No Brasil, a política oficial tende a ser a negação da política revolucionária, em tudo e por tudo.
Imperceptivelmente, os idealistas que nela ingressam vão se imbuindo da mentalidade de tudo fazerem com o objetivo primeiro de conquista do poder e, depois, de continuidade no poder.
Objetivos estratégicos e princípios éticos vão às favas; conta o popularesco, o secundário, o imediato, o ibope.
Então, detestei cada minuto dos três anos e meio que trabalhei na assessoria de imprensa de um governador.
Ficara desempregado num momento de crise para os jornalistas e o meu antigo diretor de redação, que também estava na olho da rua, investiu na conquista de um cargo público: fez campanha, de graça, para o candidato.
Tendo ele sido eleito, veio a retribuição. E, coordenando a redação que trombeteava os feitos e justificava os malfeitos de Sua Excelência, alguns meses depois me fez uma oferta irrecusável, para ser seu redator de confiança na equipe que herdara.
Aluguei minha competência profissional, mas não as minhas convicções.
Não me filiei ao partido do governador nem procurei aproximar-me do seu esquema político, o que teria sido muito fácil nas circunstâncias. Encarava aquilo tão somente como ganha-pão.
O que não me impediu de simpatizar com uma política daquele governo: a colocação do ensino como prioridade primeira.
Logo no início, foram convidados cem luminares para fazerem um diagnóstico em profundidade da educação, formulando um programa para sanar as grandes deficiências existentes.
O resultado foi o projeto da escola-padrão, que procurava fazer com que algumas escolas estaduais se tornassem ilhas de excelência, com equipamento adequado, autonomia para gerir seus gastos e incentivos aos professores.
As primeiras seriam os cartões de visita e o teste na prática. Todas as outras as seguiriam, com o passar do tempo.
Deu tudo errado.
Os professores não mostraram o mínimo interesse em participar da gestão dos recursos, no que seriam, digamos, associações de pais e mestres com poderes ampliados e recursos para investir. Isto foi visto por eles, apenas, como mais trabalho.
Também recusaram, indignados, a proposta de terem aumentos salariais desde que fizessem cursos de aprimoramento didático. Queriam receber aumentos salariais sem darem contrapartida nenhuma.
E fizeram uma interminável greve que, no desempenho das minhas funções, acabei acompanhando passo a passo.
Nossa redação tinha uns 20 jornalistas, distribuídos entre a manhã/tarde e a tarde/noite. Quase todos simpatizávamos com os professores e os assalariados em geral.
Mesmo assim, era impossível não notarmos que a greve, a partir de certo ponto, foi prolongada unicamente para criar constrangimentos políticos ao governo.
Chegou o momento em que foi colocada a proposta definitiva e última do governador. Mesmo assim, os líderes do magistério mantiveram a paralisação por mais duas ou três semanas, o que não fazia nenhum sentido em termos reivindicatórios. Os motivos eram outros.
Depois recuaram, aceitando integralmente a proposta que haviam rechaçado sem nem mesmo negociarem.
O governador amaldiçoou o dia em que pensou em fazer do ensino a vitrine do seu governo. Adotou outras prioridades e para elas canalizou os recursos que iria utilizar em educação.
Os professores perderam o poder de barganha e, portanto, a chance de obter melhor remuneração. Não se deram conta de que, jogando o jogo com mais sutileza, teriam alcançado patamares salariais bem mais condizentes com sua nobre função.
Os estudantes foram sensivelmente prejudicados, pela não concretização das melhoras e também pelas greves.
Eu mesmo, acreditando no sucesso das escolas-padrão, transferi minha filha para uma delas. No final de um ano praticamente perdido, tive de levá-la de volta, com o rabo entre as pernas, ao colégio de freiras.
E fiquei decepcionadíssimo por constatar que raríssimos professores levavam em conta seu papel na formação dos cidadãos, seu acesso privilegiado aos corações e mentes dos jovens brasileiros e, por extensão, de suas famílias.
Queriam mesmo é números diferentes nos holerites. Que acabaram não conseguindo.
Senti-me muito velho ao compará-los com meus mestres mestres de outrora, que se viam sobretudo como formadores das novas gerações, difusores do saber e responsáveis pelo aperfeiçoamento das instituições.
Pois meus pais e meus avós diziam a mesmíssima coisa. Ou todos estávamos com a sensação errada, ou o Brasil vinha/vem piorando de geração em geração.
Então, detestei cada minuto dos três anos e meio que trabalhei na assessoria de imprensa de um governador.
Ficara desempregado num momento de crise para os jornalistas e o meu antigo diretor de redação, que também estava na olho da rua, investiu na conquista de um cargo público: fez campanha, de graça, para o candidato.
Tendo ele sido eleito, veio a retribuição. E, coordenando a redação que trombeteava os feitos e justificava os malfeitos de Sua Excelência, alguns meses depois me fez uma oferta irrecusável, para ser seu redator de confiança na equipe que herdara.
Aluguei minha competência profissional, mas não as minhas convicções.
Não me filiei ao partido do governador nem procurei aproximar-me do seu esquema político, o que teria sido muito fácil nas circunstâncias. Encarava aquilo tão somente como ganha-pão.
O que não me impediu de simpatizar com uma política daquele governo: a colocação do ensino como prioridade primeira.
Logo no início, foram convidados cem luminares para fazerem um diagnóstico em profundidade da educação, formulando um programa para sanar as grandes deficiências existentes.
O resultado foi o projeto da escola-padrão, que procurava fazer com que algumas escolas estaduais se tornassem ilhas de excelência, com equipamento adequado, autonomia para gerir seus gastos e incentivos aos professores.
As primeiras seriam os cartões de visita e o teste na prática. Todas as outras as seguiriam, com o passar do tempo.
Deu tudo errado.
Os professores não mostraram o mínimo interesse em participar da gestão dos recursos, no que seriam, digamos, associações de pais e mestres com poderes ampliados e recursos para investir. Isto foi visto por eles, apenas, como mais trabalho.
Também recusaram, indignados, a proposta de terem aumentos salariais desde que fizessem cursos de aprimoramento didático. Queriam receber aumentos salariais sem darem contrapartida nenhuma.
E fizeram uma interminável greve que, no desempenho das minhas funções, acabei acompanhando passo a passo.
Nossa redação tinha uns 20 jornalistas, distribuídos entre a manhã/tarde e a tarde/noite. Quase todos simpatizávamos com os professores e os assalariados em geral.
Mesmo assim, era impossível não notarmos que a greve, a partir de certo ponto, foi prolongada unicamente para criar constrangimentos políticos ao governo.
Chegou o momento em que foi colocada a proposta definitiva e última do governador. Mesmo assim, os líderes do magistério mantiveram a paralisação por mais duas ou três semanas, o que não fazia nenhum sentido em termos reivindicatórios. Os motivos eram outros.
Depois recuaram, aceitando integralmente a proposta que haviam rechaçado sem nem mesmo negociarem.
O governador amaldiçoou o dia em que pensou em fazer do ensino a vitrine do seu governo. Adotou outras prioridades e para elas canalizou os recursos que iria utilizar em educação.
Os professores perderam o poder de barganha e, portanto, a chance de obter melhor remuneração. Não se deram conta de que, jogando o jogo com mais sutileza, teriam alcançado patamares salariais bem mais condizentes com sua nobre função.
Os estudantes foram sensivelmente prejudicados, pela não concretização das melhoras e também pelas greves.
Eu mesmo, acreditando no sucesso das escolas-padrão, transferi minha filha para uma delas. No final de um ano praticamente perdido, tive de levá-la de volta, com o rabo entre as pernas, ao colégio de freiras.
E fiquei decepcionadíssimo por constatar que raríssimos professores levavam em conta seu papel na formação dos cidadãos, seu acesso privilegiado aos corações e mentes dos jovens brasileiros e, por extensão, de suas famílias.
Queriam mesmo é números diferentes nos holerites. Que acabaram não conseguindo.
Senti-me muito velho ao compará-los com meus mestres mestres de outrora, que se viam sobretudo como formadores das novas gerações, difusores do saber e responsáveis pelo aperfeiçoamento das instituições.
Pois meus pais e meus avós diziam a mesmíssima coisa. Ou todos estávamos com a sensação errada, ou o Brasil vinha/vem piorando de geração em geração.
Um comentário:
Celso, pode ter certeza que isso está enraizado na "cultura" primaz do sindicalismo de oportunidade. Aprimorar o seu trabalho dá muiito trabalho, ufa! Muitos desses gravistas se apropriaram do termo revolucionário, sem entender que o objetivo não era simplesmente tomar nada de ninguém e ficar por isso mesmo. Sou a favor das greves como instrumento de negociação, mas essa negociação deve ser levada aos últimos recursos, com transparência para os trabalhadores não passem a vilões da história. Não se trata de contra o capital, ele tem que vir a reboque do trabalho, caso esse trabalho o mereça. É a lei do Gerson (coitado!).
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