quarta-feira, 30 de março de 2016

SCHWARTSMAN E LUNGARETTI OPINAM: POR QUE DILMA ESTÁ CAINDO?

DESEMBARQUE
Por Hélio Schwartsman
A esquerda marxista nunca deu muita bola para o Judiciário. Era tido como uma parte da superestrutura voltada especificamente a manter as relações de produção (infraestrutura) em termos favoráveis à burguesia. Há, portanto, certa ironia no fato de os herdeiros da esquerda marxista se aferrarem a supostos legalismos e minudências jurídicas para tentar preservar o mandato de Dilma Rousseff.

Como sabiam os marxistas de outrora, a disputa pelo poder não se dá por vias judiciais, mas é eminentemente política –quando não escancaradamente militar, como no caso de revoluções. E é justamente da esfera política que deverá vir o atestado de óbito do governo Dilma.

Com o desembarque do PMDB consumado, as extrapolações matemáticas sugerem que ela não pode mais contar com os 171 deputados necessários para barrar o impeachment.

No atual cenário, é irrelevante se a peça jurídica que substancia o pedido de afastamento está bem fundamentada, se o tipo criminal está bem descrito, se a presunção de inocência está sendo respeitada. O impeachment pelos chamados crimes de responsabilidade, embora vista as roupas de procedimento judicial, é essencialmente um juízo político. 

É por isso que ele é julgado por parlamentares e não pelo STF, como ocorreria se a presidente fosse acusada de delitos penais. 

É por isso que a lista dos crimes de responsabilidade inclui coringas como ferir "a dignidade, a honra e o decoro do cargo", que significa qualquer coisa que os julgadores queiram que signifique.

Se Dilma de fato cair, terá caído não porque perpetrou crimes monstruosos –até pode tê-los cometido, mas isso não está em questão– ou porque foi vítima de um golpe, mas mais simplesmente porque perdeu sua base política. 

Um governo que não consegue convencer um terço dos parlamentares a ficar em casa em vez de ir votar para derrubá-la não tem mesmo condições de continuar.

DESENLACE
Por Celso Lungaretti
Há muito venho afirmando que Dilma Rousseff inevitavelmente vai cair e que, quando chegar o momento de seu afastamento, os embasamentos jurídicos magicamente serão encontrados, daí a ociosidade de discussões tipo "pedaladas fiscais justificam perda do mandato?".

Com um pouco mais de paciência do que eu, o Hélio Schwartsman explica exatamente isto. E está certíssimo quanto ao fato de que nós, os revolucionários que lemos os clássicos do marxismo e do anarquismo, sempre consideramos o Judiciário um Poder que, em última análise, serve à classe dominante e não ao conjunto da população.

Só discordo do argumento final do filósofo. Dilma, na verdade, não tem condições de continuar por algo muito mais grave do que a falta de apoio parlamentar: o fato de há 15 meses não estar conseguindo governar, enquanto o povo sofre o diabo durante a mais aguda recessão da História brasileira. Se nada for feito, a dita cuja logo evoluirá para depressão econômica –que, num país pobre como o nosso, vai matar gente como moscas.

Vejo, portanto, a coisa de forma bem mais simples. Dilma já deu demonstração cabal de que não conseguirá reverter o quadro catastrófico da nossa economia. E, não o fazendo, as vítimas da penúria e do desemprego, mais dia, menos dia, tentarão arrancar na marra o que estão impossibilitados de obter com o suor de seus rostos.

A convulsão social significará um salto no escuro, que vai fazer nossa democracia balançar e talvez desmanchar-se no ar.

É o pior cenário possível para a esquerda, que acaba de virar pó de traque (ou coisa pior ainda, a julgar pelo fedor...) e terá de ser reconstruída tijolo por tijolo. A possibilidade de fazê-lo numa democracia é bem maior do que sob nova ditadura.

São, portanto a constatação óbvia de que perderemos qualquer batalha que travarmos enquanto estivermos no auge do desprestígio, e minha solidariedade primordial para com os milhões de coitadezas que já se encontram na rua da amargura e para com outros tantos ameaçados de a eles se juntarem, os motivos de eu considerar a queda de Dilma o mal menor nas atuais circunstâncias.

Precisamos nos preservar para podermos voltar à carga quando existirem chances reais de vitória. Agora não há. 

Como também inexiste qualquer motivo plausível para optarmos pelo tudo ou nada, pois o governo que está sendo derrubado nada tem ou teve de revolucionário em momento nenhum dos últimos 13 anos e três meses!

3 comentários:

Valmir disse...

Uai sô...quando os petistas dizem que a presidente não foi pega com a mão na massa, ou a boca na botija, sempre penso..pelo que sei Hitler também não tinha uma multa de transito sequer..e não consta que tenha matado nem uma mosca. Por essa lógica não poderia ser, se preso, condenado nem a 10 cestas básicas...Ahhh sim; Charles Manson condenado a prisão perpetua pela chacina na casa de Roman Polanski e do dentista azarado também não matou ninguém, nem estava presente na cena dos crimes...

Maurício Antunes disse...

Analistas mais abalizados dizem que o impeachment não passa. Quem são os maiores promotores do impeachment?

Os mais notórios políticos safados e corruptos, criminosos, deste pobre país, aliados a uma mídia poderosíssima e também corrupta.

Muitos intelectuais de esquerda fazem críticas avassaladoras contra os treze anos de governo petista. No entanto nenhum deles faz prognósticos da queda iminente de Dilma.

O editor do blog, Celso Lungaretti, carrega nas tintas. Onde que estamos vivendo " a mais aguda recessão da história brasileira"?

Não há falta de abastecimento. As reservas internacionais são expressivas. As exportações vão se mantendo.A inflação mais ou menos contida; não é explosiva.

O aumento do salário mínimo foi o possível que podia ser feito ao contrário da era FHC que em momento de crise deu irrisório reajuste.

Se há sofrimento do povo muito mais haverá se o governo cair nas mãos de Temer e caterva.

Se essa quadrilha chegar ao poder, eu disse se chegar,implantarão um plano teleguiado do FMI que acabará com o resto de direitos sociais do povo trabalhador.

O impeachment não passará.

celsolungaretti disse...

Maurício,

acontece que o editor do blogue ganhou seu pão alguns anos trabalhando em editorias de economia e sabe tirar as conclusões cabíveis do noticiário e índices econômicos. Vocês, leigos, não têm a mínima ideia de como a deterioração que já houve impacta sobre os mais pobres.

Quanto aos "analistas mais abalizados", há os mercadores de ilusões politicamente motivados e os sérios. Os sérios concordam comigo em gênero, número e grau: se nada mudar, eremos saques de supermercados e caixas eletrônicos, confrontos nas ruas e o caos instalado ainda neste ano.

Anote isto e, adiante, me diga quem mostrou ser o analista mais abalizado...

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