DAR SOPA PRO AZAR, NUNCA MAIS!

A condução coercitiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para prestar depoimento na Operação Lava-Jato foi um óbvio exagero e a justificativa posteriormente apresentada, pouco convincente. 

O juiz Sérgio Moro talvez tenha tentado evitar que, recebendo uma convocação normal,  Lula recorresse a um habeas corpus para driblá-la, como fez com a dos promotores paulistas. Se foi isto que lhe passou pela cabeça, a emenda resultou pior do que o soneto.

Mas, Lula também exagerou ao superdimensionar o passo em falso de Moro e dele tentar extrair dividendos excessivos. De um lado, lamúrias de cordeiro; do outro, rugir de leão. Já deu liga, hoje os dois papéis não se amalgamam, se repelem.

Aliás, entusiasmo de torcedores à parte, a performance de 6ª feira (4) não foi das melhores com que o Lula já nos brindou. Pareceu um prestidigitador cansado, que repetiu em demasia os mesmos truques para as mesmas plateias e não surpreende mais ninguém.

Como vítima, não conseguiu fazer com que o distinto público deixasse de notar a ausência de explicações sobre os favores e benesses recebidos de empreiteiras pra lá de suspeitas. Noutras circunstâncias, talvez a cortina de fumaça funcionasse; mas hoje o povão amarga uma terrível recessão e dificilmente permanecerá indiferente às cifras elevadas que os promotores e a imprensa atiram na cara do Lula.

Antes, os coitadezas sentiam orgulho do voluntarioso ex-metalúrgico por vê-lo como um igual que conseguiu vencer na vida e impor-se diante dos endinheirados e dos estudados. Hoje, o mais provável é que sintam inveja dele em função do nababesco padrão de vida que saltou aos olhos (e foi destacado ao máximo) no "Jornal Nacional".

É hora de repelirmos os extremismos...

Daí meu palpite de que o rugido de leão também não atingirá seu objetivo, de atrair para as ruas mais lulistas que os de sempre e gerar uma radicalização tal que intimidasse Moro, dissuadindo-o de seguir até as últimas consequências o rumo atual.

O chamamento à guerra de Lula repercutiu onde era previsível: na internet e nos movimentos sociais. Estes tiveram a péssima ideia de quererem atravessar o samba nas manifestações pró-impeachment, o que daria ensejo a pancadaria explícita e ameaças implícitas à democracia brasileira.

Mas, o script belicoso não convém à presidente Dilma Roussef, que imediatamente convocou o núcleo político do Palácio do Planalto para discutir maneiras de neutralizar tal insensatez.

E o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, deu o tiro de misericórdia, ao anunciar, em entrevista à rádio Jovem Pan, que não permitirá a realização simultânea de duas manifestações antagônicas na avenida Paulista.

Alegando que seus deveres são garantir a liberdade de expressão e também a segurança da população, ele afirmou que manterá a autorização dada aos que agendaram seu protesto há mais de um mês e não vai permitir que outra manifestação seja marcada à última hora para o mesmo local.

...e também a truculência. 

Então, em termos práticos, nada restou do turbilhão de espuma da 6ª feira sob vara, como disse o filósofo Hélio Schwartsman:

"Sua [do Lula] fala pode ter animado a militância petista, mas não muda o quadro geral nem no plano judiciário, onde as investigações prosseguem, nem no político, onde o governo do PT agoniza e o apoio popular ao partido é declinante, sem perspectiva de a economia produzir boas notícias".

A boa notícia é que não chegou a hora dos profetas do apocalipse. Ainda nos sobra algum tempo para tomarmos as providências que se impõem, no sentido de que ela jamais chegue. 

A má notícia é que, se não aproveitarmos bem esse tempo que resta, poderemos passar uma eternidade lamentando-o: nossa penúltima ditadura durou 15 anos e a última, 21.

Dar sopa pro azar, nunca mais!