"...somos de uma geração que dedicou boa parte de suas vidas à luta coletiva, queríamos mudar o país e o mundo, e fomos vitoriosos ao ajudar a derrotar a ditadura e a dar início a um processo de distribuição de renda, que tornou nosso país mais livre e menos injusto.
Hoje, noto um comportamento mais egoísta, em que os jovens estão preocupados com a carreira e a próprio sobrevivência, na base do cada um por si e Deus por todos. Em algum ponto, nós falhamos. Não conseguimos repassar para as novas gerações valores como a solidariedade, a ousadia, o inconformismo, a capacidade de sonhar e mudar o estabelecido para a construção de uma sociedade mais generosa.
Pior do que isso: não fomos capazes de criar novas lideranças, tanto que o país continua dividido entre FHC e Lula, trinta anos após a redemocratização do país, nem de manter vivo o espírito que mobilizou os movimentos sociais em torno das lutas pela anistia, pela Constituinte, pelas liberdades públicas. Ou alguém sabe quem são esses líderes que apareceram nas manifestações de março? De onde surgiram, quais são suas histórias, que representatividade têm, quais são seus projetos de país?
Somos ao mesmo tempo vitoriosos e derrotados. Ganhamos nas lutas do passado, mas fomos derrotados na construção do futuro. Por isso, chegamos ao final de um ciclo político, com a falência do chamado presidencialismo de coalizão da Nova República, esta zorra federal instalada em Brasília e tão distante do Brasil real, colocando em xeque o futuro da própria democracia representativa pela qual tanto lutamos."
(Amargurado como tantos hoje nos sentimos, Ricardo Kotscho,
66 anos, um dos maiores jornalistas da minha geração)
2 comentários:
NÃO, COMPANHEIROS, NÃO!
As amargas derrotas que se impõem sobre nós, em todos os sentidos e com todas as suas terríveis consequências, são um capítulo de uma história imensamente maior: a história da maior luta que o gênero humano já empreendeu, a qual venceremos! O fim da luta pelo socialismo, primeiro, e pela realização da aspirações das pessoas, de uma maneira geral, somente ocorrerá quando o próprio mundo humano chegar ao fim. O sistema capitalista está numa crise sem saída, e será superado pelos trabalhadores e pelos povos do mundo inteiro por meio da libertação das forças produtivas, quando o capitalismo não aguentar mais, e as forças da transformação revolucionária da sociedade se renovarem! Este mundo pertence aos seus legítimos herdeiros, e a época da justiça chegará!
Eduardo,
ninguém duvida de que, no longo prazo, o capitalismo vai ser substituído por um regime de liberdade e justiça social.
Mas, entristece-nos termos querido tanto ver tal etapa histórica chegar e, cada vez mais, percebermos que os felizardos serão nossos filhos, netos, ou mesmo bisnetos.
Quando eu me lembro de quanto prestígio tínhamos no momento da redemocratização, e reflito sobre todos os erros cometidos até chegarmos ao fim de feira atual, dá vontade de chorar.
Nos anos seguintes a 1964, tivemos de provar ao povo que a esquerda não era toda igual ao PCB, que se rendera aos milicos sem sequer esboçar uma resistência.
Quando o PT chegar ao amargo fim, teremos de provar ao povo que a esquerda não é toda de deslumbrados pelo poder, que ainda possui quadros que colocam os ideais acima dos interesses.
A caminhada que teremos pela frente é longa. Não exatamente o que o Kotscho e eu esperávamos estar fazendo nesta fase da vida.
Abs,
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