"É canja, é canja, é canja de galinha, arranja outro time pra jogar com nossa linha!"
Quando eu tinha uns cinco anos, era assim a comemoração da vitória nas peladas que jogávamos em plena rua ou num terreno baldio da Mooca, SP.
Os dois grupos eram escolhidos pelos capitães (os meninos mais velhos), tentando-se equiparar, tanto quanto possível, as forças.
Ou seja, de racha em racha a escalação era diferente. Cada um de nós acabava, ao longo dos dias, desfrutando triunfos e amargando derrotas na mesma proporção.
Mesmo assim, humilhar os perdedores daquela manhã ou daquela tarde era um ritual, pouco importando que entre eles estivesse o melhor amigo.
Foi do que me lembrei ao ler que petistas da internet estão linchando moralmente a jornalista e subprefeita (da Lapa) Soninha Francine, verdadeiramente porque seu partido, o PPS, agora pertence ao "outro time"; e alegadamente, porque posou seminua para a revista Playboy.
Não tenho simpatia nem antipatia pela Soninha. É-me indiferente. Entro neste assunto unicamente porque há comportamentos a respeito dos quais um revolucionário não se pode omitir.
Eu a conheci como integrante do time da estrela em 2006, quando ela foi mestre de cerimônias da prévia da candidatura de Eduardo Suplicy à reeleição, no Teatro Oficina (à qual compareci a convite do senador e por respeitá-lo pessoalmente). Insossa, ela não cheirou nem fedeu.
Antes, quando o mundo desabava sobre a Soninha por haver admitido que fumara maconha, eu nem sabia de quem se tratava.
Daquela vez, como jogava com a camiseta da estrela, foi bem defendida.
Desta vez, como está entre os reservas dos tucanos, são exatamente os antigos defensores que atiram a primeira pedra contra ela... e muitas mais.
Dia Internacional da Mulher é uma boa data para se reiterar que as mulheres têm todo direito de posarem nuas ou vestidas, como bem lhes aprouver; que recriminá-las pela exposição da nudez é moralismo dos mais rançosos e odiosos; e que (no caso dos homens) criticá-las por não corresponderem ou terem deixado de corresponder a determinado padrão de beleza constitui absoluta falta de cavalheirismo... cafajestice, enfim.
Quanto ao maniqueísmo da política partidária -- "quem não está comigo, está contra mim" --, é próprio de crianças e de adultos infantilizados.
As primeiras têm a atenuante da inocência.
Os outros, por fanatismo ou interesse, regridem até a horda primordial. Se ousassem utilizar porretes de verdade, detonariam a cabeça dos inimigos; como lhes falta coragem para tanto, brandem os porretes retóricos.
Já que comecei com uma lembrança, vou encerrar com outra, a de Caetano Veloso discursando em 1968 no Tuca contra aqueles que, com suas vaias, implicitamente defendiam o direito de proibir, sem perceberem que igualavam-se à própria ditadura militar e ao CCC:
Quando eu tinha uns cinco anos, era assim a comemoração da vitória nas peladas que jogávamos em plena rua ou num terreno baldio da Mooca, SP.
Os dois grupos eram escolhidos pelos capitães (os meninos mais velhos), tentando-se equiparar, tanto quanto possível, as forças.
Ou seja, de racha em racha a escalação era diferente. Cada um de nós acabava, ao longo dos dias, desfrutando triunfos e amargando derrotas na mesma proporção.
Mesmo assim, humilhar os perdedores daquela manhã ou daquela tarde era um ritual, pouco importando que entre eles estivesse o melhor amigo.
Foi do que me lembrei ao ler que petistas da internet estão linchando moralmente a jornalista e subprefeita (da Lapa) Soninha Francine, verdadeiramente porque seu partido, o PPS, agora pertence ao "outro time"; e alegadamente, porque posou seminua para a revista Playboy.
Não tenho simpatia nem antipatia pela Soninha. É-me indiferente. Entro neste assunto unicamente porque há comportamentos a respeito dos quais um revolucionário não se pode omitir.
Eu a conheci como integrante do time da estrela em 2006, quando ela foi mestre de cerimônias da prévia da candidatura de Eduardo Suplicy à reeleição, no Teatro Oficina (à qual compareci a convite do senador e por respeitá-lo pessoalmente). Insossa, ela não cheirou nem fedeu.
Antes, quando o mundo desabava sobre a Soninha por haver admitido que fumara maconha, eu nem sabia de quem se tratava.
Daquela vez, como jogava com a camiseta da estrela, foi bem defendida.
Desta vez, como está entre os reservas dos tucanos, são exatamente os antigos defensores que atiram a primeira pedra contra ela... e muitas mais.
Dia Internacional da Mulher é uma boa data para se reiterar que as mulheres têm todo direito de posarem nuas ou vestidas, como bem lhes aprouver; que recriminá-las pela exposição da nudez é moralismo dos mais rançosos e odiosos; e que (no caso dos homens) criticá-las por não corresponderem ou terem deixado de corresponder a determinado padrão de beleza constitui absoluta falta de cavalheirismo... cafajestice, enfim.
Quanto ao maniqueísmo da política partidária -- "quem não está comigo, está contra mim" --, é próprio de crianças e de adultos infantilizados.
As primeiras têm a atenuante da inocência.
Os outros, por fanatismo ou interesse, regridem até a horda primordial. Se ousassem utilizar porretes de verdade, detonariam a cabeça dos inimigos; como lhes falta coragem para tanto, brandem os porretes retóricos.
Já que comecei com uma lembrança, vou encerrar com outra, a de Caetano Veloso discursando em 1968 no Tuca contra aqueles que, com suas vaias, implicitamente defendiam o direito de proibir, sem perceberem que igualavam-se à própria ditadura militar e ao CCC:
- Mas é isso que é a juventude que diz que quer tomar o poder? (...) São a mesma juventude que vai sempre, sempre, matar amanhã o velhote inimigo que morreu ontem! (...) Vocês são iguais sabe a quem? (...) Àqueles que foram ao 'Roda Viva' e espancaram os atores. Vocês não diferem em nada deles.
5 comentários:
Somente discordo de uma coisa, pequenina porém: todos tem o direito a critica, a manifestar opinião ponto. Daí em diante é que existe o problema: "quando estamos com raiva, temos todo direito de estar, o que não temos o direito é de sermos cruéis", já dizia o bardo inglês (há controvérsias sobre isso, mas deixa prá lá).
Posso discordar de você em diversos artigos, mas jamais poderemos lhe negar uma coisa, Celso: sua coerência com seus ideais! Essa crueldade contra a Soninha é como você definiu nos seus tempos de menino (sou mais novo que você, mas também comemoravamos assim, lá pelo fim dos 60, início dos 70): birra por essa incoerência, ou traição no entender de seus antigos companheiros. Não sou paulista, tenho pouco conhecimento sobre essa menina, a não ser o mesmo que você em relação a história da maconha.
Não concordo com nenhum linchamento moral, agora, quanto ao linchamento intelectual, não tenho argumentos contra. Todos possuem o divino direito de mudar, isso é certo, mas mudar renegando tudo pelo que muitos lutaram e morreram... Utilizar uma bandeira apenas para fins pessoais é que, presumo, seja o motivo desse linchamento virtual.
Haroldo,
é por aí mesmo.
Se tivessem acusado a Soninha de oportunismo político, eu não diria uma única palavra contra, nem a favor. Não me vejo como juíz dos comportamentos alheios.
Mas, o chocante é terem partido para um moralismo de ocasião e, ainda por cima, haverem feito referências extremamente deselegantes à anatomia dela. Querem o quê, induzi-la ao suicídio?
Que eu saiba, a Soninha é só uma adversária política do PT, não uma inimiga da revolução brasileira.
Não se trata de um Reinaldo Azevedo ou um Boris Casoy de saias. Nem de longe merece um tratamento tão humilhante e insultuoso.
Abs.
É triste saber da reação de quem esperávamos não fossem justamente reacionários...
Admiro muito a Soninha porque sempre teve a coragem de defender o que acredita ser necessário, mesmo sabendo da impopularidade de suas idéias; porque não está preocupada apenas com o que dá voto. E posso dizer que já está acostumada a ser bombardeada: na câmera diziam que não sabia ser vereadora porque se recusava a fazer acordo e quando disse aos jornais que era contra esses acordos (em troca de votos, cargos e até dinheiro foi acusada de só dizer isso no último ano de mandato, sendo que desde o primeiro expressava sua decepção em diversos materiais, para os quais apenas não se havia dado atenção antes de ser candidata a prefeita.
O simples fato de provocar o debate já é muito. Isso tudo me lembrou a história da mini-saia da Uniban: achei bom por ter colocado a questão em debate e até eu que evito seguir padrões me dei conta da quantidade de roupas que não tinha coragem de usar na rua por saber que a sociedade sutilmente - ou não - me repreenderia, me aperceber disso fez com que enfrentasse esse receio e passasse a utilizar meus vestidos e mini-saias - que nem são tão "minis" assim - não só dentro de casa como até então.
Voltando a Soninha... muitas pessoas não entendem porque ela faz questão de disputar o executivo sabendo que as chances de ganhar são mínimas, um dos motivos é esse: poder influenciar o debate.
Não quero aqui fazer uma defesa apaixonada, mas por estar muito perto normalmente me isento, e acho que o faço demais, se não trabalhasse com ela nunca deixaria de comentar algo assim. Então, assim como ela o faria e o faz, tá dito! :)
Não concordo com nada do que a Soninha fez ultimamente no campo político e pode até ser que ela topou essa parada pra ganhar visibilidade e tal. Mas isso é problema dela.
Repito que não gosto do que passa na cabeça dela em termos políticos. Mas é bobagem ficar malhando a garota na internet. E ela é uma mulher bonita.
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