...é o título de um livro escrito em 1960 por Jean-Paul Sartre, que li quando começava a me direcionar para a política revolucionária. Fez-me admirar muito a ilha.
O filósofo existencialista francês se referia, claro, ao furacão que varrera Cuba no ano anterior, quando os guerrilheiros de Fidel e Che derrubaram o governo despótico e corrupto de Fulgêncio Batista.
Cinco décadas depois, um novo furacão está se desencadeando sobre Cuba, segundo notícia da Folha.com:
"Cuba anunciou nesta segunda-feira que vai cortar ao menos meio milhão de funcionários públicos até o começo do ano que vem, e reduzir as restrições a empreendimentos privados para ajudá-los a encontrar novos empregos. É a medida mais dramática já anunciada no governo de Raúl Castro para atenuar a grave situação econômica que enfrenta a ilha".
Bota dramáticidade nisso. Sendo a força de trabalho cubana de 5,1 milhões de cidadãos, 4,2 milhões dos quais a serviço do Estado, significa que quase 10% dos trabalhadores e 12% dos funcionários do setor estatal serão atingidos pelo passaralho "até o primeiro trimestre de 2011".
O comunicado do sindicato oficial, a Central de Trabalhadores de Cuba, é taxativo:
"Nosso Estado não pode e não deve continuar apoiando negócios, entidades produtivas e serviços com folhas de pagamentos inflacionadas, e perdas que prejudicam nossa economia são, em última instância, contraprodutivas, criando hábitos ruins e distorcendo a conduta do trabalhador".
Qualquer semelhança com a retórica adotada pelos países capitalistas nos funestos tempos de Reagan e Thatcher não é mera coincidência. Os poderosos sempre apresentam como necessárias e salutares as medidas que infelicitam os coitadezas.
Os quais são mais coitadezas ainda quando não têm sequer um sindicato que os defenda da guilhotina, digo, do enxugamento de quadros (ah, os eufemismos!).
Os quais são mais coitadezas ainda quando não têm sequer um sindicato que os defenda da guilhotina, digo, do enxugamento de quadros (ah, os eufemismos!).
E, para quem ficou surpreso com a recente alusão de Fidel Castro à ineficiência do modelo econômico cubano, vale lembrar que já a reconhecera em discurso proferido na Páscoa, quando sugeriu que fossem demitidos até 1 milhão de trabalhadores. Raul deixou pela metade.
Não vou repetir a argumentação do meu artigo A frase de Fidel e o besteirol do PIG. Apenas destacar que ficou novamente comprovada a impossibilidade de se construir o socialismo em países isolados, atrasados e asfixiados pelos inimigos. c.q.d.
Triste sina, a de nações como Cuba. Sob o capitalismo, relegavam-na a cassino, cabaré e bordel de luxo para ricaços estrangeiros.
Depois da revolução, confinada como pestilenta pelo embargo estadunidense, não conseguiu construir uma economia próspera. E ainda serve como espantalho para a propaganda burguesa: "Vejam como o comunismo empobrece um país!"...
Triste sina, a de nações como Cuba. Sob o capitalismo, relegavam-na a cassino, cabaré e bordel de luxo para ricaços estrangeiros.
Depois da revolução, confinada como pestilenta pelo embargo estadunidense, não conseguiu construir uma economia próspera. E ainda serve como espantalho para a propaganda burguesa: "Vejam como o comunismo empobrece um país!"...
Certo está Hugo Chávez: precisamos reerguer o movimento revolucionário em escala planetária -- não necessariamente por meio da 5ª Internacional que ele está lançando.
Mas, o caminho é esse mesmo.
4 comentários:
Acho que faltou uma coisa neste processo das demisões:
Antes de jogar 20% dos trabalhadores no mercado,deveria criar instituições ou pelo menos incentivar que esse propios trabalhadores criem redes de solidariedade.
Usando as palavras do Isa Conde,num dos ultimos artigos dele no DL:
"A opção desejável do ponto de vista revolucionário, a que resta por tratar, é a socialização progressiva do estatal, através da autogestión e cogestión dos trabalhadores, através da cooperativização e/ou colectivização das pequenas e médias empresas productivas e de serviços, da combinação de variadas formas de propriedade e gestão social, e de diversas formas de usufructo social da propriedade pública e da conversión progressiva da economia de mercado em economia de equivalencia (na que reja o valor das mercadorias e não seus preços)"...
Ou seja, o que deve ser feita em Cuba é investir pesado em economia solidária dando poder de autogestão para os sindicatos e para as recem coperativas criadas por exemplo.Sendo que o estado deve dar incentivos e regularização mas quem deve executar isso será os propios trabalhadores.
Jogar 500 mil pessoas para fora do estado num modelo que está tendo forte influência de ir para o mercado,pode ser um armadilha.Em nota o sindicato cubano disse que o probelma é falta de produtividade e não cresicmento da economia cubana.Ou seja tem muita gente indefeciente no estado ,o que deixa os salários baixos.Concordo com isso,porém tem quefazer alguma coisa parecida como eu escrevi(do ISA) para as coisas não encaminharem para o capitalismo por si sós.Tem que preocupar-se com o parecimetno das desiguldades socio-economicas por exemplo...
As demissões dos países capitalistas o que tem a com a do sistema cubano?Não ententi as ironias.Por a caso teria outra medida?Qual?
A ironia se deve à adoção da mesmíssima retórica falaciosa nos dois casos, tentando vender como positivas medidas que causarão penúria e aflições terríveis aos humildes.
Eu esperava que um regime como o cubano fosse mais sincero, reconhecendo que as demissões serão cruéis e têm como única justificava a falta de alternativa.
Postar um comentário