quarta-feira, 27 de agosto de 2008

INVESTIGAÇÃO SOBRE UM CIDADÃO ABAIXO DE TODA E QUALQUER SUSPEITA

Antes que a Operação Satiagraha desabasse como um castelo de cartas, fui alvo de ataques furibundos por parte de muitos autoproclamados esquerdistas, por me posicionar contra as tentativas policialescas de desmoralizar o instituto do habeas corpus.

Expliquei, sem ser ouvido, que para mim contam mais os valores e princípios do que as intrigas entre instâncias do sistema; e que os habeas corpus, às vezes, significam a diferença entre a vida e a morte de um revolucionário, daí sua preservação, para mim, importar muito mais do que os personagens insignificantes desse episódio insignificante.

O desenrolar dos acontecimentos só veio me dar razão.

Primeiramente foi a imagem do juiz De Sanctis que ruiu, ao vir à tona que ele deu aos policiais federais os meios para bisbilhotarem todos os telefones do País; que nenhuma providência tomou para certificar-se de que a PF não estava extrapolando a licença para grampear, embora haja sido alertado pelas operadoras telefônicas de que isto era possível e elas não teriam como impedir; e, finalmente, que ele considera o direito à privacidade justificável apenas em países civilizados, não servindo para proteger a nós outros, bugres.

Depois chegou a vez do delegado Protógenes, cujo relatório foi unanimemente considerado de um primarismo atroz e cuja tentativa de incriminar uma jornalista que só cumpriu seu dever profissional pegou muito mal.

Agora, a respeitada revista Conjur esclarece o porquê do delegado ter aceitado tão facilmente sua destituição do caso, só a questionando depois do fato consumado e, mesmo assim, de forma pouco convincente.

Está na matéria "Papéis trocados: Chicaroni acusa Protógenes Queiroz de pedir propina" ( http://www.conjur.com.br/static/text/69140,1 ), de autoria de Claudio Julio Tognolli.

Eis os principais trechos:

"O novo depoimento prestado pelo empresário e professor universitário Hugo Sérgio Chicaroni, no dia 7 de agosto, muda completamente a versão de um dos casos mais enigmáticos do país. Protógenes, agora, é acusado de ter pedido dinheiro a Chicaroni para retirar Daniel Dantas e sua irmã Verônica da mira da Polícia Federal. Chicaroni disse que é amigo do delegado há pelo menos sete anos.

"Chicaroni afirma que não foi ele quem ofereceu dinheiro a policiais federais. Ao contrário. Ele diz que a soma inicial de R$ 50 mil, para mudar o curso das investigações, foi pedida pelo próprio delegado Protógenes.

“Eles foram comigo até a minha casa numa Mercedes-Benz preta que o delegado Victor Hugo Ferreira dirigia, e eu peguei 50 mil reais que eram do meu cliente [Wilson Mirza, advogado de Dantas] e entreguei para os dois”, diz ele no depoimento obtido pela revista Consultor Jurídico. E mais: “O delegado Protógenes Queiroz disse que o delegado Victor Hugo Ferreira mereceria receber [o dinheiro]”. Isso porque ele teria aceitado conversar com alguém do Opportunity sobre o caso.

"...um policial presente na reunião em que o delegado Protógenes foi afastado do caso (oficialmente para fazer um curso), contou à ConJur parte das conversas travadas a portas fechadas. “Um outro policial federal disse ali ao Protógenes a frase do Capitão Nascimento, do filme Tropa de Elite: “Pede para sair que fica melhor para a imagem da PF, porque você foi chipado (grampeado)”. Esses grampos seriam a prova material da antiga amizade entre caçador e caça."

Concluindo: vale recordar uma lição que minha geração aprendeu na carne, a de que não existe polícia de direita e polícia de esquerda, só existe a polícia, cuja missão principal é defender o status quo (e a secundária, no Brasil, encher os bolsos com a grana da contravenção e o pagamento dos serviços sujos prestados aos poderosos).

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