Tudo que havia para se fazer, fizemos.
O empenho, a entrega, o entusiasmo... magníficos! Como nos velhos tempos.
Dignos senadores fazendo panfletagem no Supremo, tal qual eu fazia no comecinho da jornada. Cercando ministros e lhes entregando um último memorial do Carlos Lungarzo, repleto de argumentos decisivos.
Mas que, para sê-lo, dependerão da honestidade e do espírito de justiça dos togados. Eles os terão?
Lá fora, uma animada moçada do Ceará se preparando para a vigília a uns 300 metros do STF. Penduram suas faixas, cantam, agitam-se, brincam para esquecer o medo.
O calor do idealismo espantando o frio da noite.
Será suficiente para espantar a frieza nos corações dos que julgam?
Estive frente a frente com alguns deles.
Marco Aurélio, tão irônico no papo informal como nas sessões formais. Grande figura. Provavelmente, o mais capaz dos ministros.
Ayres, afável incógnita.
Toffoli, pouco à vontade no novo papel. Pisando em ovos. Pressionado pelos dois lados.
Peluso, quem sentiu-se pior no aperto de mãos, ele ou eu? Não meço sacrifícios em nome da solidariedade revolucionária...
O Gilmar Mendes foi abordado antes de nossa chegada. Eu e o Lungarzo não ficamos cara a cara com ele.
Fui poupado de um teste dificílimo para meu autocontrole.
O certo é que Mendes me inspira os piores sentimentos -- não só como magistrado, mas também como pessoa.
Não fosse quem é, ainda assim antipatizaria com ele à primeira vista. Pois todo o seu ser expressa fielmente o que é.
Lungarzo, o homem do momento. Com os documentos certos para estabelecer o que todos já sabíamos, mas não tinhamos como provar.
Entrou quase desconhecido, sairá desta luta como o novo titã da esquerda.
Precisamos de muitos mais como ele.
Mas, os pensamentos podem dar voltas e mais voltas, no entanto sempre retornam ao ponto de partida: que longa noite pela frente!
E agora, José, quando os dados já foram lançados, mas o resultado não se conhece?
Os ponteiros que não parecem se mover.
Quanta ansiedade, quanta expectativa.
E o Cesare, com um pé na liberdade e outro no limbo!
A noite será mais longa ainda para ele - se isto for possível. Deve ser.
Lembro-me que, certa manhã no DOI-Codi/SP, mandaram-me fazer a trouxa e esperar no pátio, que as portas do inferno se abririam para minha saída.
Nunca minutos me pareceram, tanto quanto então, horas. E as horas, dias.
Passou a hora do almoço, e nada! Nem se lembraram de me dar algum bandeijão, já que estava no bota-fora.
A ordem chegou só no fim da tarde, quando eu já desanimava.
E, mesmo indo para um destino nebuloso, destruídos todos os meus sonhos e afastada a hipótese de revolução por décadas, ainda assim não cabiam em mim de contente.
Só pássaro cativo sabe dar valor à liberdade.
Voltando a Cesare: há muito mais em jogo do que o destino de um homem. Bê-a-bá.
Mas, o homem também me preocupa - e muito!
Por estar sofrendo injustiças que ninguém merece.
Porque lhe roubaram anos criativos, e não tem tantos assim pela frente.
Porque passou uma eternidade sem ver suas filhas... e eu, há somente dois dias separado da minha, já estou morrendo de saudades.
Pelo que vi em seu olho e me fez sentir tão mal: a dor que sei dimensionar, mas ninguém é capaz de, verdadeiramente, compartilhar. Está além da imaginação. Sofre-se... ou não.
Porque, enfim, é um bom homem, preso numa teia kafkiana.
Ora dizendo que o perseguem para criminalizar o pós-68, ora perguntando, desesperado, "por que eu?".
Impossível não lembrar da outra indagação desesperada, "Pai, por que me abandonaste?".
Mas, a via crucis há de terminar amanhã.
Com nossa maior vitória em muitos anos.
Com a constatação de que podemos, sim, vencer a mídia burguesa contando apenas com a internet - um passo gigantesco!
Com o encontro de gerações onde devem encontrar-se, na luta, que é onde os revolucionários se conhecem.
Eu, quase sexagenário. Lungarzo, que já o é. Descobrindo que os jovens finalmente se dispõem a empunhar nossas bandeiras.
E os jovens descobrindo que não estão inventando a revolução, mas sendo os continuadores de uma nobre tradição, encarnada nos sobreviventes (físicos e morais) que vieram ajudá-los a encontrar seus caminhos.
Que os deuses nos dêem o triunfo que barrará o inimigo, detendo sua escalada infame e detonando seus planos bem urdidos.
Que Battisti, cansado de guerra, encontre finalmente o repouso do guerreiro.
Que a esquerda, qual fênix, renasça de novo das cinzas, para tentar outra, outra e mais uma vez.
Pois, como disse o Raulzito, "basta ser sincero e desejar profundo, você será capaz de sacudir o mundo".
Estamos tentando. Por Cesare, por todos nós, por tudo isso.
4 comentários:
Celso,
A mídía burguesa esta dizendo que o Mendes vai votar. È verdade? E o Toffoli, o cara não teve culhão para votar?
Jesus!
Adriano
Já vi, o cara cedeu.
Então, considerando o facismo de Gilmar, precisamos concentrar nossas forças em novos objetivos para evitar a extradição.
O voto de minerva de Gilmar, que a exemplo do que ocorre em processo de habeus corpus, que guarda total similitude com o caso de Cesare, não deveria ser proferido, uma vez que deve em tais casos prevalecer o príncípio segundo o qual, o empate favorece a libertação do preso.
Assim, a irregularidade deste voto, dá a tônica necessária para desencadear uma campanha sobre o governo federal para que não autorize a extradição.
Quem sabe, Ayres, ainda não mude de opinião, ante de Gilmar, o monstro, votar.
Adriano Espíndola
Ayres não está com nenhum ar de que possa mudar voto. Está sempre defendendo as teses conservadoras nesse pleito.
A questão é conseguir tirar Battisti da prisão e que o Executivo não o extradite.
Celso,
Republique em seu blog, se julgar conveniente, a postagem que fiz no meu.
É uma irônica resposta a covardia de Totoli, no caso Cesare.
Veja em
http://defesadotrabalhador.blogspot.com/2009/11/caso-cesare-battisti-carta-aberta.html
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