No tênis altamente competitivo dos dias atuais, o suíço Roger Federer parecia estar nos estertores de sua glória quando, em agosto de 2010, perdeu pela segunda vez a posição de nº 1 do mundo.
Antes, a mantivera por incríveis 237 semanas consecutivas, entre fevereiro de 2004 e agosto de 2008, época de sua absoluta supremacia; e a reconquistou em julho de 2009, perdendo-a, contudo, em junho de 2010, sem atingir a cobiçada meta de 300 semanas, um patamar que seria praticamente inigualável. Ficou no meio do caminho, com 285 semanas.
Prestes a completar 29 anos de idade, ninguém acreditava mais que voltasse ao apogeu. Mas, insistiu: mudou de treinador, mudou o estilo de jogo, ralou nos treinamentos e foi buscar a marca almejada, acrescentando à soma mais 17 semanas (entre julho e novembro de 2012).
Total: 302. Novak Djokovic, o que está mais próximo, tem 223 e a concorrência brava de Andy Murray nos dias atuais.
Seu primeiro Grand Slam: Wimbledon, 2003. |
Aí a fonte parecia ter secado em definitivo. Não ganhou mais nenhum torneio de Grand Slam e viu Rafael Nadal aproximar-se perigosamente do seu recorde de 17. O espanhol, com 14, certamente sonhava desbancar o maior de todos no outro parâmetro mais importante do tênis profissional.
Para piorar, as contusões que vinham atormentando Federer nos anos de vacas magras chegaram ao auge em 2016, quando teve de passar o segundo semestre inteiro fora das quadras, em cirurgia, tratamento e recuperação.
Ao voltar em 2017, só poderia ser visto como um azarão no primeiro grande torneio da temporada, o Australia Open. Aí ele se superou: mesmo tendo despencado para o 17º lugar do ranking por conta de sua longa inatividade, foi capaz de, partindo de baixo e pegando rivais mais difíceis, derrotar quatro dos Top10 e se tornar um inacreditável campeão de 35 anos!
O triunfo épico deste domingo (29) praticamente serviu para barrar Nadal, que agora está a quatro Grand Slam de empatar com ele e a cinco de o superar. Aos 30 anos e também já sofrendo os efeitos das contusões, as chances de consegui-lo se tornaram mínimas.
O começo de tudo, aos 8 anos. |
E pôs fim a uma tola polêmica sobre quem seria o melhor dos dois: o tenista de técnica mais apurada em todos os tempos (Federer) ou o maior guerreiro das quadras (Nadal). O espírito de luta e a força mental do espanhol lhe valeram vitórias contra o suíço, mas, para quem admira sobretudo o brilhantismo das performances, jamais houve dúvida.
Minha admiração por Federer se deve também ao amor que tem por seu esporte, fundamental para, em duas ocasiões, ele haver dado a volta por cima quando todos aguardavam o anúncio de que penduraria a raquete.
Ele não continua jogando movido pela ganância, nem se incomoda com as derrotas que vai acumulando no confronto com tenistas de uma, duas e até três gerações posteriores à sua (não está longe o dia em que enfrentará um adversário com metade da sua idade...).
Joga pelo prazer de jogar, para retribuir o carinho dos torcedores e pela satisfação de ter-se tornado rei de um esporte que o apaixona desde menino, quando era pegador de bolas nas quadras suíças em que mais tarde exibiria seu fulgurante talento.
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