Governo paulista por ter sofrido danos físicos, psicológicos, morais e profissionais durante a ditadura); e batalhei ininterruptamente, durante os últimos dois anos e meio, pela liberdade de Battisti.
Como são bem poucas as pessoas que se enquadram tão bem em todos estes quesitos, há justificados motivos para eu depreender que tenha sido um dos alvos do editorial.
Até como idoso, e amparado pelo Estatuto respectivo, considero ofensiva a imputação de que haja prestado "solidariedade fora de época e de propósito" a alguém, como se fosse incapaz de discernir a realidade e perdesse meu tempo com iniciativas "fora de época e de propósito".
Sendo óbvia a idade avançada de quem pegou em armas contra a tirania instaurada pelos golpistas de 1964, foi o mesmo que me chamar, eufemisticamente, de "velho caduco".
Então, por todos estes motivos, tenho direito, em consonância com as boas práticas jornalísticas, de responder a tal editorial. E o requeiro formalmente.
Atenciosamente,
CELSO LUNGARETTI
Obs.: mensagem enviada a Suzana Singer e a Otávio Frias Filho às 9h47 desta 6ª feira. A primeira confirmou recebimento.
"Uma vez preso, aqui, [Cesare Battisti] despertou uma solidariedade fora de época e de propósito entre ex-militantes de esquerda e antigos adeptos da luta armada".Ora, eu pertencia à esquerda em 1968, quando militei no movimento estudantil; e também em 1969/70, quando, ainda como esquerdista, fui "adepto da luta armada'' tendo integrado a Vanguarda Popular Revolucionária e a Vanguarda Armada Revolucionária - Palmares, organizações que resistiam à ditadura militar pela via armada.
Minha solidariedade a Cesare Battisti foi expressa em 236 artigos escritos desde novembro/2008, que circularam amplamente na internet, a ponto de uma busca virtual associando nossos dois nomes revelar, hoje, a permanência de 65 mil citações (hits) no ar.
Além disto, dei palestras e participei de mesas-redondas sobre Battisti, em vários Estados; sou integrante do Comitê de Solidariedade a Cesare Battisti; grande parte dos meus artigos sobre o escritor italiano é mantida no ar no site do comitê, o http://cesarelivre.org; fui apresentado ao Senado brasileiro como defensor de Battisti, em plena sessão, pelo senador Eduardo Suplicy; e já fui citado na própria Folha de S. Paulo, em 15/01/2009, como um "escritor que comemorou a decisão" do ex-ministro da Justiça Tarso Genro, de conceder refúgio humanitário a Battisti.
É público e notório, portanto, que preencho as três características discriminadas: sou ex-militante de esquerda; antigo adepto da luta armada (anistiado pela União e indenizado pelo Governo paulista por ter sofrido danos físicos, psicológicos, morais e profissionais durante a ditadura); e batalhei ininterruptamente, durante os últimos dois anos e meio, pela liberdade de Battisti.
Como são bem poucas as pessoas que se enquadram tão bem em todos estes quesitos, há justificados motivos para eu depreender que tenha sido um dos alvos do editorial.
Capa de uma edição dominical da "Folha", em 2009 |
Sendo óbvia a idade avançada de quem pegou em armas contra a tirania instaurada pelos golpistas de 1964, foi o mesmo que me chamar, eufemisticamente, de "velho caduco".
Então, por todos estes motivos, tenho direito, em consonância com as boas práticas jornalísticas, de responder a tal editorial. E o requeiro formalmente.
Atenciosamente,
CELSO LUNGARETTI
Obs.: mensagem enviada a Suzana Singer e a Otávio Frias Filho às 9h47 desta 6ª feira. A primeira confirmou recebimento.
5 comentários:
Boa Celso, esse jornalão tem a obrigação de dar direito de resposta.
Prezado Celso,
Considerando que vc vem acompanhando o caso há muito tempo peço-lhe um esclarecimento, se possivel.
1- Vi desde o julgamento do STF - e até mesmo antes - que a decisão do então Presidente Lula se deu com base no exercicio da SOBERANIA.
Essa palavra (soberania) vem sendo repetida à exaustão desde janeiro deste ano.
2- Ao mesmo tempo, vi que a Decisão do Presidente teria amparo no artigo 3°, inciso 1, alinea "f" do tratado bilateral existente entre a Italia e o Brasil.
3- E aqui surge a duvida, que não sei se é procedente:
Se a Decisão é "SOBERANA" - entendida aí aquela que o Estado toma com base no seu poder de imperio, sem que tenha contas a prestar, nem apresentar justificativas - Não era preciso apresentar dispositivos do tratado como suporte.
Por outro lado,
Se a Decisão teve como base a aplicação de dispositivo contido no tratado,então não é "SOBERANA", mas vinculada a uma das hipoteses previstas no ajuste.
Espero que o amigo tenha compreendido minha dificuldade e me ajude a esclarecer a duvida.
Abcs
Emanuel
Emanuel,
a decisão do STF no final de 2009 foi no sentido de que a última palavra seria do Lula, atendo-se aos termos do tratado de extradição.
Então, como ele resolveu ratificar o que seu governo já decidira em 2009 (por intermédio do então ministro da Justiça Tarso Genro), pediu à AGU que lhe fornecesse um parecer sobre o que poderia ser alegado, de forma consistente com o tratado.
Vale dizer que o tratado não é nenhuma camisa de força. Se o presidente tinha motivos plausíveis para SUPOR que Battisti correria perigo na Itália, isto bastava.
E estes motivos plausíveis existiam, claro. Afora os alegados, a própria essência do Governo Berlusconi -- escrachadamente neofascista -- constituiria uma ameaça permanente à vida e à integridade física/intelectual de Battisti.
O ministro da Defesa, p. ex., é velho inimigo do Cesare nas refregas de rua entre esquerda e direita. Boquirroto, chegou a insinuar que adoria tê-lo à mão para o torturar...
Mas, claro, o Lula não poderia dar nome aos bois, se não o Brasil e a Itália acabariam entrando em guerra...
O velho, na pior acepção do termo, Ignacio La Russa, do antigo MSI, fascista até o último fio de cabelo.
Grato pelas informações.
É uma pena que a coisa tenha chegado a esse ponto.
Mas é obvio que não chegaremos à guerra, exceto a de palavras...
Por um dever de consciência, até mesmo em respeito a sua já antiga luta em defesa de Battisti, devo comentar que acredito (embora não tenha nenhuma razão para ter isso como um "dogma" inabalável...)que teria sido melhor para o Brasil e para a Italia a Extradição.
Infelizmente a coisa tomou um vulto ideologico exacerbado, de
lado a lado.
Acho que a atitude tomada pelo Brasil ( sim, por agora não é mais Lula, fulano ou cicrano. É o Estado Brasileiro...)não ajuda a humanidade avançar.
Não foi, por incrivel que possa parecer, uma decisão de "esquerda", se é que esses rotulos ainda dizem algo...
Em todo caso, o melhor que todos os envolvidos devem fazer daqui pra frente é tentar serenar os animos, evitar que cicatrizes permaneçam sangrando por mais tempo.
Superar o episódio.
Um abraço respeitoso
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