sexta-feira, 16 de março de 2018

MEDIDAS ECONÔMICAS DE TRUMP VÊM RATIFICAR, 160 ANOS DEPOIS, OS PROGNÓSTICOS DE MARX - 2

(continuação deste post)

Vejamos algumas frases (extraídas  d'O capital) do Marx esotérico sobre essas questões.
"O trabalho que o capital total de uma sociedade põe em movimento dia a dia pode ser considerado uma única jornada de trabalho. Se, p. ex., o número de trabalhadores é de 1 milhão e a jornada de trabalho é de 10 horas, a jornada de trabalho social será de 10 milhões de horas. 
Dada a duração desta jornada de trabalho, a massa de mais-valia só pode ser aumentada por meio do aumento do número de trabalhadores, isto é, da população de trabalhadores. O crescimento da população constitui o limite matemático da produção de mais-valia pelo capital social" (sobre o limite interno da necessária expansão do capital para extrair mais-valia ad infinitum versus a capacidade de consumo populacional)   
"A produção mecanizada, como quer que expanda o mais-trabalho à custa do trabalho necessário, mediante o aumento da forma produtiva do trabalho, só alcança tal resultado ao diminuir o número de operários ocupados por dado capital. 
Ela transforma parte do capital, que antes era variável, isto é, que se convertia em força de trabalho viva, em maquinaria, portanto em capital constante, que não produz mais-valia" (sobre a mecanização da produção como fator de redução da força de trabalho abstrata, causadora do atual desemprego estrutural, versus a redução da massa global de mais-valia indispensável à sustentação sistêmica)     
"Se a causa última da crise reside no fato de o desenvolvimento das forças produtivas, forçado pela concorrência, tornar o trabalho supérfluo, e, assim, fazer desaparecer a substância do capital, também é evidente que o nível sempre mais elevado das forças produtivas leva a crise a dimensões cada vez maiores. 
Então, também é concebível que o capital atinja um limite interno absoluto, um nível de desenvolvimento em que não será possível reabsorver força de trabalho humana suficiente para pôr em marcha novamente a acumulação do capital como fim em si" (sobre o regime de concorrência mundial de mercado que reduz a substancia do valor das mercadorias –e, consequentemente, do capital– pela eliminação da trabalho abstrato, como causa das crises cada vez mais violentas)
"Na crise, ao suplício de Tântalo das pessoas que já não podem pôr em marcha os seus próprios recursos materiais e técnicos, corresponde o suplício de Tântalo do sujeito automático que já não é capaz de absorver a força de trabalho humana maciçamente desaproveitada" (aludindo ao fato de que, mesmo diante de tantos recursos naturais e tecnológicos, o indivíduo social transformado em cidadão do capital se vê privado de produzir os meios necessários à sua sobrevivência de modo cômodo e humanizado graças ao sujeito automático da forma-valor)  
Como vemos a guerra da concorrência mundial de mercado, ora posta em marcha, não significa um estágio civilizacional do mercado e benéfico ao cidadão comum, mas uma terrível amaça diante dos mecanismos de mercado que, mesmo sem o quererem, mas por ser parte de sua natureza contraditória, entram em confronto épico que tem tudo a ver com seu caráter original belicista (basta nos debruçarmos sobre a forma como se implantou o capitalismo nos primórdios).

Qual a saída diante de um mundo mercantil cada vez mais enfurecido – O mundo mercantil, diante da perspectiva de agravamento da crise do capital, sustenta-se por aparelhos, de forma artificial. E se mostra revoltado com as medidas protecionistas que devem causar ebulições imprevisíveis num quadro de recessão prolongada (com a saúde agora visitando episodicamente o moribundo).

Dizem os serviçais políticos e executivos dos donos do PIB mundial:

— a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional alertam Donald Trump sobre os prejuízos à economia mundial e a ameaça ao crescimento sustentável global, afirmando que vai haver retaliação por quebra do acordo de livre comércio da América do Norte, o Nafta;

— Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu, diz estar errada a opinião de Donald Trump, de que “as guerras comerciais são boas e fáceis de ganhar”;

— a Organização Mundial de Comércio, pelo seu presidente, o brasileiro Roberto Macedo, afirma que “a guerra comercial pode levar o mundo a uma profunda recessão”;

— a rede Bloomberg anuncia um pacote de retaliação contra a decisão de Donald Trump; 

— Brigitte Zupries, ministra da Economia da Alemanha afirma que “a Europa responderá proporcionalmente às medidas protecionistas de Trump”, acrescentando: “Alguém que fala tanto sobre comércio justo, não deve buscar métodos tão injustos. Nós também podemos fazer coisas estúpidas”;
Tântalo foi condenado à fome e sede eternas
— Bernd Lange, do Parlamento Europeu, se queixa de injustiça: “Não fizermos nada de errado, nós seguimos as regras da Organização Internacional do Trabalho. É por isto que queremos implementar contra-medidas”;

— Godelieve Quisthoud-Rowohl, da União Democrata Cristã, adverte que “está sendo colocado algo em movimento que não se sabe como vai acabar”. 
As afirmações acima citadas, feitas por insuspeitos representantes políticos do mundo capitalista, põe por terra qualquer argumento de que o capitalismo vive apenas uma crise episódica, reafirmando o vaticínio marxiano esotérico do limite interno absoluto do capital.

A nós, conscientemente, cabe procurarmos uma saída fora da imanência capitalista, e isto significa estabelecermos um novo modo de produção que nos livre do suplício de Tântalo, ou seja, de vivermos condenados à escassez em meio a tanta abundância material e meios tecnológicos de produção. 

A menos que prefiramos inconscientemente nos autodestruir pela barbárie social, crise ecológica ou hecatombe nuclear. (por Dalton Rosado)

2 comentários:

SF disse...

...
Belo diagnóstico e sombrio prognóstico.

Contudo, diversamente de tempos passados, temos uma nuvem de informação disponível que nos auxilia a compreender melhor o fenômeno.

Medidas do tipo "mate seu vizinho" sempre são tomadas quando há superprodução.

No passado, resultou em duas guerras mundiais. A 1ª decorrente da guerra comercial e a segunda continuação da primeira, graças as funestas consequências da mesma tosca filosofia do "estou sozinho no mundo".

Ocorre que agora não podemos ter guerras mundiais!

(E devemos ter passado perto de uma a poucos dias, pois as declarações da Rússia a respeito de suas armas apontam para isso.)

Daí, ou o John B. Calhoun está certo e nos auto-extinguiremos ou, quem sabe, tenhamos o bom senso de continuar a saga humana sobre o planeta.

Bem, este é o tipo de coisa que não depende de nós evitar.

Quem tem o poder para isso, fará o que bem entender.

Mas, esta situação terrível nunca foi novidade.

No Katha Upanishad (3-14) há referência a um certo "fio da navalha" difícil de atravessar.Pois bem, vejo que nunca deixamos de caminhar sobre ele.

celsolungaretti disse...

Caro SF,

só agora tive acesso ao seu comentário no meu penúltimo artigo sobre a guerra internacional de mercado e o limite absoluto do capital”. Ele é instigador no sentido de que eu me contraponha a algumas afirmações suas e as fundamente.

Pela riqueza que o tema deve ser tratado, preferi escrever um novo artigo intitulado “Belo diagnóstico e sombrio prognóstico?”. Aguarde.

Obrigado pela possibilidade de aprofundamento de tema tão oportuno nesses dias de barbárie social e ecológica crescentes.

Dalton Rosado

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