Perfume de Mulher (1974), do grande Dino Risi, é uma obra-prima do cinema italiano. Memorável. Inesquecível.
Como Hollywood há muito não produz enredos remotamente comparáveis aos europeus, em desespero de causa, apropria-se deles para fazer remakes... sofríveis.
Então, quando saiu a bobagem estadunidense, em 1992, nem me dei ao trabalho de assistir.
Pois não é por acaso que Martin Brest dirigiu apenas oito filmes em quase três décadas de carreira: não passa de um artesão, mediano como centenas de outros. Nunca esperem um lampejo de gênio em suas fitas, pois seria como tirar leite de pedra.
E Al Pacino, mesmo sendo um dos poucos atores de verdade dos EUA, jamais deveria expor-se a uma comparação com Vittorio Gassman.
Já que estamos falando de cinema, vale lembrar um bordão do Dirty Harry/Clint Eastwood: "Um homem deve conhecer suas limitações".
No final de clássico de Risi, há um dos maiores tours-de-forces interpretativos que já tive a felicidade de ver.
O capitão reformado que adota a agressividade e a vulgaridade como defesas, falha em cumprir um pacto de suicídio com um velho amigo.
Fragilizado por constatar que não estava, afinal, à altura do esteótipo machista que projetava, acaba desabando nos braços da moça que o amava e ele sempre rejeitara (a realmente bela Agostina Belli).
A forma como Gassman conseguiu expressar fisionicamente a queda da máscara do capitão é de arrepiar. Dificlmente uma dor e perplexidade encenadas parecem tão reais, tocam tão fundo nossos próprios sentimentos.
Hoje, por acaso, encontrei a contrafação sendo exibida num canal por assinatura, já no trecho derradeiro.
E não é que, além de copiarem mediocrimente uma obra muito acima de sua capacidade artística, ainda ousaram modificar o final, para oferecerem a suas imaturas platéias um convencional happy end?!
Em vez do militar libertando-se sofridamente das sequelas psicológicas da cegueira, o que vemos é ele brilhando num conselho disciplinar de colégio, ao salvar de uma punição o jovem que lhe serve de guia.
Os ingleses, decididamente, não cumpriram sua missão civilizatória no Novo Mundo...
P.S.: como não sei se terei ensejo de voltar a este assunto, deixo registrado que heresia comparável os estadunidenses cometeram com uma de suas próprias -- e raras -- culminâncias, Desafio à Corrupção (d. Robert Rossen, 1961). Perpetraram uma sequência indefensável, A Cor do Dinheiro (d. Martin Scorcese, 1986), que é, praticamente, uma negação da jornada libertadora do personagem Eddie Felsen (Paul Newman) e sua ruptura com o submundo da jogatina e da ganância. O Felsen do início do 2º filme nada tem a ver com o que acabou o 1º. Ninguém regride tanto.
Um comentário:
Celso, obrigado por mais uma dica de filme. Já vou procurar o original italiano, claro.
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