quarta-feira, 9 de junho de 2010

O QUE É QUE O SARNEY TEM, QUE O LUXEMBURGO NÃO TEM?

Depois de encerrar seu mandato presidencial como recordista brasileiro de inflação, com a imbatível marca de 84% ao MÊS, José Sarney avaliou em 1990 que não conseguiria eleger-se senador nem mesmo pelo Maranhão (onde sempre havia residido e fizera toda sua carreira política), tal a rejeição popular que seu patético governo lhe granjeara.
Então, presto! Em passe de mágica no melhor estilo dos mafuás, transferiu seu domicílio eleitoral para o Amapá, que acabava de ser promovido de território a estado.

Todo mundo fechou os olhos, ele foi vitorioso contra ninguém e continua no Senado até hoje, depois de sobreviver ao Sarneygate, uma avalanche de denúncias irrefutáveis que deveria ter determinado não só o afastamento da presidência da casa, como a cassação do seu mandato.


É o último coronelão da política brasileira, perpetuando a estirpe de Antônio Carlos Magalhães.


O técnico Vanderlei Luxemburgo, atualmente comandando o Atlético Mineiro (que está na zona de rebaixamento do Brasileirão), gostou do pulo do gato de Sarney e resolveu imitá-lo.

Face à extrema facilidade com que seu modelo inspirador logrou o intento, Luxa não prestou atenção nos detalhes, como o de dar a mínima verossimilhança à balela de estar residindo onde não morava.

Resultado: a Justiça Eleitoral do Tocantins, acatando nesta 3ª feira (08/06) pedido do Ministério Público Eleitoral, abriu processo criminal contra Luxemburgo, por "inscrição fraudulenta de eleitor".


Pretendendo disputar uma vaga de senador por Tocantins, ele utilizou como prova de residência em Palmas um contrato de aluguel de um apartamento e de um terreno, SEM DATA NEM ASSINATURA...


A Justiça Eleitoral não só negou em dezembro último o pedido de transferência do domicílio eleitoral de Luxemburgo, como agora o está processando pela fraude flagrada.


Mas, propôs a suspensão condicional do processo por três anos, caso o treinador concorde em apresentar-se a ela todo mês. Depois que Luxa tiver batido ponto em Tocantins por 36 meses consecutivos, o processo será arquivado.


Não se sabe ainda se aceitará a magnanimidade do juiz ou vai se arriscar à prisão.


Esta declaração que ele deu já seria suficiente para o condenar: "O mundo está globalizado, qual é o problema?".

Subsistirá, de qualquer maneira, a impressão de que um e outro caso só se diferenciam em termos de modus operandi para burlar a Justiça: a falsa residência de Sarney não deu tanto na vista quanto a de Luxemburgo.

A própria legislação eleitoral é ridícula, ao estabelecer como única exigência para a transferência de domicílio eleitoral a comprovação de que o eleitor reside no novo lar há três meses.

Mesmo que um cidadão cumpra honestamente tal exigência, o subterfúgio de escolher um colégio eleitoral mais fácil para eleger-se é imoral e conflita com o espírito da Justiça.

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