domingo, 30 de agosto de 2009

VERDE QUE TE QUIERO VERDE

Marina Silva ingressa hoje no Partido Verde, em ato que é o ponto de partida de sua campanha presidencial.

O sempre maquiavélico Zé Dirceu lhe prestou as maiores homenagens, colocando, entretanto, sob total suspeição o PV, por ele acusado de aliar-se a forças conservadoras e reacionárias, conforme as conveniências eleitorais em cada Estado e município.

Ou seja, mirou um possível calcanhar-de-aquiles de Marina, pois sabia que um ataque frontal a ela dificilmente surtiria efeito.

Evitou atrair antipatias e plantou uma dúvida na cabeça dos admiradores de Marina. Brilhante, na sua forma de fazer política (que não é e nunca será a minha...).

Mantenho-me fora do tiroteio da política oficial, pois não a considero capaz de abrir caminho para nossa revolução. Só serve para manter o status quo, então só interessa para os que têm objetivos a atingir dentro do status quo. Eu não tenho nenhum.

À Praça dos Três Poderes prefiro aquela outra praça que é do povo, como o céu é do condor, imortalizada por Castro Alves.

Também não possuo informações suficientes para fazer uma avaliação mais consistente sobre o partido.

No entanto, vale a pena contar o motivo da minha saída do PV. Pode servir como um subsídio a mais para as análises que estarão sendo feitas a partir do fato político de hoje.

Quando estava prestes a encerrar-se o prazo para eleitores filiarem-se a partidos, visando adquirirem condições legais para serem candidatos nas eleições de 2006, Jorge Marum, meu amigo e companheiro de lutas em defesa dos direitos humanos, aconselhou-me a entrar no PV, para alguma eventualidade.

Eu não cogitava candidatura nenhuma pra valer, mas até toparia ser anticandidato (ou seja, entrar na disputa apenas para defender idéias, sem nenhuma ilusão quanto a chance de vitória).

Sempre estou atrás de tribunas, de brechas para furar o bloqueio da imprensa burguesa. Mas, a última coisa do mundo que desejo é um mandato.

Aceitei o conselho do Jorge... e esqueci do PV. Não participei de quaisquer iniciativas do partido. E acabei tomando a sábia decisão de me manter a anos-luz de distância das eleições de 2006.

No entanto, postava meus artigos na comunidade do PV no Orkut. E um deles provocou polêmica: aquele enorme em que eu faço um balanço do golpe de 1964 e do período ditatorial. Costumo divulgá-lo, com pequenas mudanças e atualizações, às vésperas de cada aniversário do malfadado 1º de abril.

Naquele março/2007, entretanto, uma fundadora e dirigente do PV em São Paulo, Rose Losacco, implicou com a defesa que fiz do direito de resistência à tirania. Disse que os antigos guerrilheiros estavam todos fazendo autocrítica. Dei-lhe a resposta cabível:
"Eu participei da luta armada e considero nossa opção plenamente justificada nas circunstâncias da época, já que o fechamento de todos os caminhos da luta política, a partir do AI-5, só nos deixava a alternativa de desistirmos da resistência à ditadura ou pegarmos em armas".
Ela contrapôs:
"...isso abre precedente prá que numa situação crítica, novamente o fim justifique os meios. A menos que eu esteja completamente equivocada, o PV defende o pacifismo. (...) Penso que, quando vc se filiou ao PV, deve ter lido o programa e os 12 valores do PV".
Fez questão de colar no post o valor referente ao pacifismo: "O desarmamento planetário e local, a busca da paz e o compromisso com a não violência e a defesa da vida".

Respondi que não, não lera. Mas, tendo ela colocado as coisas nesses termos, só me restava sair tanto do PV quanto da comunidade do partido no Orkut. Foi o que fiz, imediatamente.

Mesmo porque, naquela fase, um partido não me faria tanta falta quanto minha principal linha de argumentação nos frequentes arranca-rabos virtuais com a extrema-direita.

E, francamente, Gandhi só obteve êxito porque enfrentava o relativamente civilizado Império Britânico, que cometia lá suas violências mas relutava em assassinar um adversário de tal estatura moral. Duvido que as bestas-feras da ditadura brasileira fossem tolhidas por tais escrúpulos.

Estou até hoje sem partido, mas com convicções. E mantendo-me intransigentemente fiel a elas.

2 comentários:

marise disse...

ADMIRÁVEL!!!

Cumprimento-o, também por esta matéria!

William Wollinger Brenuvida disse...

Caro amigo,
1. Tá na hora de eu chutar o balde também... já não vejo revolução dentro desse sistema viciado...
2. Parabéns pelo post.
3. Hoje compreendo o que disseste sobre Gandhi. Os caras não seriam estúpidos em derrubá-lo a qualquer custo, mas sutilmente o fizeram (risos)
4. Saudações Fraternas,
William

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