quarta-feira, 3 de outubro de 2018

"AH, O BRASIL MUDOU! ESSAS MULHERES MORENAS SABEM IMPOR SUAS VOZES CONTRA A AMEAÇA DE UM NOVO OPRESSOR"

rui martins
#elenao #elenao
Sem bola de cristal, não consigo imaginar o que nos trarão as próximas semanas e se a frágil estrutura democrática brasileira vai suportar a ameaça próxima, visível, opressiva e sufocante de um novo período de trevas, perseguições, irracionalidade e falta de liberdade.

Pura paranoia de quem viveu os primeiros anos da ditadura militar e precisou mudar todo o curso de sua vida num exílio que nunca acabou? Espero que seja isso e não uma sensibilidade capaz de sentir os sinais anunciadores do pior.

É muito mais fácil escrever depois, do que antes da tragédia acontecer. E me vem à memória O Conformista, de Bertolucci, na Itália de Mussolini, quando o mal se instala de maneira irremediável.

As sensações boas podem rapidamente se degenerar em lampejos de angústia e medo. E nesse clima de apreensão vou tentar contar meu sentimento de reencontro, meio século depois, com o clamor popular.

No ônibus me levando do interior à capital paulista, não posso me conter e conto aos passageiros próximos a razão de minha viagem – vou representar minha família, minhas filhas e minha esposa na manifestação contra o Coiso, cujas declarações machistas ofenderam as mulheres, além de constituir um perigo para as recentes conquistas brasileiras. Uma senhora reage lamentando não poder ir.

No metrô da linha amarela, rumo ao Largo da Batata, elas constituem a maioria dos passageiros. Na escada rolante que nos leva à saída, não podem se conter e escandeiam — #elenao #elenao

Me lembro das vozes dos jovens há mais de cinquenta anos repetindo o refrão que não conseguia sensibilizar os passantes – O povo, unido, derruba a ditadura! ou Abaixo a ditadura!. Os tempos mudaram, a linguagem se compactou, as mensagens pela Internet se abreviam e os slogans ou palavras-de-ordem se sintetizaram como num tweet#elenao. Ele quem? Quem ouve entende e sabe muito bem de quem se trata.
Ele é o recém-nascido do ovo da serpente. Em alguns meses incorporou a mensagem do ódio subjacente em tantas pessoas aparentemente pacatas, e as conquista com as promessas e o canto da sereia de um retrocesso, de um mundo reacionário, no qual serão punidos os desejos de mais liberdade e igualdade das mulheres, negros, índios, pobres, obrigados a se sujeitar ao seu lugar de submissão dentro da sociedade.

Subo numa mureta, posso ter uma visão de conjunto e num movimento de 360 graus contemplo toda aquela gente reunida.

Mulheres, morenas como é a cor das conquistas sociais dos últimos anos, livres, sem medo de mostrar seus corpos, seus desejos de igualdade com os homens e de fazer parte da nova sociedade em formação, de marcar sua determinação de serem donas de seu corpo, ventre e sexo, sem se submeterem a códigos ultrapassados criados por homens e deuses.

Difícil conter a emoção. Muita coisa mudou nesse meio século, difícil de digerir pela classe média, que não consegue se desligar da sua anacrônica trilogia de Deus, pátria e família.

Ah, o Brasil mudou! essas mulheres morenas não são mais escravas dos seus machos, nem objetos, nem devotas, nem ignorantes prontas a repetir a voz dos seus mestres, elas provaram o fruto proibido da liberdade, da igualdade e também sabem impor suas vozes contra a ameaça de um novo opressor — #elenao 

Talvez tenham de lutar. No dia seguinte à manifestação, leio que o bispo Edir Macedo e outros líderes evangélicos convocam seus fiéis contra a pecaminosa liberdade. 

Me lembro das igrejas protestantes alemãs que logo aderiram a Hitler, como se Deus aprovasse a raça pura dos meninos e rapazes da escola dominical que eram automaticamente inscritos e passavam a usar o uniforme da juventude hitlerista. O mea culpa do pós-guerra das igrejas alemãs não ressuscitou as vítimas das preces da hipocrisia. (por Rui Martins)
Como o Rui mencionou esta obra-prima do diretor Bertolucci, decidi
postá-la aqui mesmo com legendas apenas em inglês, esperando 
adiante poder oferecer opção melhor aos leitores. (CL)

6 comentários:

Anônimo disse...

E teve algum avanço na melhora da vida do povo? Você mesmo disse que nada tinha ocorrido, negou todos os números, perseguiu o PT. Você é marineiro, continue por lá, e na Suíça também. Muito ajuda quem não atrapalha.

celsolungaretti disse...

Se eu fosse militante ecológico, certamente estaria com a Marina. Mas, não sou. No entanto, como revolucionário, considero a Marina pertencente ao campo da esquerda e a respeito. Sei que, nas lutas maiores, ela estará ao lado dos que querem transformar a sociedade e não dos que tentam manter o status quo.

Se persegui o PT, fui muito incompetente, pois mesmo assim ele cometeu todos os erros crassos que cometeu e pode agora entregar o Brasil para a extrema-direita.

E só se atrapalha quem está fazendo algo, o que não é o caso do PT. Ele passou esta década inteira desfazendo o que de bom algum dia fizera.

william orth disse...

Caro Celso, somente em relação a este POST passo a informação que não sei se é verdadeira 1) o chamado ELEnão foi restrito às mesmas pessoas de esquerda tradicionais. 2)O elesim,soou mais democrático. 3) Não sei se eram verdadeiras ou não mas fotos tiradas próximas ao Largo da Batata mostravam pessoas com orgãos genitais à mostra, consumo de Drogas, embriagues e espetáculo longe da chamada classe média tradicional. Foi a pá de cal de Haddad. Como já tinha colocado em meu último comentário(que não foi publicado), as pessoas estão com preconceito das idéias de esquerda. A família quer casar ter filhos, trabalhar e não ser assaltada e ouvir "Direitos dos manos". Teorias de falẽncia do "capitalismo", Bolsonaro torturador etc não estão ecoando. Ou moderniza o discurso e se aproxima da classe média ou a esquerda acaba. Simples assim. Muita teoria e pouco resultado. Desculpe os termos pesados. abraço.

celsolungaretti disse...

Orth,

você me traz informações que não li em nenhum outro lugar, com jeitão de ser propaganda adversa, e eu publico. Afirmações de que evidentemente discordo e eu publico numa boa. Comentários depreciativos dos direitos humanos, valor primordial de qualquer nação civilizada, e eu publico. Tento ser o mais democrático possível.

No comentário que não coloquei no ar, contudo, vc fez uma afirmação descabida e insultuosa, que é muito repetida por quem pratica violência arbitrária e execuções extralegais: a de que toda a bandidagem gostaria da esquerda. Isso é panfletarismo barato, Orth.

Eu já fiz reportagem policial (já fiz praticamente tudo no jornalismo) e sei que a maioria da bandidagem sequer tem noção do que seja esquerda e direita.

Se você se mantiver no terreno do plausível e do razoável, sempre publicarei seus comentários, apesar de ressalvas ideológicas que eu possa ter com relação a eles. Mas, esse tipo de exagero demagógico extrapola os limites.

Abs.

Valmir disse...

Nessa questão de motivações profundas da mentalidade comunista acho que posso dar uma contribuição: e o insight sobre isso veio de maneira mais inesperada..em uma entrevista Anastácio Somoza ex ditador da Nicarágua foi perguntado quantas fazendas ele tinha..sem pestanejar respondeu que só tinha uma que era..a Nicarágua.
O que é Cuba senão uma fazenda dos Castro? Ou a Ex-URSS uma enorme fazenda de Stalin e seus cupinchas?
A modernidade trazida pelo capitalismo e a democracia trouxe um enorme desconforto espiritual com a complexidade da presença tecnologia na vida de diária, a necessidade de escolher, a competitividade do comercio, a administração dos entes da vida econômica, a insegurança permanente da liberdade. Comunismo não tem nada disso. Tudo é estável e previsível. Sossegado.
Dizem que Stalin vetou diretamente as pesquisas sobre computadores e o desenvolvimento da industria automobilística. Compreende-se
Estive em Cuba. Eles não têm nada, mas a maioria, dos que estão adaptados não são infelizes.
Liberdade pode ser um problemão.
Todo turista que vai lá percebe isso.
O que um comunista quer é a vida simples e previsível. É o que todo mundo quer.
(claro que isso é uma ilusão...mas o que não é??)

celsolungaretti disse...

Valmir,

não gosto de ficar censurando comentário, então coloquei este no ar. Mas, não tem absolutamente nada a ver com o artigo do Rui Martins.

É apenas mais uma catilinária-padrão contra o SOCIALISMO REAL (não contra o comunismo, que ainda não existiu na face da Terra, pelo menos se levarmos em conta a o significado da palavra segundo o pai da criança, Marx).

Pô, espere ao menos que seja publicado um artigo que tenha alguma afinidade com o tema que você prefere tratar!

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