quinta-feira, 27 de junho de 2024

ISRAEL AINDA CHORA O HOLOCAUSTO, MAS NÃO PASSA DE UM GENOCIDA BESTIAL QUE AGORA SE ATRIBUI DIREITO AO MASSACRE

Trechos selecionados e editados do artigo Pensar após Gaza, do Vladimir Safatle
Genocídio ocorre todas as vezes em que o vínculo orgânico de populações ao genos, ao que nos é comum, é negada. 

Quando o comandante das forças armadas israelense diz que do outro lado há animais humanos, ele expressa, de forma pedagógica, intenções genocidárias. 

[É este também o caso quando, por exemplo]:
— o presidente de Israel diz não haver diferença entre civis e combatentes e depois submete toda a população palestina a punições coletivas;
— ministros [minoritários] do governo de Israel afirmam ser plausível o uso de bombas nucleares contra Gaza e não têm outra punição que o simples afastamento de reuniões ministeriais futuras;
— descobrimos planos de deslocamento em massa dos palestinos para o Egito; ou
— a ministra da Igualdade Social e Empoderamento Feminino afirma ter "orgulho das ruínas de Gaza" e que daqui há 80 anos todos os bebês possam contar a seus netos sobre o que os judeus fizeram lá. 

[Em tais situações], estamos não apenas diante de intenções genocidárias, mas de uma das declarações mais sórdidas e intoleráveis de culto a violência que se possa imaginar. Isso é sim uma expressão clara e imperdoável de prática genocidária. Nada disso provocou sequer a pressão de tirar esses indivíduos do governo.

Genocídio não é algo ligado a algum número absoluto de mortes, não há um número que começa a valer por genocídio. 

Ele diz respeito a uma forma específica de ação de Estado no apagamento dos corpos, na desumanização da dor de populações, na profanação de sua memória, no silenciamento do luto público que retiram tais populações de seu pertencimento ao genos.

E de nada adianta utilizar a teoria espúria do escudo humano nesse contexto, um clássico do colonialismo contra a violência dos colonizados. 

Mesmo aceitando, para efeitos de argumentação, que um grupo de luta armada tomasse uma população como refém e a usasse como escudo, isso não dá a ninguém o direito de ignorar essa mesma população e tratá-la objetivamente como cúmplice ou como alguém cuja morte é um mero efeito colateral. 

Até segunda ordem, ainda não inventaram o direito de massacre. 

(por Vladimir Safatle)

3 comentários:

Valmir disse...

-a maior critica que se fazia aos judeus do holocausto é que quase nao lutaram para se defenderem dos nazistas...agora a maior critica é que...lutam
-os cubanos fizeram a revolução de 59 para expulsar os americanos que era a causa de todos seus problemas...agora seu maior problema, segundo eles mesmos, é a ausencia dos..americanos (que chamam de bloqueio, embargo)
-a unica revolução de escravos bem sucedida foi no Haiti..que com isso se tornou a nação mais miseravel do mundo.

Neves disse...

No final, o princípio:'Até segunda ordem, ainda não inventaram o direito de massacre'

O humano em Safatle é brilhante. Às vezes ele derrapa, outras ele acerta direto.

celsolungaretti disse...

Valmir, o grande problema é a reviravolta na História. O papel então desempenhado pelos nazistas agora é bisado pelos sionistas. O Davi virou Golias. O Gueto de Varsóvia da década de 1940 equivale ao Gueto de Gaza da atualidade.

Os exterminados de então se tornaram os exterminadores de agora. Militarmente, estão condenados ao papel de sacos de pancadas. Então, os civilizados e os isentos, melhores seres humanos, têm de os protegerem, mesmo não sendo anjinhos.

Related Posts with Thumbnails