quinta-feira, 1 de abril de 2010

UMA LIÇÃO DE DEMOCRACIA PARA OS TUCANOS E OS JORNALÕES

Assuntos de maior relevância para mim, como o aniversário da quartelada de 1964 e o pedido de ajuda que recebi de companheiros empenhados em evitar que o assassinato da argentina Silvia Suppo ficasse impune, foram passando na frente de um que estava na minha alça de mira: contestar os editoriais da grande imprensa a respeito da greve dos professores da rede estadual de São Paulo.
Para jornalões e revistonas, a admissão por parte da presidente da entidade de classe de que a greve era política (mas "não partidária", ela ressalvou) foi o suficiente para impugnarem-na como um excesso inadmissível numa democracia, um ultraje, uma excrescência. Eu tinha muito a argumentar a esse respeito.

Mas, segundo um velho chavão, quem dorme no ponto é chofer. E o veterano colunista Jânio de Freitas antecipou-se, com seu texto perfeito desta 5ª feira (1º): A greve da hora.

Humildemente, admito que não conseguiria fazer melhor, depois de ele já ter dito tudo que eu pretendia dizer.

Então, só me resta bater palmas e reproduzir, endossando-o na íntegra:
"A IDEIA DO PSDB de buscar uma punição judicial para o sindicato dos professores oficiais de São Paulo, por considerar que a greve da classe tem propósitos eleitorais, é uma mau começo de campanha para José Serra e os candidatos peessedebistas em geral, no Estado.

"Não é preciso, nem seria sensato, duvidar do componente eleitoral da greve. Por ao menos dois bons motivos, melhor caberia louvar a ocorrência de uma greve também política.

"É legítimo, e da própria definição de sindicato, que participe da vida política com a posição mais conveniente à classe. Inclusive com greves, cuja base legal ou ilegal só à Justiça, e jamais a governos e à polícia, cabe proclamar. O histórico reacionarismo brasileiro foi que propagou a ideia de que sindicatos e congêneres só podem promover ações sem mais pretensão ou conotação do que reivindicações profissionais específicas. E, ainda assim, bastante estritas e sob legislação muito restritiva.

"O outro motivo para ver a greve sem olhos injetados é o fato mesmo, só ele, de ser uma greve lançada por associação de classe. Se tem componente político e eleitoral, não foi dele e por ele que nasceu. Foi (...) do fato de que, desde 2005, os professores paulistas receberam apenas 5% de aumento salarial, contra uma inflação de 22% no período.

"Não fosse esse tratamento iníquo ou, mesmo com ele, não coincidisse o acúmulo de iniquidade com a fase já eleitoral, o governo Serra e o PSDB em geral não teriam por que falar em greve política e eleitoreira. No final, importa muito mais é que uma associação de classe se mostre viva, quando todas as associações devedoras da ação política própria da democracia parecem, há tanto tempo, sugadas de toda a sua vitalidade.

"Impedir sindicatos e congêneres de se manifestar politicamente seria trazer de volta um pedaço de ditadura."

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