Perdi uns bons 15 minutos para colocar o blogue Náufrago da Utopia novamente no ar, depois que os hackers da madrugada o atacaram.
Nunca entenderei a intolerância. Detestar genericamente judeus, negros, árabes, esquerdistas, etc., e tentar atingir algum indivíduo que faça parte de tais universos... de que adianta? Há milhões e milhões de outros. É a inutilidade absoluta.
Qualquer leitor tem milhões de sites e blogues à disposição, por que alguém se incomoda tanto com o fato de uns mil internautas acessarem diariamente o meu? Gente assim deveria ir se resolver com psicanalistas... ou psiquiatras.
São piores ainda do que os censores da ditadura, pois as donas Solanges não gostavam necessariamente do seu ofício imundo. Recebiam a tarefa e a cumpriam. Sabe-se lá o que lhes passava pela cabeça, enquanto mutilavam livros, filmes, canções --criadores às avessas, destruidores da beleza e da inteligência. paus mandados do arbítrio.
Já censor voluntário é um fanático tacanho que estaria melhor vivendo na Idade Média. Mata meu blogue porque não tem coragem de me matar, mas o simbolismo é este. Gostaria de me dar uma facada pelas costas, não ousa, tira meu blogue do ar quando estou dormindo. Medíocre, impotente e covarde, em suma.
Creio que todo ser humano já pensou, alguma vez, em assassinar alguém. Mas, os normais ficam apenas nos devaneios, e mesmo neles têm como alvos quem particularmente lhe fez mal, ou a seus parentes e amigos. Não a um desconhecido que só conhece por leituras ou aparições na mídia. Não ao torcedor de outro time, como fazem as hordas organizadas do futebol.
Que cabecinha pequena e deles! Em que mundo claustrofóbico e soturno eles vivem! Como a insignificância lhes deve pesar!
Há coisa mais patética do que alguém ser um ser um arremedo de Mark Chapman?!
10 comentários:
Andaram atacando o Marco Feliciano também. Esse pessoal não poupa ninguém.
A última vez em que fizeram isto sistematicamente foi no auge do Caso Battisti. Depois, a coisa ficou bem mais esporádica.
Mas, acontecia quando eu lançava algum texto contundente contra o governo. Quando era contra a direita, os ex-torturadores, os bancos, havia quem postasse comentários desaforados, mas não faziam sabotagem.
São "crackers" ("hackers" destrutivos). "Hacker" é todo aquele que entende de códigos-fonte de programas informáticos. O "cracker" é o "hacker" do mal.
Você é de esquerda. E hoje, existe um ataque coordenado a qualquer um que parece ser esquerda, seja você ou o pessoal que você considera blog chapa-branca.
Isso não custa barato, e sabemos quem está por detrás disso: o "soft power" que busca substituir os governos de centro-esquerda da América Latina por "governos amigos" dos EUA.
Resultado: mesmo um blog que nem domínio próprio tem como o seu, pode estar sendo atacado por soldado lá dos cafundós do Nebraska ou de Haifa (Israel).
Grato pelas informações, são úteis.
De qualquer forma, persiste o fato de que tentam me tirar do ar em momentos agudos, quando a visitação aumenta muito; e, geralmente, quando o governo está em alguma saia justa.
Enfim, por enquanto não dá para eu saber ao certo. E conjeturas não têm o valor de verdades provadas.
Abs.
Celso, primeiramente desculpe fugir do assunto do texto. Enviei essa mensagem para você há alguns dia pelo facebook, mas parece que vc não a recebeu, e como não sei teu email, me permita cola-la aqui.
Caro Celso,
Por acaso conheci teu blog, que de primeira passei a adorar e sempre ler tuas publicações.
E através do teu blog conheci tua história de vida. Durante a última semana fiquei diariamente procurando questões a teu respeito, textos antigos seus e entrevistas.
Eu, um jovem de 22 anos de esquerda e estudante de jornalismo, gostaria de falar que é uma honra poder ler teus textos e tua história. A tua vida é um exemplo de constante lutas e superação! Sempre será extraordinária tua atuação na Vpr, no caso Cesare Batiste, a tua luta para conceber a verdade sobre as infames e mentirosas acusações que te fizeram, tua militância politizantes na rede.
Considero exemplar a tua posição de não revelar o nome de quem delatou o foco, apesar de esta(s) pessoa(s) o ter prejudicado demasiadamente.
E também gostaria de pedir desculpas a vc, primeiramente como brasileiro, pelas violência física e moral que o Estado Brasileiro te infligiu; e tambem como uma pessoa de esquerda, pela infame calunia que a esquerda punitiva e hipócrita (esquerda esta que ainda existe) fez contra a sua pessoa.
Que você e os teus tenham muita saúde, paz e tranquilidade
Abraços
Daniel Oliveira
Daniel,
primeiramente peço que me desculpe por não ler as mensagens do Facebook como deveria. Eu era muito interessado no Orkut, mas me desencantei quando o sectarismo foi ganhando terreno e as discussões produtivas se tornaram raras. Aí, ao surgirem o Facebook e o Twitter, pessoas próximas me inscreveram mas nunca me entusiasmei com ambos. E às vezes fico tempo demais sem entrar.
Quanto à vida que levei, hoje percebo ter, de certa forma, atraído infortúnios por ter uma característica muito incomum no Brasil: ajo, no limite das minhas forças, de acordo com o que considero ser certo, não recuando quando fico sozinho e o grupo vai noutra direção. Isto, mais um tanto de timidez e falta de trato social que tinha naquele tempo, me predispôs a ser erigido em bode expiatório em 1970.
Mas, mesmo depois que meu verdadeiro papel histórico ficou conhecido, uma boa parte da esquerda continuou sentindo-se incomodada com a sinceridade dos meus textos e prejudicando-me em diversos sentidos.
Eu não fico chocado. Afinal, li o suficiente para saber que revolucionários não são muito diferentes das pessoas comuns no sentido de preferirem errar com o grupo do que acertar sozinhos.
Quando a URSS pactuou com a Alemanha nazista, p. ex., forma poucos os militantes com vergonha na cara, que tiveram a coragem de denunciar aquilo como uma ignomínia, até porque deixava Hitler com as mãos livres para barbarizar povos livres, na certeza de que não seria atacado por Stalin. Assim como hoje muitos outros petistas tinham a obrigação de estarem resistindo ao neoliberalismo, mas não estão.
Quando lancei meu livro, dois companheiros (que eu não conhecia) me escreveram dizendo que haviam feito autocríticas insinceras, reconhecendo erros que lhes apontavam mas não concordavam ter cometido, apenas para voltarem às boas com a esquerda e retomarem a militância. E se declararam arrependidos por não terem resistido como eu aos acordos podres que lhes foram propostos.
Eu penso que um dia ainda serei reconhecido como exemplo de revolucionário que não aceitou pagar tal mico e continuou mantendo uma atuação de esquerda mesmo assim, inclusive conseguindo feitos improváveis como levar à vitória a greve de fome dos "Quatro de Salvador".
Fico contente em ver um jovem de 22 anos tendo os interesses que você tem. É mais uma prova de que, independentemente de resultados imediatos, vale a pena tentar deixar um legado para as novas gerações.
E, muito mais agora, pois a esquerda terá de se reconstruir após os baques sofridos e os que ainda sofrerá. Tomara que vocês tenham mais sorte do que nós que, provavelmente, nos retiraremos de cena sem termos cumprido a missão que assumimos no comecinho da jornada: fazer a revolução brasileira.
[Embora eu ainda não tenho perdido de todo a esperança de passar novamente por um período como o de 1968. Se viver bastante e tiver um pouquinho de sorte, quem sabe?]
Um forte abraço!
Tua geração pode não ter terminado a missão, mas teve a coragem para persegui-la e com isso deixoubum legado incrível, o maior legado que a esquerda brasileira possui.
Você certamente é um grande exemplo de revolucionário, pois a verdade é revolucionária.
É uma honra poder entrar em contato com vc.
Abraços!
Daniel,
para quem viveu esses acontecimentos e conheceu os personagens envolvidos, é difícil conciliar as próprias lembranças com a imagem que hoje é difundida e que se forma na mente das gerações que vieram depois.
No meu livro, tentei dar uma visão honesta de como éramos. Olhando para trás, sempre fico com a impressão de que nenhum de nós era a pessoa ideal para o papel que acabou desempenhando. Pareceu-me que havia uma função histórica a ser preenchida e quem estava mais próximo do centro dos acontecimentos e tinha mais afinidade com o que deveria ser feito, acabava se tornando, digamos, o médium no qual o espírito da História encarnava.
Então, o nosso verdadeiro mérito foi o de termos optado por nos aproximar do fogo, enquanto tantos outros preferiram dele se distanciar. Com todas as nossas imperfeições, fizemos o melhor que podíamos para concretizar nossos ideais, numa situação de tal disparidade de forças que, percebi depois, nada nos levaria à vitória. Simplesmente, não havia nenhuma hipótese em nosso favor, de nossos acertos e erros dependia apenas a duração de nossa resistência, mas não o desfecho.
É a visão que tenho tentado passar: foi, acima de tudo, uma tragédia. E ceifou alguns dos melhores quadros que a esquerda brasileira já produziu. Fizeram muita falta na redemocratização.
Um forte abraço!
Celso,
Realmente este foi o grande mérito de sua geração: ter dado o próprio sangue por ideais emancipatórios, por ter resistido a um golpe que nem o próprio presidente derrubado ousou contra-atacar. É uma marca histórica profunda que nenhuma propaganda mentirosa pode findar.
Posso imaginar que a visão de quem estava lá no fogo é diferente da visão de nós que apenas recordamos a história. Tendemos a romancear a heroicidade dos homens que nos antecederam... imagina o caos que deve ter sido o período da Revolução Russa, nossa visão é de orgulho. Nesse contexto imagino a mágoa que vc teve/tem de Lamarca, realmente ele agiu de uma maneira mesquinha e egoísta contigo, apesar de eu compreende-lo como um herói do povo brasileiro... Também nos esquecemos ou preferimos não ver que heróis também erram por vezes.
Fizeram e fazem muita falta, a ditadura conseguiu acertar a esquerda em seu âmago, mas mesmo com tanta dor os frutos ficaram e cresceram. Penso que, apesar de todas as idiossincrasias, vivemos um dos momentos menos trevosos da humanidade. Mas devo te admitir que dói ver quadros importantes da resistência fazendo o papel da direita mais tacanha, como Aloysio Nunes, Gabeira, Syrkis... mas sei que eles são alguns enquanto que os revolucionários que ainda permanecem como tal é a maioria dos que ficaram, tento sempre transmitir isso a colegas quando conversamos sobre os anos de chumbo.
Daniel,
quando a grande imprensa atacou de forma exacerbada a figura histórica do Lamarca, fui eu seu principal defensor, em meados de 2007. Eis um texto em que eu relembrei tal episódio: http://naufrago-da-utopia.blogspot.com.br/2011/06/bau-do-celsao-o-caso-lamarca-muito.html
É óbvio que, aos 19 anos, foi terrível para mim ser acusado injustamente de haver entregue ao inimigo a informação mais importante que este buscava naquele momento; não ter sido incluído na "lista de troca" do embaixador alemão, embora os critérios adotados pela VPR até o momento da minha queda me dessem o direito de estar nela; e ter, ainda, sofrido novas e duras torturas, que acabaram me causando uma lesão permanente, porque a repressão concluiu acertadamente que eu a iludira quanto ao desbaratamento das unidades de ação tática existentes no RJ, fazendo-a crer que não sobrara ninguém para executar o plano de sequestro que chegou ao seu conhecimento, sem que ela lhe tivesse dado importância. Ou seja, foi muito humilhante para eles o sequestro ocorrido nas suas barbas, atingindo um diplomata que sabiam ser alvo provável; então, acabaram descarregando a frustração em mim.
Mas, até a minha reabilitação, transcorreram três décadas e meia. Foi tempo suficiente para essa revolta se dissipar, principalmente porque, de um jeito ou de outro, eu acabei dando a volta por cima. A minha mágoa era ter ficado sem credibilidade para continuar defendendo meus ideais; quando a recuperei, decidi que não iria ficar lamentando o tempo que perdera, mas sim tentando aproveitar melhor o que me restava.
E, tendo passado a conhecer melhor o martírio do Lamarca no final de sua trajetória, isto também me ajudou a encarar tudo aquilo com menos passionalismo. Como se pode guardar rancor permanente de quem sacrificou tudo pela causa e acabou sendo abatido como um cão em nome dos seus (e também meus) ideais?
Evidentemente, não posso nem poderei jamais considerar correto que se transfira a um militante de escalão inferior a culpa de um militante de escalão superior, por ser menos danosa para a Organização a destruição da reputação de um quase desconhecido no universo de esquerda (eu me tornara alguém na VPR, mas, nas circunstâncias da clandestinidade rígida, isto não vazou para o exterior) do que de alguém com grande prestígio e posição proeminente.
Mas, fiquei sabendo que a situação era extremamente dramática quando se tomou tal decisão. Então, carecendo desesperadamente de reforços, a VPR deve ter preferido ocultar uma informação que dificultaria as novas adesões (quem confiaria numa Organização cujos dirigentes mais importantes vacilam na hora H?) . Foi cruel, mas deu para entender.
Enfim, considero que hoje, tanto tempo depois, tudo deva ser encarado como História. E o papel do Lamarca na História foi extraordinário, apesar de haver cometido erros como qualquer ser humano comete (azar o meu ter sido atingido por um deles!). Em termos simbólicos, ele, Marighella e Tiradentes são nossos três vultos históricos mais significativos para a esquerda. Respeito a grandeza e o exemplo de sacrifício dos três.
Abs.
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