Por Rui Martins, de Genebra |
O Brasil vive em plena Idade Média. Pior do que ocoronavirus é a ignorância, o cheiro fétido do beatismo, o charlatanismo e a enganação pregada e propagada pelos chamados pastores evangélicos.
Trata-se de uma versão moderna de Deus e o Diabo na Terra do Sol, que deixaria apoplético Glauber Rocha – o ranço imanente dessa versão bíblica evangélica tirada dos porões do Mayflower, trazida ao Brasil e implantada à força de cantos e gritos histéricos na nossa cultura.
Deus acima de tudo – acima da ciência, da inteligência, da lógica, do saber, da literatura, da história. O Deus das fogueiras da Idade Média, das inquisições, das teorias imbecis, do céu, da salvação das almas e do medo do inferno. O Deus dos espertos que se aproveitam dos ignorantes, dos simples e dos pobres de espírito.
Nas análises do Brasil de hoje de Bolsonaro (econômicas, sociais, políticas e outras tantas ), falta este ângulo resultante da nefasta influência evangélica – o de um Brasil destruído pela crendice bíblica, pela mentira levada ao povo e pelas ações dos vendilhões do templo.
Enquanto o mundo inteiro se preparava para enfrentar esse novo vírus, capaz de relançar o clima de medo, da morte e da peste que, no século 14, enlutou durante 400 anos anos a Europa, um presidente cego ria do perigo, no qual lançava seus fanáticos seguidores.
Quatro dias depois, o mesmo presidente – apostando na idiotice desses seguidores desmemoriados – reapareceu de máscara mal colocada no rosto, reconhecendo o risco do vírus.
Tarde demais, no domingo em que a irresponsabilidade do presidente levou às ruas cegos seguidores em mais de 200 cidades, num fenômeno de infecção coletiva, milhares contraíram o vírus que desdenhavam e em cuja existência não acreditavam. Logo veremos as dramáticas consequências.
Um presidente que expõe sua gente ao risco de morte não é digno do cargo e está merecendo um impeachment imediato por motivo de saúde pública.
Porém, isto dificilmente ocorrerá. Em torno dele, protegendo-o, estão os sacerdotes da mentira e da morte, iguais àqueles vestidos de preto e cheirando enxofre da Idade Média; aproveitando-se do nome de Cristo, eles continuarão suas rendosas pregações.
Seus pobres fiéis explorados não percebem, mas seus pastores são, sem dúvida, as Bestas do Apocalipse.
Enquanto o planeta (ou será que a terra é plana como diz o guru do presidente?) pede para todos evitarem sair às ruas para se protegerem contra a nova peste, Silas Malafaia, o nome de um deles, reagiu contra a exigência de as igrejas fecharem suas portas para evitarem aglomerações.
Só aceitou cancelar os cultos quando a Justiça assim o determinou (mas elas permanecerão abertas e prestando assistência religiosa individual). Deve ter uma oração secreta contra o vírus, enviada por Satanás, se não for ele próprio o Capeta...
E o autoproclamado bispo Edir Macedo é outro que desdenha do risco mortal do vírus. O grande antídoto contra todos os vírus seriam a Bíblia e o Evangelho, versão Igreja Universal, exatamente como diziam na época da Peste Negra, faz sete séculos, os anunciadores da morte.
Ora, essa mesma Bíblia, no Livro das Revelações, tem um versículo destinado a todos quantos se enriquecem e enganam o povo com religiões: Sai dela, povo meu, para que não sejas participante dos seus pecados, e para que não incorras nas suas pragas (Apocalipse 18:4).
Sou ateu, creio na capacidade do homem para vencer obstáculos como os virus, e vencer principalmente os enganadores que se aproveitam da ignorância para lançar seu manto de trevas, como na Idade Média.
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Observação: o visual fora do padrão do blog se deve aos problemas que estou tendo com a internet, provavelmente devido ao excesso de gente em casa navegando. Melhor isso do que nada... (Celso Lungaretti)
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