quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

POEMA PARA PAULO EVARISTO ARNS

Eduardo Rodrigues Vianna

Quando o filho do homem nasceu para o mundo, filho
do homem e filho do mundo, com a cara do espírito santo
pintada nas muralhas, alguém lutava contra toda a opressão,
com a espada, e a mais miserável das mulheres erguia
o cadáver de um filho morto, fosse pela fome dos hebreus
ou por uma ordem do rei dos hebreus, porque há tempo
para nascer e para morrer, tempo para amar e tempo
para odiar, e não há nada novo debaixo do sol.

E quando o filho do homem proclamou a nova
de libertar o povo e refazer o mundo, e quando pregaram
nele a cruz, porque a cruz foi pregada nele, a terra partiu-se,
sem que houvesse partilha, e dizem que as lágrimas de Deus
cobriram o Oriente Médio, para selar o pacto da liberdade
e da justiça, embora as lágrimas nunca deixassem de banhar
o Oriente Médio, sem liberdade e sem justiça.

E você, Evaristo. Como é difícil, dom Paulo, encontrar
a amizade do filho do homem, que está em nós
ainda quando a ignoremos, e que nos procura
ainda quando não a queiramos, porque nos acostumamos,
até mesmo nós, a achar que o homem vale o que traz nos bolsos,
e que a violência pode ser bonita, e que a tirania pode
ser boa, se os tiranos disserem aquilo que nós desejamos ouvir.

E você, Evaristo. Eu me lembro de você, naquele dia
em que a ditadura pisoteava e chutava o Brasil, e vinha de
todo o país o ar corajoso das lutas nacionais. A ditadura queria
um pretexto para pisar o Brasil e chutá-lo ainda mais,
e você conduzia a prece pelo assassinato de um judeu,
e toda a nossa gente gritou, em silêncio, e todos proferiram
um discurso, em silêncio.

Você, Evaristo. Você, amigo íntimo de todo ser humano, até mesmo
do ser humano desprezível, desprezado, odioso, odiado, louco,
enlouquecido, violento, violentado. Você, Evaristo, irmão
do filho do homem. Você, irmão do homem.

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