de importados: a ópera-rock "Tommy" em
edição de luxo, com solistas convidados.
Os jovens que, graças ao MP 3, conseguem encontrar e baixar, num abrir e fechar de olhos, todas as músicas do seu agrado, nem imaginam como penávamos para obter os discos que eram nossos objetos de desejo, três ou quatro décadas atrás.
Para os roqueiros, a busca era interminável. Além da grana escassa, mal crônico para a maioria de nós, havia as limitações do mercado brasileiro.
Tirando os carros-chefes como os Beatles e os Stones, contemplados com mais lançamentos, as demais bandas e artistas dependiam do sucesso ou não do primeiro LP que saía aqui.
Vendendo bem, as gravadoras iam lançando, aos poucos, as obras anteriores. Caso contrário, quanto muito, renovavam a aposta no disco seguinte, mas deixavam o passado pra lá. E roqueiro do meu tempo, quando gostava de uma banda, não descansava até conseguir toda sua discografia.
Então, quem cultuasse um Moody Blues ou um King Crimson, p. ex., tinha de esperar anos para que seus primeiros discos fossem finalmente disponibilizados no Brasil. Ou recorrer às raras lojas de importados.
A minha favorita era o Museu do Disco, na rua Dom José de Barros, centro velho de São Paulo.
Os riquinhos saíam de lá com montes de elepês debaixo dos braços. Eu ficava meses namorando meus preferidos, até conseguir comprar.
A coisa melhorou quando eu comecei a trabalhar em assessorias de imprensa. Ainda me lembro de uma viagem que fiz ao Rio de Janeiro, para divulgar um evento qualquer.
Naquele tempo os profissionais de formação acadêmica éramos bem mais respeitados. Então (o que seria inimaginável hoje!), recebi um fixo bem generoso para as despesas, sem necessidade sequer de prestar contas na volta.
Arrumei um hotel com preços razoáveis e uma vantagem adicional: localizado no alto do morro de Santa Teresa, permitia-me ir e vir com o bondinho que acabava de ser reativado, matando as saudades daquele que eu pegava, criança, na Praça Clóvis.
Conhecedor do pedaço (já morara no Rio), comia em restaurantes bons e baratos, utilizava ônibus em vez de táxis, economizava de toda maneira.
No dia da volta, constatei que conseguira poupar exatamente metade da grana recebida. Suficiente para comprar cinco LPs importados que encontrara por lá mas não eram achados em São Paulo. Se bem me lembro, quatro do Jefferson Airplane e um do Hot Tuna.
Troféus que trouxe, orgulhoso, para casa e toquei até ficarem riscados.
Outro episódio inesquecível foi quando, desempregado no dia do meu aniversário, saí a bater pernas pela cidade e, num sebo, descobri uma enxurrada de discos intactos (importados ainda lacrados e nacionais raros), a preço de banana.
Pelo selo, percebi logo o que acontecera. Uma loja chique na região dos Jardins falira e parte do seu acervo deve ter sido retirado às pressas antes que o oficial de justiça lacrasse o estoque.
Acabou aterrissando naquela lojinha fora de mão (na rua Bento Freitas), cujo dono nem sequer conhecia o real valor do que estava vendendo.
Corri até casa e tomei um empréstimo da vizinha [a qual, aliás, era parte de uma história bizarra: seu marido morrera atingido na calçada por um carrinho de mão que desabou de um edifício em construção, daí a imobiliária indenizou a viúva com o apê ao lado do meu, mais uma graninha].
Voltei com o dinheiro da fulana, comprei uns 40 discos, separei uma dezena para minha coleção e vendi os restantes em sebos mais categorizados, obtendo o suficiente para pagar a dívida e ainda levar minha esposa para uma modesta comemoração no rodízio do Grupo Sérgio.
Foi o mais inesperado e inverossímil presente de aniversário que recebi na vida.
Hoje é tudo mais fácil, mais democrático... e mais sem graça.
Um comentário:
História mais rock'n roll não há. Muito bom.
Pra não passar em branco, meu primeiro salário de office boy foi em nome da causa - comprei o Let it Be e o Shaved Fish, do John Lennon, meu primeiro grande ídolo.
Abraços,Eric
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