segunda-feira, 6 de setembro de 2010

DIVAGAÇÕES OCIOSAS NA VÉSPERA DO 7 DE SETEMBRO

Hinos nacionais não são prioritários para quem quer construir um Brasil diferente, não representações simbólicas diferentes do Brasil atual.

Mas, a cada 7 de setembro, aumenta minha inveja dos franceses, que têm um eletrizante, enquanto somos obrigados a nos contentar com uma marcha mais apropriada para banda (sua destinação original), embalando versos rococós que mais da metade dos brasileiros não consegue decorar e, provavelmente, nem um décimo entende.

A Marselhesa foi composta por um oficial do exército francês e músico autodidata, para encorajar os soldados que combateriam os austríacos em 1792. Originalmente, era o Canto de Guerra para o Exército do Reno. Adotado pelas tropas revolucionárias e pelo povo, espalhou-se por todo o país e foi oficializada como hino nacional em 1795.

Imagens fortíssimas: o estandarte ensanguentado erguido contra a tirania, para evitar que déspotas vis se tornassem os mestres do destino dos franceses; os cidadãos chamados à luta para combater ferozes soldados estrangeiros que vinham degolar seus filhos e suas esposas.

E o refrão de arrepiar:
"Às armas, cidadãos,
Formai vossos batalhões!
Marchemos, marchemos!
Que um sangue impuro
Irrigue os nossos campos arados!"

Enquanto isso, por aqui o sol da liberdade teria brilhado como consequência do brado retumbante de um príncipe estrangeiro que resolveu mudar sua devoção sabe-se lá se por razões mais profundas ou por mero pragmatismo político; afinal, uma das cartas que o levaram a soltar o grito do Ipiranga foi a da esposa, Maria Leopoldina, advertindo-o de que "o pomo está maduro, colhe-o já, senão apodrece".

O chamado Hino da Independência é bem mais viril e altaneiro, não tanto pela música que D. Pedro I teria composto algumas horas depois do grito, mas em razão dos versos de Evaristo da Veiga, professor que simpatizava com os poetas da Inconfidência Mineira.

Não há nada, no Hino Nacional inteiro, com impacto remotamente equiparável ao deste refrão:
"Brava Gente Brasileira
Longe vá, temor servil;
Ou ficar a Pátria livre,
Ou morrer pelo Brasil!
Ou ficar a Pátria livre,
Ou morrer pelo Brasil!"
Traduzem o calor e as paixões do momento: Evaristo os compôs antes mesmo do grito, em agosto de 1822. Uma de suas mutações acabou se casando com a moldura sonora de D. Pedro I.

Já a letra de Osório Duque Estrada só foi acoplada ao Hino Nacional em 1909, depois de vencer um concurso realizado três anos antes. Do membro nº 2 da Academia Brasileira de Letras só poderia mesmo esperar-se algo tão artificial, rebuscado e flácido.

Idéia maluca: o Geraldo Vandré de outrora seria o nome ideal para compor um Hino Nacional que realmente fizesse jus ao povo brasileiro. Uma síntese de "Disparada", "Caminhando" e "Paixão Segundo Cristino".

Não sei se o Vandré atual daria conta do recado.

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