Durante um arranca-rabo entre os dois principais jornais paulistas na década de 1960, O Estado de S. Paulo, em editorial, acusou os proprietários da Folha de S. Paulo de serem meros comerciantes.
Estes responderam, também em editorial, que o eram, sim, e com muita honra.
Bem, os comerciantes da Folha estão negociando tudo, até a capa do seu produto, conforme constata, entre indignado e sarcástico, o grande Alberto Dines, neste artigo imperdível para o Observatório da Imprensa, que reproduzo na íntegra:
"FOLHA SHIT", A INVENÇÃO GENIAL
Front page (em inglês), la une (francês), primera plana (espanhol), primeira ou capa (português) designam o espaço mais nobre de um jornal. Proscênio, altar, janela, fisionomia, marca de identidade, mesmo na imprensa popular a primeira página sempre foi envolvida por uma aura de respeitabilidade.
Neste reino da avacalhação, na última década as primeiras páginas começaram a ser sistematicamente desmoralizadas num conluio entre agências de publicidade desejosas de exibir sua pseudo-ousadia e departamentos comerciais interessados apenas em atender as metas de faturamento e ganhar o seu bônus.
O vale-tudo começou paradoxalmente na chamada grande imprensa reunida sob a égide e as benções da Associação Nacional de Jornais (ANJ). A prostituição do lugar de honra dos jornais foi primeiro experimentada na Paulicéia Desvairada, depois se estendeu ao resto do país. Inicialmente sob a forma de sobrecapas publicitárias ocupando metade das primeiras páginas e, depois, diante da ausência de protestos, a ocupação passou a ser integral.
Ajuda extraordinária
Fundadores de jornais-monumentos certamente reviravam-se em suas veneráveis tumbas quando debaixo de cabeçalhos que ajudaram a glorificar penduravam-se ofertas de liquidificadores, linguiças e nabos. Virgindade perdida, na fase seguinte foi fácil aos fabulosos criativos das agências sugerir brincadeiras com capas ditas “promocionais” ou disfarçadas de “informes publicitários”, conspurcando não apenas o veículo, mas a sua relação com os leitores.
Na segunda-feira (20/6), a Folha de S.Paulo vendeu-se a uma franquia de cursos de inglês chamada Red Baloon. Inventou uma capa inteiramente escrita em inglês com o mesmo design e teor da capa verdadeira. Genial?
Na segunda-feira (20/6), a Folha de S.Paulo vendeu-se a uma franquia de cursos de inglês chamada Red Baloon. Inventou uma capa inteiramente escrita em inglês com o mesmo design e teor da capa verdadeira. Genial?
Estúpido! Inglês macarrônico, capenga, burlesco, traduzido ao pé da letra, incompreensível para anglo-saxões porque os pobres tradutores foram obrigados a manter o tamanho dos títulos e a própria organização das frases em português.
Com a inestimável ajuda da Red Baloon, a Folha criou na última segunda-feira do outono uma caricatura idiomática chamada Portinglês e uma nova retranca – a “Folha-shit”.
3 comentários:
Fiquei curioso! Onde encontro essa capa na rede?
É algo na linha daquelas capas falsas, cabides de anúncios, que vêm com o próprio jornal. Eu, pelo menos, jogo esse lixo e demais informes publicitários no primeiro cesto que encontro.
A novidade é terem, desta vez, vertido as manchetes para o inglês -- macarronicamente, diz o Dines.
Ignoro onde você possa encontrar um exemplar.
Abs.
Agradeço a resposta. Mas acabei encontrando a referida capa na rede. Nojenta, para dizer o mínimo! Claro que a Folha supõe que os "ledores" de suas páginas (porque leitores não são!) são proficientes em inglês. Engraçado isso! Que eu saiba, "ledor" da Folha tem cultura de almanaque. E se eu tivesse um filho na tal escola de inglês que fez a capa, o retiraria de lá imediatamente! Haja paciência chinesa com esse PIG!
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