O debate da Globo começou como a quintessência do tédio: o primeiro bloco (e o terceiro também), por causa dos temas obrigatórios sorteados, só serviu para sabermos quem consegue levar a cola dos marqueteiros na cabeça e quem precisa do papel.
Plínio de Arruda Sampaio consultou abertamente os apontamentos e até embananou-se com eles. Marina Silva olhava-os de soslaio.
Dilma Rousseff e José Serra não passaram recibo, mas o que falavam era tão pacote pronto que dava no mesmo.
Dilma Rousseff e José Serra não passaram recibo, mas o que falavam era tão pacote pronto que dava no mesmo.
As lastimáveis regrinhas engessadoras mataram os três primeiros blocos. Só no quarto é que vimos algo remotamente assemelhado a um verdadeiro debate político.
Dos candidatos do sistema, Marina foi a mais vibrante e carismática. Deve ter conquistado votos, por entoar ladainha não muito diferente da dos outros dois, mas fazê-lo com muito mais paixão. O messianismo é próprio dos religiosos.
Serra, com seu insuportável estilo de mestre-escola, foi até o fim errando: quer projetar a imagem de bom administrador, mas o povo está satisfeito com a administração lulista e não vê motivos para mudar.
Também até o fim foi Dilma a reboque das realizações do Governo Lula -- o que, no caso dela, é, pelo menos, estratégia vencedora.
Nem de longe convence o eleitorado de que possa vir a ser formuladora de políticas. Projeta-se como mera continuadora de políticas bem avaliadas.
Só um fato novo e de enorme impacto poderia lhe roubar a Presidência.
Que virá no 1º ou no 2º turno, mas virá: nada indica que vá surgir algum cataclisma ou que o PIG consiga produzir um. Ela pode ir encomendando a faixa presidencial.
No entanto, o Plínio -- que cresceu muito ao longo do debate -- conseguiu marcar bem a distância entre Dilma e as posturas da esquerda.
Temendo fornecer munição às campanhas alarmistas/difamatórias da direita, ela deu resposta tecnocrática a uma pergunta política: negou-se a endossar propostas práticas que equivaliam a uma reafirmação dos valores com que iniciou sua jornada.
A Dilma de 2010, decididamente, não é a de 1968 -- para o melhor (em termos de política oficial) e para o pior (em termos de política revolucionária).
Passará o mandato inteiro contemplando os interesses dos banqueiros e dos grandes capitalistas, para que não conspirem contra ela? Adotando políticas cautelosas, para que os inimigos não tenham o que lhe recriminar? Recuando diante das pressões conservadoras e/ou reacionárias, como fez Lula no caso da punição dos torturadores, do aborto, da taxação das grandes fortunas e do controle social da mídia?
Correndo sozinho na faixa anticapitalista, já que a Globo achou pretexto para deixar fora Ivan Pinheiro, Rui Pimenta e Zé Maria, o velho guerreiro Plínio conseguiu ser emocionante em vários momentos, defendendo prioridades diferentes para a sociedade e não mudanças cosméticas na sociedade injusta, desumana e autodestrutiva que o capitalismo nos impõe.
Fiel aos ideais de uma vida inteira, esperançoso no futuro embora octogenário, falando aos jovens porque são eles que podem mudar o mundo, Plínio conferiu dignidade a uma campanha que se prenunciava tão árida e desalentadora como uma terra arrasada.
Sai como grande -- quiçá único -- vitorioso, pouco importando se terá 2% ou 1% dos votos.
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