Algum destes livros ainda será lido na próxima década? |
Segundo o repórter Bruno Molinero, "as aquisições podiam chegar a milhares de exemplares de cada título e render milhões de reais todos os anos às empresas".
Mas, a fonte secou. "Principalmente a partir de 2015, as compras governamentais para abastecer bibliotecas e escolas minguaram nas esferas federal, estadual e municipal —até quase desaparecerem com a crise econômica em que o país mergulhou."
E não é que até uma recessão tem um ou outro ponto positivo?!
Já cuidei da seção de literatura em revistas (o que não fiz na minha carreira jornalística?) e era obrigado a escrever qualquer bobagem sobre títulos infanto-juvenis que estivessem sendo lançados. Folheava-os e a maioria era tão ruim que eu tinha vontade é de alertar os pais: "Não desperdicem seu dinheiro com este item de consumo (é só isto e nada além disto)! Não vai fazer bem nenhum a seus filhos. Insistam com os professores para adotarem os clássicos, começando pelos do Monteiro Lobato".
Pois, após ter constatado que sua qualidade média era das mais insatisfatórias, interessei-me em saber por que, cargas d'água, eram lançados tantos e tantos títulos, sem diferenças substanciais entre eles ("um mais um igual a zero", diria o poeta Marcus Accioly) .
Logo percebi como funcionava o esquema. As editoras mimavam de todas as maneiras professores e autoridades, para que os livros adotados pelas escolas mudassem de ano para ano. Mestres que não merecem carinho e chupins da burocracia reagiam exatamente como deles se esperava, esforçando-se por fazerem jus aos mimos, no afã de os receberem cada vez mais.
Com isto, a qualidade literária que se oferecia às crianças geralmente era quase nenhuma, matando no nascedouro qualquer possibilidade de virem a se tornar leitores assíduos. O resultado está aí, bem visível nas redes sociais: o que as novas gerações escrevem evidencia dificuldade imensa de concatenação do raciocínio, comunicação sofrível, crassa desinformação e ignorância esplêndida da ortografia e da gramática.
Depois, contudo, depená-los a cada novo ano passou a ser a palavra de ordem. Que se matassem de fazer horas extras! E que seus impostos fossem dilapidados em livrecos para breve utilização, desde que as engrenagens do capitalismo continuassem girando!
A recessão deveria nos fazer refletir sobre tudo isto. Mas, nada espere da grande imprensa neste sentido, pois ela existe para ocultar ou relativizar as mazelas e a desumanidade intrínseca do capitalismo.
Um comentário:
Não esperar nada da grande imprensa, nem da grande "esquerda".
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