terça-feira, 30 de agosto de 2011

DINES: CAPA DA 'VEJA' É UM ATENTADO À INTELIGÊNCIA DO LEITOR

É sempre gratificante apreciarmos o texto de um mestre em dia inspirado.

Caso de Jornalismo político volta à Era da Pedra Lascada, com que o grande Alberto Dines dimensiona bem a última falácia da pestilenta Veja: uma matéria de capa extremamente tendenciosa e disparatada em seu conjunto, que carece de lógica "mesmo enquanto ficção".

Como resultado do parto da montanha, efetuado com métodos criminosos, pariu-se um rato jornalístico, "atentado à inteligência do leitor" que "degrada o processo político". Perfeito.

Eis os trechos principais do excelente artigo publicado no Observatório da Imprensa:
...Há hoje uma metamensagem ou criptojornalismo, cifrado, exclusivo de um seleto grupo de iluminados. O governo manda suas mensagens, a mídia é obrigada a entender. Mesmo não gostando. A réplica pode vir com a mesma sutileza...

O que conspira contra o jogo democrático são as ameaças de rupturas. O presidente Lula não entendeu, não quis ou não teve paciência para entender o tricô das raposas. Subia no palanque e 'mandava ver' (...). Criou impasses, cavou confrontos perigosos.
É o que fez Veja com a sua última matéria de capa sobre o ex-ministro José Dirceu ('O poderoso chefão', edição nº 2232, data de capa 31/8/2011). Sutil como uma carga de cavalaria – e tão eficaz quanto esta –, produziu um curto-circuito, reintroduziu a imprudência no diálogo governo-imprensa. Repercutiu no exterior. E daí?
A verdade é que a matéria recoloca o jornalismo político brasileiro na Era da Pedra Lascada. Traz de volta os vídeos clandestinos, os arapongas, os dossiês secretos jogados no colo de jornalistas ditos 'investigativos'.
José Dirceu (...) é também um consultor/lobista. Pode alugar um andar inteiro num hotel dez estrelas em Brasília ou Luanda e nele receber legiões de correligionários, clientes e amigos. Não há nada de ilícito ou malfeito...

O texto inteiro de Veja, da primeira à última linha, é customizado, adaptado para servir à tese de que o ex-chefe da Casa Civil está conspirando contra a sua sucessora, atual presidente da República. Não há evidências, apenas insinuações, ambigüidades, gatilhos.

Fernando Pimentel, ministro do Desenvolvimento, é amigo pessoal de Dilma Roussef, não poderia conspirar contra ela. José Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras cujo maior acionista é o governo, não enfrentaria o seu maior eleitor quando reiniciar sua carreira política. Delcídio Amaral é um petista light, quase-tucano.
A lista dos 'conspiradores' é frágil e as possíveis motivações, inconsistentes. O conjunto é disparatado, não faz sentido, carece de lógica. Mesmo enquanto ficção.
Os encontros gravados duraram em média 30 minutos, tempo insuficiente até para acertar uma empreitada de pequeno porte. Devidamente investigados, os fatos poderiam vincular-se e ganhar alguma dimensão. No estado bruto em que foram apresentados pelo semanário de maior tiragem do país representam um atentado à inteligência do leitor, não renderiam sequer uma nota numa coluna de fofocas políticas.
Este é um jornalismo que não se sustenta, é retrocesso. Não favorece a imagem da imprensa, não ajuda a presidente Dilma, prejudica a oposição. Faz esquecer a faxina moralizadora e degrada o processo político".

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