É
alvissareiro e reconfortante que a tramóia contra Julian Assange esteja
dando com os burros n'água. Outro Cesare Battiti foi arrancado das
garras dos inquisidores. Devemos nos orgulhar --e muito!-- destas
vitórias improváveis que estamos conseguindo obter, contra as piores
forças políticas do planeta e a incessante lavagem cerebral efetuada
pela grande imprensa.
Mas,
no Caso Wikileaks, falta ainda a tarefa principal: salvarmos Bradley
Manning da destruição psicológica a que o estão submetendo. Não podemos
descansar enquanto ele estiver em prisões militares que mais parecem
masmorras medievais.
Para reavivar a memória dos companheiros, eis o artigo que escrevi sobre ele há 15 meses, O heróico Bradley Manning está sofrendo terríveis retaliações.
Nada mudou. Continuamos devendo-lhe esforços mais incisivos,
proporcionais ao extraordinário serviço que ele prestou à causa do
resgate da verdade, com depreendimento, arrojo e coragem.
A ISTO ficou reduzido... |
Os filmecos de
tribunal com que Hollywood fetichiza a justiça estadunidense são uma
comprovação da frase de Joseph Goebbels, de que, de tanto se martelar
uma mentira, ela acaba passando por verdade.
É
claro que, em meio a centenas (quiçá milhares, incluindo os seriados de
TV) de fitas medíocres e enganadoras, podemos pinçar alguns clássicos,
a cumprirem o papel de exceções que só servem para confirmar a regra.
De pronto, lembrei-me de 12 homens e uma sentença (1957) e O Veredicto (1982), do grande Sidney Lumet; O sol é para todos (1962), de Robert Mulligan; Testemunha de Acusação (1957), de Billy Wilder; Anatomia de um crime (1959), de Otto Preminger; Julgamento em Nuremberg (1961), de Stanley Kramer; e Justiça para todos (1979), de Norman Jewison.
Acrescentados
os que não me tenham ocorrido, os salvos do incêndio deverão totalizar
uma dezena, no máximo duas. O resto não passa de tralha cinematográfica
mesmerizante.
Eu era muito jovem quando, lendo A tragédia de Sacco e Vanzetti (1953), de Howard Fast, cai na real: o grotesco linchamento com tinturas legais dos dois anarquistas italianos era a realidade; e a infabilidade das sentenças estadunidenses, na qual seriados como Perry Mason tanto nos queriam fazer crer, não passava de piada de mau gosto.
Eu era muito jovem quando, lendo A tragédia de Sacco e Vanzetti (1953), de Howard Fast, cai na real: o grotesco linchamento com tinturas legais dos dois anarquistas italianos era a realidade; e a infabilidade das sentenças estadunidenses, na qual seriados como Perry Mason tanto nos queriam fazer crer, não passava de piada de mau gosto.
...este saudável soldado de 23 anos. |
Depois,
ao longo da minha vida adulta, fui tomando conhecimento de muitos
outros exemplos, com destaque para as aberrações jurídicas do macartismo
e para o premeditado assassinato de dois pobres laranjas (o casal Rosenberg) como bodes expiatórios de um delito cujos principais responsáveis só poderiam ser cientistas.
A
partir do atentado contra o WTC, multiplicaram-se as arbitrariedades
contra os acusados que os EUA despejaram no centro de torturas de
Guantánamo, para tratá-los como animais longe das vistas de seus
respeitáveis cidadãos.
Graças
ao heróico soldado Bradley Manning, que forneceu ao Wikileaks as provas
dos podres, o mundo ficou sabendo, p. ex., que cerca de 150 pessoas
inocentes ficaram presas durante períodos variáveis (até por vários
anos) em Guantánamo, sem julgamento nem nada, apenas por terem a
ascendência errada ou haverem sido encontradas perto do lugar errado e
na hora errada, sem nenhum motivo concreto respaldando as suspeitas de
envolvimento com ações terroristas.
É
a razão de estado falando mais alto do que a justiça e os direitos
humanos -- exatamente a acusação que os EUA sempre fizeram aos países do
chamado socialismo real. Nada como um dia depois do outro.
O CALVÁRIO DE MANNING
E, por haver
escancarado a nudez do rei, o próprio Manning está sofrendo terríveis
retaliações -- como, aliás, sempre aconteceu nas ditaduras apoiadas
pelos EUA no mundo inteiro. O serviço sujo volta a ser feito também em
casa.
É
esta a face que o império mostra para os que ousam confrontá-lo ou
atingir seus interesses; o dr. Jekyll não precisa de poção nenhuma para
virar mr. Hyde.
Porque, na verdade, é monstruoso em sua essência e benigno apenas na aparência forjada e impingida pela indústria cultural.
Estes trechos de uma notícia deste domingo (1º), que Andrea Murta enviou de Washington, dão uma boa idéia da malignidade do monstro:
"Durante o tempo encarcerado, Manning, 23, foi submetido ao que seus defensores classificam como punição extrema pré-julgamento.
O soldado ainda não teve sua primeira audiência, agendada para ocorrer em junho e ficou confinado em solitárias, sem exposição à interação humana, a exercícios e à luz do sol.Na semana passada, ele finalmente foi transferido para uma prisão no Kansas, onde poderá conviver com outras pessoas....segundo o 'Free Bradley Manning', uma rede de apoio que paga a defesa do soldado, há várias razões para maus-tratos.A primeira seria que os militares sabem que o caso contra Bradley não é tão forte quanto anunciam e, caso ele seja inocentado, querem garantir alguma punição que sirva de alerta a outros no futuro', disse (...) Jeff Paterson, porta-voz do grupo.O ex-porta-voz do Departamento de Estado PJ Crowley (...) disse que o tratamento dado a Manning é 'ridículo, contraproducente e estúpido'. Ele renunciou pouco depois.
O presidente [Obama] também sofreu o constrangimento de ver um ex-professor assinar um manifesto de juristas criticando as condições da detenção. Um representante da ONU foi outro a protestar.
Paterson diz que o soldado já não é o mesmo. 'Quando recebe visitas, leva um tempo até que a parte do cérebro ligada à interação social volte ao normal e ele se lembre de como conversar. Isso não faz mais parte de sua rotina.'"
O
martírio do último herói estadunidense está prestes a completar um ano.
Para quem quiser saber o que ele sofreu durante os (felizmente findos!)
11 meses de detenção no DOI-Codi... quer dizer, numa base dos
fuzileiros navais na Virgínia, recomendo a leitura de A prisão infernal de Bradley Manning.
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