Causou espanto ao mercado e às comunidades mundo afora o anúncio do default da incorporadora chinesa Guangzhou Evergrande, do bilionário Xu Jiayin, uma das maiores empresas imobiliárias da China, estimado em US$ 300 bilhões.
O espanto decorre do desconhecimento por parte dos investidores sobre a real situação econômica do precário endividamento chinês.
Os operadores do mercado vendem a prosperidade futura do capitalismo, aí incluída a China, sob a forma de promessa da retomada do desenvolvimento econômico, como forma de empurrarem para os rentistas investimentos de risco que remuneram melhor as comissões de agenciamentos das aplicações financeiras, de vez que muitos deles agem de acordo com o interesse de comissões de agenciamento.
Mas não é este o papel de quem dedicou a vida ao combate à segregação social capitalista e estudou criticamente a equação irresolúvel da mediação social pela forma-valor denunciada por Karl Marx há mais de 160 anos, mas, infelizmente, pouco conhecida pelos revolucionários politicistas do marxismo tradicional ou pelos bem intencionados sociais-democratas da humanização e perpetuação da relação capital/trabalho.
Não me causaram surpresa as dificuldades de liquidez imobiliária da China, pois foi justamente neste setor da habitação, que carece de mão-de-obra menos qualificada e movimenta a economia numa grande diversidade de mercadorias, que a roda do capital encontra espaço (de fôlego curto) de sobrevida.
Da mesma forma que no ocidente, os chineses também apostaram nesta vertente para alavancar a economia. Ledo engano. Sabemos, apesar das restrições governamentais à comunicação midiática chinesa, que por lá existia em 2018 cerca de 50 milhões de unidades residenciais vazias, número que aumentou nos últimos três anos, seja por falta de compradores financeiramente aptos para a aquisição, seja por despejos de inadimplentes. O capitalismo tem regras draconianas que não podem ser contraditadas sob pena de falência de sua dinâmica, mesmo que a insatisfação popular seja contida por um regime totalitário como o chinês, ou justamente por causa dos ditos cujos, porque a lógica do capital é soberana em relação à política. Apesar das diferenças operacionais, podemos relacionar a crise imobiliária chinesa com a crise do subprime dos Estados Unidos em 2008/2009, já que se constituem em bolhas financeiras imobiliárias do endividamento fácil e sem lastro mercadológico que garanta a valorização patrimonial dos investimentos (ou especulações) nas respectivas construções de unidades habitacionais. Na verdade, em face dos números das hipotecas imobiliárias dos Estados Unidos inadimplidas, o Banco Central daquele país teve de intervir, sendo o custo total ampliado de US$ 700 bilhões para US$ 850 bilhões, dos quais até US$ 700 bilhões foram usados para comprar títulos podres, conforme o projeto original, e os outros US$ 150 bilhões foram acrescentados pelo Senado na forma de cortes de impostos e incentivos fiscais.
Da mesma forma que no ocidente, os chineses também apostaram nesta vertente para alavancar a economia. Ledo engano. Sabemos, apesar das restrições governamentais à comunicação midiática chinesa, que por lá existia em 2018 cerca de 50 milhões de unidades residenciais vazias, número que aumentou nos últimos três anos, seja por falta de compradores financeiramente aptos para a aquisição, seja por despejos de inadimplentes. O capitalismo tem regras draconianas que não podem ser contraditadas sob pena de falência de sua dinâmica, mesmo que a insatisfação popular seja contida por um regime totalitário como o chinês, ou justamente por causa dos ditos cujos, porque a lógica do capital é soberana em relação à política. Apesar das diferenças operacionais, podemos relacionar a crise imobiliária chinesa com a crise do subprime dos Estados Unidos em 2008/2009, já que se constituem em bolhas financeiras imobiliárias do endividamento fácil e sem lastro mercadológico que garanta a valorização patrimonial dos investimentos (ou especulações) nas respectivas construções de unidades habitacionais. Na verdade, em face dos números das hipotecas imobiliárias dos Estados Unidos inadimplidas, o Banco Central daquele país teve de intervir, sendo o custo total ampliado de US$ 700 bilhões para US$ 850 bilhões, dos quais até US$ 700 bilhões foram usados para comprar títulos podres, conforme o projeto original, e os outros US$ 150 bilhões foram acrescentados pelo Senado na forma de cortes de impostos e incentivos fiscais.
A falta de correspondente liquidez de mercado para as hipotecas contaminou todo o mercado financeiro mundial de ponta, exigindo dos países da União Europeia, onde se situam grandes bancos ameaçados de falência, uma cobertura financeira portentosa que elevou a conta toda para a casa de trilhões com a emissão de moeda sem lastro pelo Banco Central europeu.
Tais medidas não só aumentaram as dívidas públicas e privadas estatais, como criaram expectativas de insolvências mundiais, tanto dos Estados Unidos como dos países da União Europeia, bem como acendeu a luz amarela para todo o sistema bancário com relação a fenômenos similares que viessem a ser formatados.
O recentíssimo estremecimento dos mercados com o caso específico da incorporadora Evergrande se deve à perspectiva de insolvabilidade da astronômica dívida chinesa que corresponde a cerca de 300% do seu PIB, e que já se anuncia como impagável até mesmo para o chamado serviço da dívida, ou seja, insolvabilidade dos juros cobrados pelos credores internacionais.
O governo chinês ainda tem fôlego para colocar o dedo na trincadura do dique, mas a possibilidade de rompimento avassalador existe!
Não devemos nos esquecer de algo que, de tão trivial, muitas vezes nos passa desapercebido: são os rentistas, com suas aplicações financeiras, que emprestam suas economias ao sistema financeiro, o qual, por sua vez empresta ao Estado e às empresas privadas, almejando remuneração pelo capital investido.
Se observar-se qualquer fissura na confiança dos rentistas em suas aplicações e isto provocar uma corrida de resgate monetário, certamente que teríamos não apenas um tsunami, mas um abalo em todo o sistema monetário e de crédito (isso corresponderia em termos de paralelos financeiros, ao estrago que o choque físico de um meteoro gigante causaria ao colidir com o nosso planeta. O Fundo Monetário Internacional, já em 2019, alertava para o risco do crescente endividamento chinês e a previsível queda do crescimento do PIB chinês, justamente porque não seria possível à China continuar crescendo no ritmo anterior. O consumo de mercadorias tem um limite físico e monetário. Com o advento da crise sanitária do coronavírus, que causou mortes em torno de 2% a 3% dos contaminados mundo afora, obrigou-nos todos a um confinamento nunca antes experimentado pela humanidade. Com isto veio a redução do crescimento do PIB chinês, que já vinha ocorrendo e ficou ainda mais acentuada (de 6,6% em 2018 para 6,1% em 2019 e 2,3% em 2020), e a expectativa de default de muitas das empresas chinesas passou a estar na pauta das expectativas. Mas a economia globalizada está de tal forma interligada que há um temor geral das consequências de uma provável falência da China, porque se trata do segundo maior PIB mundial e de um contingente humano que corresponde a cerca de 20% da população mundial.
A insolvência chinesa provocará a insolvência em cadeia de muitos países, porque a China é grande compradora de commodities; isto pode acarretar uma paralisia ainda maior na economia mundial.
O investidor anônimo da região mais remota do planeta que aplica suas economias num banco multinacional, poderá se ver privado de usar os seus recursos, e isto, evidentemente, vai abalar o consumo de mercadorias e, consequentemente, deverá emperrar toda a engrenagem capitalista.
Da mesma forma, a queda da arrecadação de impostos representará para os países endividados (todos, sendo os mais pobres escorchados pela agiotagem internacional bancária) a impossibilidade de rolagem de suas dívidas e pagamento dos juros, paralisando definitivamente o funcionamento da dita engrenagem capitalista.
Este é um desfecho já anunciado para a economia mundial, com as tragédias dele decorrentes, que em face desta realidade terá de se valer de um novo modo de produção social capaz de evitar as dramáticas consequências que advirão de um crash internacional capitalista. (por Dalton Rosado)
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