Na noite desta 6ª feira (30), o clima era de indignação e frustração extremadas no Facebook, porque o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo, fizera a única coisa que podia, diante da privação ilegal de mandato do senador Aécio Neves, imposta por seu colega Edson Fachin, cabeça feita pelo perturbador-geral da República Rodrigo Janot.
Nunca me senti tão estranho numa terra estranha. Tanto por ter percebido desde o primeiro momento que a iniciativa do Fachin feria as prerrogativas do Legislativo e seria corrigida adiante; quanto por nunca haver dado a mínima importância ao Aécio, daí ser tão incapaz de odiá-lo quanto de adorá-lo.
Nunca me senti tão estranho numa terra estranha. Tanto por ter percebido desde o primeiro momento que a iniciativa do Fachin feria as prerrogativas do Legislativo e seria corrigida adiante; quanto por nunca haver dado a mínima importância ao Aécio, daí ser tão incapaz de odiá-lo quanto de adorá-lo.
Mal comecei a interessar-me pelas páginas políticas dos jornais, lá pelos meus 16/17 anos, já fiquei sabendo que não era assim que se privava um senador do mandato, segundo a letra da Constituição. Muito menos da forma utilizada pela ditadura militar, que simplesmente cassava o parlamentar que lhe desse na telha, ora um por vez, ora em massa.
Como qualquer revolucionário que bebeu nas melhores fontes do marxismo e do anarquismo, não morro de amores nem pela democracia burguesa nem pelos chamados valores republicanos (ultimamente tão louvados pelos esquerdistas desvirtuados, enquanto nem sequer ousam pronunciar mais a palavra revolução!). Para mim, não passam de meros biombos para mascararem a dominação de classe, enquanto dão sustentação institucional ao capitalismo.
Mas, a descida aos porões da ditadura, piores que o inferno de Dante, ensinou-me que nada existe de mais terrível para um ser humano do que encontrar-se indefeso à mercê de autoridades que podem fazer dele o que quiserem. Quando saí, aos frangalhos, das prisões e centros de tortura militares, decidi que até o último dia da minha vida seria inimigo figadal das ditaduras, de todas e quaisquer ditaduras.
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Antes, ainda aceitava a ressalva de alguns autores, Lênin à frente, de que a ditadura do proletariado poderia ser provisoriamente admitida, desde que fosse apenas uma ponte para um futuro no qual ela se tornasse desnecessária, podendo então ser abolida de forma segura (assim como o próprio Estado). Percebi, contudo, que as ditaduras tendem sempre a se enraizarem, institucionalizarem e eternizarem, de forma que sua remoção acaba custando sangue, suor, lágrimas e vidas. Quem com elas compactua está alimentando um leviatã.
Foi este o principal motivo de, desde o primeiro momento, posicionar-me contra a tramoia golpista Janot/Globo, com seus evidentes excessos autoritários, inicialmente consentidos por um STF que parecia estar atordoado pela blitzkrieg midiática (bem ao estilo de Joseph Goebbels!).
Ora, tais rolos compressores de manipulação das consciências sempre me despertaram a mais indignada repulsa; revolucionário e jornalista, assumo como meu dever disponibilizar a verdade para os cidadãos comuns e sou inimigo figadal daqueles que os mesmerizam em massa, por meio das sofisticadas lavagens cerebrais destes tristes tempos presentes.
Ademais, era impossível para mim ficar indiferente à equivalência entre:
- a forma como tentaram inculpar Temer com uma gravação ilegal e imperfeita, da qual Janot extraiu as únicas ilações que serviam ao seu propósito enquanto descartava todas as outras possibilidades; e
- a forma como eram montados os processos farsescos da ditadura, tendenciosos e mentirosos do começo ao fim.
Então, não tive nenhuma dúvida de que era preferível fecharmos a fresta que Janot & cia. estavam abrindo para o Estado policial do que removermos um presidente pateticamente medíocre, fiel vassalo do poder econômico como todos os que o precederam desde a redemocratização do País.
Temer tem dia marcado para voltar a ser o que sempre foi, um mero político profissional de voos curtos, ainda por cima pertencente a um partido fisiológico: cairá fora no dia 1º de janeiro de 2019. Já as ditaduras podem durar 15, 21 anos, exterminando fisicamente ou aniquilando moralmente os melhores quadros políticos de várias gerações.
Finalmente, voltando ao ponto de partida, o que me chocou na grita generalizada contra a restituição do mandato do Aécio foi o fato de ser totalmente desproporcional à sua (mínima) relevância como político. Tanto quanto Temer, é mais um fruto da entressafra pela qual passamos e dos artifícios dos marqueteiros para fazerem sapos serem vistos como príncipes.
Agora disponíveis também nas redes sociais |
As campanhas de ódio do PT são, contudo, muito eficazes em criarem correntes de ódio exacerbado aos Aécios, Temers e Cunhas da vida, como se fossem titãs contra os quais tivéssemos de travar batalhas épicas e não mosquitos a serem enxotados com um piparote.
E, enquanto estivermos perdendo tempo com esses ridículos espantalhos, deixaremos de nos ocupar da plantação capitalista em si, na qual é semeada a infelicidade de todos os seres humanos.
Mas, claro, organizarmos o povo para uma revolução é muito mais trabalhoso e arriscado do que postarmos diatribes e catilinárias nas redes sociais.
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