quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

MUDANÇAS CLIMÁTICAS COLOCAM EM ALTO RISCO 1,2 BILHÃO DE PESSOAS NO PLANETA

carlos nobre
 
ONDAS DE CALOR EXTREMO AMEAÇAM
 LIMITES DA SOBREVIVÊNCIA HUMANA
Com recordes de temperatura sendo constantemente quebrados, os impactos na saúde atingem níveis sem precedentes. 

A Organização Meteorológica Mundial confirmou que 2024 foi o ano mais quente da história, com ondas de calor mortais afetando diversas regiões do planeta. Em janeiro de 2025, um novo recorde foi registrado: a temperatura global atingiu 1,75°C acima da média, mesmo sob influência do fenômeno La Niña, que normalmente resfria parte do oceano Pacífico Equatorial. 

Diante do avanço acelerado do aquecimento global e da insuficiência das medidas para contê-lo, uma adaptação urgente e abrangente é essencial para evitar a rápida escalada dos impactos do clima extremo na saúde.

Pessoas em todo o mundo enfrentam um risco crescente de eventos climáticos extremos que ameaçam a vida. Entre 1961-1990 e 2014-2023, 61% da superfície terrestre registrou um aumento no número de dias com precipitação extrema, elevando o perigo de inundações, a propagação de doenças infecciosas e a contaminação da água.

Um relatório publicado pela revista científica
The Lancet em outubro de 2024 identificou diversos limites para a adaptação da saúde às mudanças climáticas:

Limites fisiológicos. O corpo humano funciona dentro de uma faixa estreita de condições ambientais, especialmente em relação ao estresse térmico. Com o ritmo acelerado das mudanças climáticas, esses limites estão cada vez mais próximos de serem ultrapassados. 

Extremos severos de calor e umidade podem tornar algumas regiões inabitáveis, levando à insolação e ao colapso térmico. Estudos indicam que, embora o limite tradicional para a sobrevivência humana tenha sido estabelecido em até 6 horas num ambiente com 35°C de calor e umidade extrema, pesquisas mais recentes mostram que esse limite é ainda menor, principalmente para idosos.  

Limites de evidências e conhecimento. A geração de evidências científicas e conhecimento é crucial para adaptação e proteção da saúde, mas existem desafios na implementação de medidas eficazes. Essas dificuldades se originam dos limites humanos para entender a interação entre o mundo natural e os impactos na saúde.

Limites financeiros. Sob o curso atual de mitigação, a adaptação por si só será muito custosa e exigirá a realocação de fundos de outros setores. Esses imites são mais acentuados em países de renda mais baixa, particularmente dada a escassez de fundos internacionais alocados para apoiar ações de adaptação, especialmente para a saúde.

Limites de governança ou política. A maioria das medidas de adaptação relacionadas à saúde exigem ações em setores que dão suporte à saúde das pessoas, incluindo saneamento, planejamento urbano, transporte e energia.
Essas ações exigem cooperação articulada entre setores governamentais, funções executivas eficazes e fluxos de financiamento adequados nos níveis internacional, nacional e regional, que raramente ocorrem.

Limites físicos ou de infraestrutura. O ambiente físico pode agravar os riscos climáticos para a saúde, e nem sempre há soluções viáveis para modificá-lo. Isso inclui, p. ex., limites físicos para proteger áreas costeiras baixas, barreiras de proteção contra enchentes ou elevação construída à medida que os níveis do mar continuam a subir. Da mesma forma, modificar o ambiente construído para torná-lo mais resiliente ao clima pode ser muito caro, perturbador ou lento, tornando-o uma opção indisponível. 

Limites sociais, culturais e comportamentais. Mudanças comportamentais podem ajudar a construir resiliência às mudanças climáticas. Tais mudanças incluem, p. ex., adotar comportamentos para se proteger do calor e buscar soluções de resfriamento em casos de ondas de calor, buscar segurança durante eventos extremos ou migrar. 

Superar essas limitações é teoricamente possível por meio de grandes mudanças sociais, institucionais e tecnológicas, que exigem uma combinação de medidas de adaptação e mitigação no enfrentamento à emergência climática. 

Se as políticas atuais forem mantidas, o mundo caminha para um aquecimento superior a 3°C até 2100. A mitigação sustentável não só evitaria os piores impactos climáticos, mas também reduziria os danos à saúde causados pelos combustíveis fósseis. Hoje, a poluição urbana mata entre 6 e 7 milhões de pessoas por ano, enquanto a queima de biomassa é responsável por outros 2 a 3 milhões de óbitos anuais.

Atualmente, cerca de 1,2 bilhão de pessoas estão em alto risco devido aos impactos do clima em mudança. No entanto, acelerar o desenvolvimento sustentável e implementar adaptações direcionadas pode reduzir significativamente esses impactos, tornando populações, empresas e países mais resilientes diante da crise climática.
(por Carlos Nobre, estudioso focado no acompanhamento da escalada do aquecimento global, sendo um dos mais renomados meteorologistas do país e um dos cientistas brasileiros mais conhecidos mundialmente).

5 comentários:

Anônimo disse...

Em 23 de junho de 1988: James Hansen (83 anos (29 de março de 1941)) testemunhou ao Senado estadunidense sobre as mudanças climáticas.
Em 21 Julho 2023
https://ihu.unisinos.br/categorias/630716-somos-idiotas-danados-cientista-que-soou-o-alarme-climatico-nos-anos-80-alerta-para-o-pior-por-vir
Em 5 Fev 2025
https://www.france24.com/en/live-news/20250204-top-climate-scientist-declares-2c-climate-goal-dead
De hoje 12 de Fev 2025
O aquecimento global acelerou. Por quê? Quais são as consequências?
https://mailchi.mp/caa/global-warming-has-accelerated-why-what-are-the-consequences?e=27cfd65002

James Hansen é autor do livro
'Tempestades dos meus netos:mudanças climáticas e as chances de salvar a humanidade' Editora Senac

SF disse...

Agrofloresta é a resposta.
Os limites dela são:
- Demora oito anos para se implantar.
- Não combina com latifúndio nem com monocultura.
E sua beleza e produtividade são ilimitadas!

celsolungaretti disse...

Agloflorestas poderiam ter sido a resposta no século passado. Hoje a fila já andou, pois chegariam tarde demais quando as alterações climáticas já nos mordem os calcanhares. E para que seja dado tal uso à terra seria preciso compensar seus donos, o que exigiria uma formidável mobilização de recursos. Para os bilionários é mais fácil simplesmente negarem a existência do aquecimento global, como já vêm fazendo. Mais viável, provavelmente, será dissipar-se o CO2 já acumulado, o que poderá ser viabilizado a um custo bem menor. Mesmo assim, a radicalização do negacionismo climático por parte da extrema-direita deverá atrapalhar muito.

SF disse...

Tarde demais?!
São só 8 anos, Celso.
Em 2033, caso se opte por agrofloresta, teríamos o reequilíbrio do planeta.
Facim assim.
Caro será permanecer com monocultura e latifúndio.

celsolungaretti disse...

Se já se constatam evidências de que as alterações climáticas estão em curso, é tarde demais, sim. O uso de combustíveis fósseis nem sequer deveria ter entrado no século 21, era questão para ser definitivamente equacionada lá atrás. 2024 o ano mais quente de todos os tempos, janeiro de 2025 o mês mais quente idem, onde é que vamos parar?

Eu nem consigo mais ter uma boa noite de sono com o calor do verão paulistano. Acordo umas 20 vezes durante a madrugada. Até o ano passado isso não me acontecia.

Tenho a impressão de que a humanidade só vai acordar realmente para o risco de ser extinta ainda neste século quando houver alguma ocorrência climática de grande impacto, como Veneza submergir ou uma usina atômica sofrer vazamento significativo por causa de terremoto, maremoto ou tsunami.

Insisto: o pior de tudo é que os cientistas não me passam segurança nenhuma quanto a saberem quando exatamente será o ponto de não-retorno. O certo é que há várias décadas as suas projeções de aumento do aquecimento global vêm sendo invariavelmente superadas pela realidade.

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