sábado, 12 de fevereiro de 2011

A ETERNA MAJESTADE DE UM REI DO JORNALISMO LIBERTÁRIO

Alberto Dines, que completará 79 anos no próximo sábado, foi figura exponencial da resistência jornalística à ditadura de 1964/85: seu espaço dominical na Folha de S. Paulo, o Jornal dos Jornais, contribuiu decisivamente para reduzir a influência dos bolsões do totalitarismo e impulsionar a redemocratização do País.

É emocionante vê-lo ainda tão esperançoso e otimista como se revelou no artigo A aldeia global em ação, de que tomei conhecimento com algum atraso (mea culpa!), mas ainda faço questão de dividir com vocês.

Seus votos também são os meus: de que a imprensa reassuma a missão de resgatar e disponibilizar a verdade a seus públicos, bem como o compromisso de contribuir para o progresso e a evolução da humanidade.


A ALDEIA GLOBAL EM AÇÃO 

Alberto Dines

No ano do centenário de nascimento do canadense Marshall McLuhan, o ditador egípcio Hosni Mubarak consagrou definitivamente o conceito de Aldeia Global ao colocar seus esbirros contra a imprensa internacional acampada no Cairo para cobrir a revolta popular que exigia a sua saída.

Apesar da violenta repressão, veículos dos quatro cantos do mundo (inclusive do Brasil) reagiram de forma instintiva, coerente, determinada: Mubarak, a figura e não uma estátua, começou a desabar naquele exato momento.

Depois de tantas bolhas, vacilações e vexames, a mídia noticiosa reencontra a sua história e missão. Ao atravessar a maior crise existencial e institucional, o jornalismo – é ele que está em questão – mostrou o seu ânimo, sua força, sua validade.
A humanidade tem sede de saber, a imprensa tem a obrigação de saciá-la. Sobretudo quando se trata de livrá-la da opressão e do obscurantismo. Este compromisso não pode ser regulado nem controlado por caudilhos oportunistas, diplomatas maneiristas, políticos ambiciosos, fanáticos delirantes, especuladores gananciosos.
SEGUNDA DÉCADA - Atender aos chamamentos por liberdade está na alma deste ofício, é o seu modelo de negócios, qualquer que seja a plataforma utilizada. Pela primeira vez, o jornalismo foi às ruas para evitar um banho de sangue, e não para provocá-lo. Sua presença, mais do que o seu testemunho, foi decisiva para impedir a maré montante da repressão.
O Ocidente reencontrou-se, releu talvez o discurso de Barack Obama em 4 de junho de 2009 pronunciado ali mesmo, no Cairo, e reverteu o rumo das cruzadas medievais. Foi ao Oriente para ajudá-lo a acabar com a opressão e não trocá-la por outra. Trouxe a sua tecnologia, sua criatividade e, principalmente seu compromisso com uma utopia das Nações Unidas chamada Aliança das Civilizações.

A revolta egípcia corre o mundo e desperta entonações revolucionárias. Enquanto a China se cala, manietada por suas contradições, a praça Tahrir do Cairo força os irmãos Castro em Havana a liberar o blog de Yoani Sánchez. Um gerente egípcio do Google torna-se ídolo mundial porque assume integralmente sua condição de comunicador social e cala a boca do apedrejador persa Ahmadinejad.

Em meio a terríveis nevascas, portentosos dilúvios e presságios de fome, a segunda década do século 21 começa alentadora. Graças à imprensa – plural, livre, descontraída, diversificada.

2 comentários:

Edoubar disse...

Continuo achando um absurdo comparar regimes como o de Mubarak, um testa de ferro dos interesses euro americanos e sionista no norte da África e Oriente Médio, com regimes cubano e iraniano, que gozam de apoio popular, sofrem o cerco de interesses poderosos, como os dos que sustentaram Mubarak, e que tornam a democracia e a liberdade em seus territórios um artigo de luxo. Em Cuba e Iran se desconhece a existência de ditadores milionários a governar povos miseráveis. Não seria o caso de se comparar com a silenciosa e desapercebida Arábia Saudita, como o foi Mubarak até recentemente?

celsolungaretti disse...

Cuba é outro departamento, mas estados teocráticos são uma excrescência no século 21.

Estejam contra quem estiverem em termos internacionais, não podemos apoiá-las... jamais! Ou 1789 nada significará na história da humanidade.

Marx deve estar revirando na cova: sempre defendeu o avanço da humanidade, do feudalismo para o capitalismo e deste para o socialismo. Uma regressão para a Idade Média não fazia sentido nenhum em seu pensamento. É uma heresia para qualquer revolucionário que bebeu na fonte do marxismo.

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