Lênin falava do cretinismo parlamentar em sua época, a crença da transformação social através da conquista da maioria nos parlamentos para, por dentro do Estado, ir mudando o capitalismo. No Brasil, pela própria fragilidade histórica do poder legislativo, nunca houve propriamente um cretinismo parlamentar, mas um cretinismo passível de ser denominado executivo, a ilusão de ser possível mudar o país assumindo postos nos municípios, nos estados e por fim no governo federal.
Historicamente, o Partido dos Trabalhadores, com Lula à frente, foi a maior expressão desse cretinismo executivo, mas o fracasso completo do lulismo provou a impossibilidade de transformação social através do estado. Contudo, o fiasco petista não significou o desaparecimento por completo dessa ilusão, permanecendo em forma de paródia através de Boulos e seu PSOL.
Boulos, um cosplay mal engendrado do Lula, foi estrategicamente colocado dentro do partido para minar sua autonomia e neutralizar uma agremiação que durante muito tempo causava incômodo a Lula e ao PT. Surgido após a reforma da previdência de 2003, o PSOL congregava uma oposição de esquerda com relativa força, capaz mesmo de incomodar o lulopetismo naquilo que mais importa a ele: o voto. Boulos entrou para fazer o papel do cavalo de Tróia, arrastando o partido para o lulismo e isolando, paulatinamente, as forças independentes. O resultado final é visto hoje, com o PSOL sendo apenas um puxadinho do PT.
Boulos cumpre a função de ser um lulismo repaginado, menos desgastado, mas igualmente reacionário. Sua proposta política é simplesmente uma continuação das concepções rebaixadas do liberalismo de esquerda em que se acredita serem programas sociais, parcerias público-privadas, leis sociais e outras quinquilharias o meio para transformar a sociedade, nunca, contudo, colocando em causa a propriedade privada e o capital.
Pior, pois uma prefeitura possui limites claros e mesmo São Paulo, o terceiro maior orçamento do país, atrás apenas do próprio Estado homônimo e da União, não detém capacidade para implementar transformações mínimas nas condições de vida da população. Além disso, a condição de limitação financeira imposta pelo ajuste fiscal e a própria crise capitalista transformam a experiência da gestão municipal em apenas desgaste para quem dela se ocupa. Ou seja, Boulos, caso eleito, fatalmente fracassará e sua experiência só servirá para piorar a imagem da esquerda frente ao povo, pois esse não distingue a esquerda autêntica de seus simulacros.Assim, não é possível qualificar Boulos e sua candidatura de outra coisa que não seja um grande desserviço! (por David Coelho)
2 comentários:
a palavra chave aqui é "esquerda autentica'...um dia alguém há de me explicar o quem vem a ser isso...onde vive, o que come, como se reproduz etc, etc
Isso, Valmir, é coisa de Maniqueu e de dualistas.
Uma ilusão.
Tds farinha do mesmo saco.
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