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IGREJA CONTROLA MAIOR PARTE DE TVs DO PAÍS
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Por Elvira Lobato |
Nos últimos cinco anos, as principais emissoras de televisão da Record passaram de outros bispos para Edir Macedo. Levantamento exclusivo feito pela Folha em cartórios, juntas comerciais e no cadastro de radiodifusão da Agência Nacional de Telecomunicações mostra que ele se tornou dono de 99% das ações da TV Capital, geradora da Rede Record em Brasília; de 50% da TV Sociedade, de Belo Horizonte, de 48% da TV Record do Rio e de 30% da Record de São José do Rio Preto (SP).
O movimento se deu após a regulamentação da emenda constitucional 222, que autorizou a participação de pessoas jurídicas como acionistas de rádio e televisão. Antes, só pessoas físicas – brasileiros natos ou naturalizados há mais de 10 anos – podiam ter empresas de radiodifusão.
Até a mudança constitucional, Macedo e a mulher, Ester Bezerra, eram proprietários, oficialmente, apenas de duas emissoras de televisão – a Rádio e Televisão Record S.A, que tem a concessão em São Paulo, e a Record de São José do Rio Preto-, além da Rádio Copacabana, no Rio, sua primeira investida na mídia.
A Rádio e Televisão Record S.A (da qual Macedo tem 90% das ações e sua mulher, Ester Bezerra, 10%) comprou as ações de outros bispos.
O movimento reforça as suspeitas de empresários do setor de que Macedo seja o verdadeiro dono de toda a rede Record, o que faria dele um bilionário. O valor atual estimado da Rede Record é de R$ 2 bilhões.
Macedo comprou a Record de Silvio Santos e da família Machado de Carvalho, por US$ 45 milhões, em 1989, o que significa um crescimento patrimonial do grupo de 4.344% desde então..
Bispos – O bispo Marcelo da Silva, presidente da TV Record do Rio, é acionista de sete rádios e de três televisões (TV Record de Bauru, TV Independência Sudoeste, no Paraná e TV Record de Campos, no Norte Fluminense).
Sidnei Marques, de Belo Horizonte, é acionista de seis rádios e das televisões de Belém (TV Marajoara), Brasília e da Rede Mulher. O bispo escolhido por Edir Macedo para sucedê-lo, Romualdo Panceiro, é acionista da Rede Família, da Record News, da Record de Campos (Norte Fluminense) e de uma rádio na Bahia.
O deputado federal e bispo licenciado Antônio Carlos Bulhões (PMDB-SP), é acionista de seis rádios e da Rede Mulher (atual Record News).
A legislação em vigor não permite que igrejas explorem diretamente, o serviço de radiodifusão. A Igreja Católica tem a maioria de suas emissoras (12 TVs e 215 rádios) em nome de fundações.
A Iurd ultrapassou as Organizações Globo em número de concessões próprias de televisão, mas a Record disputa com o SBT o segundo lugar faturamento publicitário.
A família Marinho chegou a ter participação relevante ou controle de 32 emissoras (fora as afiliadas), mas vendeu a maior parte para pagar as dívidas da Globopar, em 2002.
Hoje, a Globo tem cinco concessões de TV (São Paulo, Rio, Recife, Belo Horizonte e Brasília) e filhos e netos de Roberto Marinho têm 10% do capital de 18 afiliadas. Os grupos Bandeirantes e SBT têm 10 concessões de TV, cada um.
Há pelo menos 10 anos, o Ministério Público Federal e a Polícia Federal investigam a origem dos recursos usados por Macedo na compra da Record. O último inquérito, com este propósito, foi aberto em outubro, pela PF, em São Paulo. Em 2002, Edir Macedo declarou rendimento anual de apenas R$ 8.289,60, segundo cópia de documento na Justiça.
Em entrevista à Folha, em outubro, Macedo disse que a Iurd é apenas cliente da Record, mas esquivou-se de dizer quanto ela repassa à emissora como aluguel de espaço na madrugada, e sobre como ele comprou a Record.
Há uma ação no Tribunal Regional Federal de São Paulo, proposta pelo Ministério Público Federal, que aponta indícios de que o dinheiro da compra das TVs Record de São Paulo, Franca e São José do Rio Preto saiu de doações de fiéis. A anulação das concessões foi negado na primeira instância.
Uma outra ação, proposta pelo ex-deputado Afanázio Jazadji, apura o suposto uso de bispos como laranjas da igreja na compra de emissoras. Ela foi recentemente desmembrada para vários Estados, pelo Supremo Tribunal Federal.
O STF arquivou, em 2006, o inquérito contra o senador Marcelo Crivella e outros membros da igreja que investigou, por sete anos, o ingresso de US$ 18 milhões, via Uruguai, para compra da TV Record do Rio e de rádios. O dinheiro teria sido enviado por duas empresas da Iurd, baseadas em paraísos fiscais.
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