sexta-feira, 22 de abril de 2011

JUSTIÇA DIVINA?

Como todo militante revolucionário que aprendeu o bê-a-bá do marxismo, eu já tentei encarar as religões como projeção para outro plano de nossas dores, angústias e aspirações.

Ópio do povo, como disse Marx, mas num sentido diferente do que a maioria atribui: o ópio então era usado para aliviar as dores, assim como os homens recorreriam às promessas de justiça no além para melhor suportar as injustiças e sofrimentos que marcavam seu cotidiano.

No entanto, ao longo da minha vida, vi muita coisa que me fez colocar um grande ponto de interrogação sobre este assunto.

Como, p. ex., o episódio da velha raposa da política que tudo fez para se tornar presidente da República, embora não tivesse nem de longe carisma para chegar ao Planalto nos braços dos eleitores.

Ele conspirou para que fosse negado ao povo o direito de eleger o presidente pela via direta e para que um bando de parlamentares depois desertasse das hostes governamentais e lhe fornecesse os votos necessários para ganhar a eleição pela imunda via indireta.

Com todo seu maquiavelismo, ganhou mas não levou. A morte frustrou seus planos perfeitos.

De quebra, devemos à sua arquitetura política oportunista um dos piores presidentes da nossa História, o coronelão nordestino que lambia as botas dos militares e fez a Nova República nascer velha e condescendente com os crimes que haviam sido perpetrados em duas décadas de arbítrio.

Justiça divina? Sei lá. Mas que parece, parece...

Assim como o caso de Wellington Manezes, a besta humana que executou sem motivo 12 crianças, por desequilíbrio mental e também em função de sua mais do que evidente compulsão por holofotes.

Uma das repulsivas mensagens que deixou definia os procedimentos a serem adotados no seu enterro. Sonhava em receber atenções fúnebres dignas de um santo.

Foi, pelo contrário, sepultado nesta sexta-feira (22), num cemitério da zona norte do Rio de Janeiro, como corpo não-reclamado, já que nenhum parente quis saber dele e das lembranças do seu ato bestial.  O enterro foi feito pela Santa Casa.

Wellington agora está ao lado de indigentes não identificados, tão insignificante na morte como o foi em vida, de nada tendo adiantado o repulsivo massacre com que tentou mudar este destino.

Ponto a favor da existência da justiça divina.

7 comentários:

Anônimo disse...

Prezado Lungaretti:
O sujeito era uma besta, um monstro - melhor dizendo, porque era humano. Animais não cometem desatinos assim, até onde sei. E a "justiça divina", nesse caso, era absolutamente previsível. Acho que o cadáver seria melhor aproveitado se fosse entregue a uma faculdade de medicina, para aulas de anatomia, depois de retirados órgãos em bom estado para transplantes.
Penso que é possível discutir o assunto de forma menos apaixonada. Para começar, experimente ler artigo de Duarte Pereira na revista eletrônica Espaço Acadêmico.
Um abraço

celsolungaretti disse...

Tenho duas filhas menores de idade e também dois netos. Então, neste caso eu me coloco naturalmente ao lado das vítimas.

Além do mais, até hoje não consigo engolir que uma nulidade semelhante ao Wellington tenha assassinado, sem motivo real nenhum, o John Lennon.

E simpatizava com a Sharon Tate, que eu achei uma gracinha em "A Dança dos Vampiros".

Então, desculpe-me, mas nunca analisarei desapaixonadamente esses casos de imbecis sedentos de fama que matam só para aparecer.

Marcilio disse...

Longe de mim defender atos bestiais, mas não percamos de vista que somos ordinariamente humanos capazes de atos extremos, para o bem e para o mal.E qualquer sociededade capitalista opressora pode gerar monstros.

Anônimo disse...

Prezado Lungaretti:
Os sentimentos que você tem são compreensíveis. Vivemos em sociedades marcadas pelo medo. Mas a análise desses episódios tem de ser mais abrangente.
E nada como um dia após o outro. Acaba de surgir mais um matador. Um francês, executor da própria família (esse, pelo jeito, não queria aparecer). Leia:
http://www.elpais.com/articulo/internacional/Francia/emite/orden/busqueda/internacional/sospechoso/quintuple/homicidio/Nantes/elpepuint/20110423elpepuint_7/Tes

celsolungaretti disse...

O Wellington, entretanto, foi nitidamente mais um espécime da linhagem do Mark Chapman, do Charles Manson, do maluco do Shopping, etc. Pessoas que perpetram matanças sem pé nem cabeça, como forma de saírem do anonimato.

Acho extremamente perigoso sermos condescendentes com essa fauna, pois há muitos indivíduos de miolo mole prontos a seguirem o mau exemplo, sacrificando a vida ou a liberdade para se tornarem celebridades instantâneas.

Se a imprensa toda tratasse o Wellington da forma como eu tratei, a possibilidade de novas matanças seria bem menor.

Anônimo disse...

Prezado Lungaretti:
Concordo que não podemos ser condescendentes com malucos dessa espécie.
Pretendo apenas dizer que esses casos irão se repetir: nossa sociedade é uma fábrica de monstros.
E não apenas a imprensa tira proveito dos massacres. A figura do serial killer está presente em quase todos os seriados importados de televisão, não é verdade?
A loucura e o medo também viraram mercadorias!

José Carlos Lima disse...

Coisas que estão na bíblia e que não são divinas:

A submissão da mulher à machaiada

A escravidão

A homfobia

Etc etc
..,
A burka para esconder o corpo (visto como orgao genital pelo Alcorão,,,argghh que coisa velha essa coisa de alcorão)

Tancredo Neves não era divino, muito pelo contrário

Nem W.

Related Posts with Thumbnails