segunda-feira, 28 de março de 2011

ANTES MESMO DA REVOLTA LÍBIA, GADDAFI JÁ SEQUESTRAVA OPOSICIONISTAS

A principal ONG defensora dos direitos humanos no planeta, a Anistia Internacional, acaba de denunciar que o ditador libanês Muammar Gaddafi e seus seguidores estão promovendo desde o início do ano uma "campanha de desaparecimentos forçados". Ou seja, em português claro: sequestros.

Trata-se, segundo o diretor da AI para o Oriente Médio e África do Norte, Malcolm Smart, de uma prática "sistemática" de "deter pessoas suspeitas de serem hostis ao regime do coronel Gaddafi, mantê-las detidas sem que possam se comunicar com o exterior e transferi-las para bastiões [pró-Gaddafi] no oeste da Líbia".

A ONG cita "mais de 30 casos de pessoas desaparecidas mesmo antes do início dos protestos" contra o ditador, em 15 de fevereiro, acrescentando que a escalada de desaparecimentos se intensificou muito nas últimas semanas e este número agora é apenas "uma pequena proporção" do total de sequestrados.

A nota acaba com esta advertência: "Dadas as circunstâncias desses desaparecimentos forçados, há todos os motivos para acreditar que existe um risco sério de que essas pessoas sejam torturadas e maltradadas".

E por essas e muitas outras que, independentemente de serem pouquíssimo confiáveis as nações que estão combatendo Gaddafi, não há como verdadeiros homens de esquerda se colocarem ao lado de um tirano tão bestial, que repete as mesmíssimas práticas de ditaduras como as de Médici e Pinochet, tão execradas por todos nós.

Eu também fui sequestrado... pelas forças de Médici. 

Sofri prisão totalmente ilegal e fiquei isolado de parentes e advogados durante exatos 75 dias, durante os quais  podiam fazer (e fizeram) comigo o que quiseram.

Torturaram-me, simularam minha morte, estouraram meu tímpano, quase me provocaram um enfarte. Um oficial incentivou-me a tentar fugir, o que lhe daria pretexto para alvejar-me pelas costas. Era obrigado a escutar dia e noite o som da pancadaria e os gritos dos companheiros. Conheci o inferno.

Então, não há argumentação nem circunstância nenhuma que me façam apoiar quem submete outros seres humanos aos martírios que quase me enlouqueceram ou mataram. Serei sempre solidário às vítimas das ditaduras e aos valentes que se revoltam contra as tiranias, não aos carniceiros e aos déspotas.

2 comentários:

Júlio disse...

Essa falsa dicotomia à la Bush é falsa. Kadafi é um ditador, um tirano. É impossível apoiá-lo. Até aqui está correto. Daí a apoiar as bombas da OTAN vai um Nilo. Seria ignorar os massacres no Iraque, na Palestina... Para não ir muito longe, lembremos das atrocidades de soldados americanos no Afeganistão, relatadas pela Revista Rolling Stones:

http://www.rollingstone.com/kill-team

celsolungaretti disse...

Júlio,

infelizmente não havia saída boa para esta crise.

Utilizando a aviação contra os revoltosos, o Gaddafi estava prestes a sufocar a revolta.

Com sua aviação superior, as nações ocidentais agora estão permitindo que aconteça o que já estava acontecendo antes dos aviões do Gaddafi desequilibrarem a refrega.

No fim, só há mesmo uma dicotomia: com seus aviões, Gaddafi venceria; os aviões da força da OTAN estão ensejando a vitória dos rebeldes.

Então, só resta a pergunta: quem deveria vencer, Gaddafi ou os rebeldes?

Eu estou sempre ao lado de rebeldes contra tiranos.

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