sexta-feira, 27 de março de 2009

COMEÇA A F-1 DAS VACAS MAGRAS

Tem início neste fim de semana a temporada de uma Fórmula 1 obrigada a reduzir custos em função da crise global do capitalismo.

Tomara que, para compensar, os dirigentes não queiram oferecer circo demais para a plebe que está com pouco pão.

Emoções fortes ajudam as pessoas comuns a esquecerem suas aflições. A imagem mais emblemática da depressão da década de 1930, para mim, foi a dada pelo filme A Noite dos Desesperados (They Shoot Horses, Don't They?, d. Sidney Polack, 1969), sobre as maratonas de dança que eram então oferecidas como diversão popular nos EUA.

Desempregados se arrastavam como zumbis pelas pistas até caírem desmaiados, após vários dias de esforços insanos. Quem aguentasse mais, saía de lá com dinheiro suficiente para sobreviver durante uns meses.

Os espectadores desses espetáculos bizarros, inconscientemente, compraziam-se em constatar que havia pessoa em situação pior ainda que a deles -- mesquinho consolo!

Voltando à outra arena, a da F-1, torço para que, nesta temporada recessiva, não se flexibilizem as regras de segurança para garantir corridas mais dramáticas.

Estarei sendo mórbido e agourento? Talvez. Mas, o transcurso dos 15 anos da morte de Ayrton Senna lança uma sombra sobre este início de temporada. Foi um fato traumático demais, que até hoje não conseguimos assimilar totalmente.

Divagando mais um pouco, eu lembraria a interessantíssima tese de Jorge Semprún naquele que foi, disparado, o melhor livro da década de 1970: A Segunda Morte de Ramon Mercader.

Para Semprún, um acontecimento como o assassinato de Trotsky, de tão terrível que foi, continuou indigerido, repercutindo e gerando consequências, nas décadas seguintes. Como a pedra que lançamos numa lagoa e produz sucessivos círculos concêntricos, até uma razoável distância.

Assim, no livro, um homônimo do carrasco de Trotsky acaba sendo aprisionado numa teia de circunstâncias que o impele a repetir o destino do Ramon Mercader original. E, por mais que perceba a armadilha para a qual está sendo conduzido e tente evitá-la, tudo conspira para que não consiga dela escapar.

Depois que passar o 1º de maio de nossas dolorosas lembranças, provavelmente nos libertaremos do peso desse passado, voltando nossas atenções para o Felipe Massa e o Nelsinho Piquet que tentam conquistar o primeiro título e o Rubinho Barrichello empenhado em adiar a aposentadoria.

E, como a fatídica Ímola saiu do calendário da F-1, não haverá baixo astral em setembro, quando o GP da Itália estiver sendo disputado... em Monza, felizmente!

Um comentário:

Anônimo disse...

Carros poluem, matam sistematicamente e segregam.

Dowload do Livro Apocalipse Motorizado - A tirania do automóvel em um planeta poluído. (Ver em especial o texto de Ivan Illich "Energia e Eqüidade".)

http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2008/04/417242.shtml

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