O veterano jornalista Apollo Natali ficou estarrecido ao saber que a cidade paulista de Bauru, onde cresceu Edson Arantes do Nascimento, está em dúvida sobre se deve ou não batizar uma de suas vias públicas com o nome de Avenida Pelé.
Quem concordar com o Apollo, poderá enviar aos vereadores de Bauru (cujos e-mails estão no pé desta matéria) a sua eloquente carta aberta, abaixo reproduzida. É só copiar e colar.
Quanto ao prefeito Rodrigo Antônio de Agostinho Mendonça e ao secretário de Gabinete Arnaldo Ribeiro Pinto, só podem ser contatados pelo PABX (14) 3235-1000.
CARTA ABERTA À CIDADE, ÀS
AUTORIDADES E AO POVO DE BAURU
Até hoje continua sendo sua a coroa de rei do futebol |
Boa gente de Bauru, ouçam-me todos!
Permitam-me que
me apresente: já perto dos 80, sou
jornalista da imprensa escrita há 50 anos, com a particularidade de ter
acompanhado a vida de Pelé em coberturas dos seus jogos e nas redações de O
Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde desde que ele chegou ao Santos Futebol Clube, ainda um
adolescente.
O mundo inteiro chorou, eu chorei, em meio ao clima de velório
daquele triste momento em que esse ser negro fantástico, que já pertence à
História do Brasil, parou de jogar. Foi enorme a minha emoção quando escrevi uma crônica para a Agência Estado, em 1974, no momento em que os campos
de futebol ficaram órfãos de Pelé. Republicada (vide aqui) num blogue do meu amigo e antigo companheiro de redação na AE, Celso Lungaretti , ela voltou a rodar o mundo em 2014 e está prestes a se tornar parte do acervo do Museu Pelé, em Santos.
Recordem nesse meu texto choroso a grandeza desse
jogador de futebol que levou o nome do Brasil a todos os cantos do planeta,
quando nosso país era conhecido como uma terra de onças e de bananas, cuja capital seria Buenos Aires...
Pelé sendo homenageado em Bauru. O que mudou? |
Pois bem. Correm
boatos de que Bauru não gosta de Pelé. Vejam só! Bauru, a Terra Prometida, o
solo sagrado onde o iluminado começou nos campinhos de várzea a desenvolver a
sua majestade no futebol!
Ele veio de Três Corações, em Minas Gerais, todos
sabem, e chegou a Bauru com três anos de idade. De lá para cá mudou o futebol com
seus dribles, gestos e gols pelo mundo afora.
Quando Pelé surgiu, a espécie
humana se apressou em abrir mapas para localizar o país do menino que chegou a
parar uma guerra na África porque amigos e inimigos queriam vê-lo em campo.
O que me
angustia, querido povo de Bauru, é o seguinte: dizem os meus amigos que vocês
repudiam nomear uma avenida da cidade com o nome de Pelé: Avenida Pelé. Que me perdoem os outros merecedores candidatos a
nome de uma avenida que está prestes a ser batizada, mas reconhecimento a Pelé por parte de Bauru é fundamental.
Sem poder entrevistar cada morador para perguntar por que
estão prestes a arremessar Pelé no lixo da história da grande, querida e
próspera cidade paulista que ele tornou em museu mundial do futebol, fui beber
nos livros que falam da filosofia da História. Pelé é História. Nome de rua é
História. Afinal, qual a utilidade da História, se é que ela tem alguma? Será a
História um contraponto à fragilidade da memória humana?
Já famoso, posa relembrando os tempos de menino pobre. |
Nas minhas
procuras, encontrei o historiador Marc Bloch (1866-1944), que trabalhou
incansavelmente em defesa de uma História ampla e mais humana. Pensando nos
boatos e nos juízos críticos sobre Pelé que varrem Bauru, aprendi com esse
historiador que, para descobrir como boatos e juízos ganham crédito, devemos
examinar a consciência coletiva de um povo. Para Marc Bloch, os juízos
críticos são lentes de aumento por meio dos quais vemos obscuramente a
consciência coletiva. Por que a consciência coletiva de Bauru, berço de um
milagroso futebol, rejeita Pelé? Por que Bauru não quer uma avenida com seu
nome?
Fosse
eu pintor, gravaria em tinta para os pósteros a criação dos desconhecidos porém
mais fascinantes gols de Pelé: a
maneira como ele guardava a bola em casa quando criança. Todo o dia, depois de
horas suando nos campinhos de terra da brasileiríssima Bauru, Pelé chutava a
bola de longe, lá da rua, e assim de maneira certeira, estufava as redes
imaginárias do portão estreito de sua casa, igualzinha às outras da vizinhança.
Muita água passou debaixo da ponte desde então... |
Fica a obra e esquece-se o autor, diz a glória da literatura brasileira, o escritor Machado de Assis. No entanto, numa histórica inauguração da Avenida Pelé, a cidade de Bauru não só vai eternizar a obra do gênio do futebol como não vai esquecer seu autor, pois deixará gravada em bronze, para a eternidade, estas palavras:
"Pelé, rei do futebol. Como jogador, Pelé conquistou tudo e mais um pouco. Em 21 anos como profissional participou de 1.375 partidas e marcou incríveis 1.285 gols. Uma espetacular média de 0,93 por jogo. Além disso, Pelé conquistou mais de 50 títulos em sua carreira, entre eles três Copas do Mundo, em 1958, 1962 e 1970, duas Copas Libertadores e dois mundiais interclubes com a camisa do Santos, em 1962 e 1963. Em 1980 o craque foi eleito o Atleta do Século, pelo jornal francês L'Equipe".
Viva a Avenida Pelé!
sandrobussola@bauru.sp.leg.br;farianeto@bauru.sp.leg.br;limajunior@bauru.sp.leg.br;fabianomariano@bauru.sp.leg.br;fabiomanfrinato@bauru.sp.leg.br;mantovani@bauru.sp.leg.br;carlaodogas@bauru.sp.leg.br;carlinhosdops@bauru.sp.leg.br;markinho@bauru.sp.leg.br;moisesrossi@bauru.sp.leg.br;natalinodapousada@bauru.sp.leg.br;drpaulo@bauru.sp.leg.br;drraulpaula@bauru.sp.leg.br;purini@bauru.sp.leg.br;sakai@bauru.sp.leg.br;roque@bauru.sp.leg.br;dra.telmagobbi@bauru.sp.leg.br
E-MAILS DOS VEREADORES DE BAURU
5 comentários:
Celso,
Pelé é mineiro, de três corações.
Correto. Mas, eu e o Apollo só escrevemos que ele CRESCEU lá.
Um abração!
Mais um herói da pequena burguesia e da mídia global. Homenagear uma pessoa tão influente publicamente e tão omissa em todos os momentos recentes da história desse país. Esse Pelé sempre viveu na estratosfera. Uma lástima. Bauru merece coisa melhor.
Quem Bauru tem de melhor do que o maior futebolista de todos os tempos?
É um grande equívoco exigir das pessoas mais do que elas podem dar.
O Pelé foi gigantesco naquilo que ele sabia fazer. Admiremo-lo por isto e relevemos o restante.
QUANTA BESTEIRA, FOI O MAIOR DE TODOS E NÃO QUEREM. COM CERTEZA SANTOS ,SÃO PAULO VÃO QUERER. PAÍS COM POVO DIFÍCIL.
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