sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

DILMA FLEXIBILIZA O PRÉ-SAL: É TIRO PELA CULATRA OU SAÍDA PELA DIREITA?

decisão de Dilma Rousseff, de fechar acordo com a oposição e permitir que fosse aprovado no Senado o projeto do tucano José Serra reduzindo a participação da Petrobrás no pré-sal, colocou o Partido dos Trabalhadores em pé de guerra contra a presidente. É o que informou o colunista Bernardo Mello Franco, da Folha de S. Paulo: 
"A revolta no PT foi generalizada. Nem o novo líder do governo, Humberto Costa, aceitou apoiar o combinado. 'Eu não poderia ficar contra o governo e não poderia ficar contra a minha bancada', disse, ao se abster de votar.
...O presidente do partido, Rui Falcão, classificou o texto avalizado por Dilma como um 'ataque à soberania nacional'. 
A CUT acusou o Planalto de traição. 'O governo renunciou à política de Estado no setor de petróleo e permitiu um dos maiores ataques que a Petrobras já sofreu em sua história', atacou a central.
Ontem (25) um ex-ministro da presidente definia o acordo como suicídio político. 'Se a Dilma quer se matar, problema dela. Mas não pode exigir que a gente se mate junto'."
Detesto o José Serra por ter, pateticamente, repetido a trajetória do Carlos Lacerda, que começou na esquerda e acabou direitista selvagem; e não perdoo a sucessão de iniquidades que o governo da Dilma vem cometendo contra o povo indefeso, com destaque para o ajuste recessivo de corte neoliberal e a tão desumana quanto injusta reforma da Previdência. 

Isto para não falar da sua arrogância e incompetência, que acarretaram a pior recessão da nossa História, fazendo o desemprego já beirar a casa de 10 milhões, sem que nem mesmo ao longe se vislumbre o fim da crise.

Mas, como revolucionário internacionalista, passei minha vida consciente inteira na contramão da xenofobia tacanha e patrioteira. Não serão os maus bofes do Serra e da Dilma que me farão mudar de ideia, embora eu geralmente me alinhe com a esquerda do PT nos seus embates contra as aves de rapina e os cristãos-novos da igreja de São Friedman... 

Monopólio estatal, no caso de uma empresa que não está nem jamais esteve sob o controle dos trabalhadores, não possui nenhum significado revolucionário. Tem a ver, isto sim, com capitalismo de estado. 

Sendo inimigo figadal do capitalismo em todas as suas manifestações, não tenho motivo nenhum para prezar e preservar a Petrobrás. Para mim, não passa de uma empresa capitalista como todas as outras.

Então, lanço um olhar pragmático para tal questão: depois de haver quebrado a Petrobrás e a tornado incapaz de bancar investimentos de monta sabe-se lá até quando (por pouco tempo certamente não será!), faz sentido que a Dilma flexibilize as regras para a participação estrangeira na exploração do pré-sal. 

É isto ou nada. Até porque a energia suja tem os dias contados e poderá tornar-se obsoleta antes de a Petrobrás conseguir se reerguer.

Mas, como são bem poucos os seres humanos que conseguem abdicar de suas ideias fixas ao se defrontarem com novas realidades, era previsível tal rejeição indignada nas fileiras do partido (*).

A pergunta que não quer calar é: foi apenas outro tiro pela culatra da Dilma, que teria subestimado o apego passadista dos petistas a suas vacas sagradas?


Ou, uma vez na vida, ela estaria mirando mais longe? Pois este pode também ser o primeiro movimento de uma saída pela direita: a deterioração do seu relacionamento com o PT justificaria o desligamento do partido, deixando-a com as mãos livres para, abrigada numa sigla como o PDT, formar um ministério de centro-direita.


Se Dilma entregar o poder de fato ao PSDB e ao PMDB, é bem possível que ambos desistam do seu defenestramento, deixando-a fazer figuração até o fim do mandato, como uma rainha da Inglaterra à moda dos trópicos.


Elucubrações à parte, o certo é que a posição da Dilma, como presidente da República eleita pelo PT e que deveria manter-se, tanto quanto possível, fiel aos princípios e valores do partido, torna-se cada dia mais insustentável. Os acontecimentos se precipitam e março promete ser um mês decisivo na política brasileira.

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