Produzido em 1963 e lançado no ano seguinte, Deus e o diabo na terra do sol foi o primeiro filme nacional a atingir o patamar de obra-prima da sétima arte em termos mundiais.
Estava anos-luz à frente de O Cangaceiro e de O pagador de promessas, cuja (pouca) repercussão internacional se devera à condescendência dos gringos para com os exotismos de países subdesenvolvidos.
Agora que voltamos ao universo sufocante da polarização maniqueísta, num retrocesso civilizatório que nem mesmo no ano maldito de 1964 acreditávamos ser possível, bem que a comemoração do seu 60º aniversário poderia ser aproveitado para despertar o interesse das novas gerações.
Não só para um debate consistente sobre como pudemos regredir tanto, praticamente nos deixando subjugar novas formas de coronelismo político e fanatismo religioso, como até em termos estéticos. Os jovens precisam saber quão consistente e criativo o cinema brasileiro foi, antes de se subjugar à medíocre estética televisiva.
O nordestern épico de Glauber Rocha, influenciado por John Ford, Sergei Eisenstein e os mestres do neo-realismo italiano, acompanha a jornada do vaqueiro Manuel (Geraldo Del Rey) em busca de um novo destino, pois saíra do trilho normal de sua existência ao matar o coronel da região numa desavença a respeito da partilha do gado.
Engaja-se nos efetivos messiânicos de Deus (o santo Sebastião, interpretado por Lídio Silva e evidentemente baseado em Antônio Conselheiro) e do diabo (o cangaceiro Corisco, personagem que deu oportunidade a um incrível tour de force de Othon Bastos, disparado o melhor ator do elenco).
As autoridades, os latifundiários e a Igreja recorrem ao jagunço Antônio das Mortes (Maurício do Valle) para exterminar os beatos do Monte Santo (Canudos, claro!) e os cangaceiros remanescentes após a morte de Lampião.
Gigantesco, com capa de boiadeiro e barba cerrada, ele aluga sua papo amarelo calibre .44 para os poderosos, mas acredita estar cumprindo um papel mais nobre: o de desimpedir os caminhos para a guerra que um dia o povo haverá de travar "sem a cegueira de Deus e do diabo".
Manuel sobrevive a ambos os massacres e sai com a convicção de que a libertação do sofrido povo nordestino não passa por cangaceiros e fanáticos, como enfatiza a magnífica canção final de Sérgio Ricardo: "Tá contada a minha história/ na verdade, imaginação,/ espero que o sinhô tenha tirado uma lição:/ que assim, mal dividido, este mundo anda errado,/ que a terra é do homem, não é de Deus nem do diabo". (por Celso Lungaretti)
3 comentários:
https://rebelion.org/el-capitalismo-fosil-no-es-un-tigre-de-papel/
Es imposible una utopía humana en un mundo donde cada cual sobrevive frente a su pantalla/espejo
https://ethic.es/entrevistas/entrevista-remedios-zafra-utopia/
https://rebelion.org/washington-copia-la-estrategia-de-richelieu/
Vi q não tem libk.
Digita
"site: vk.com deus e o diabo na terra do sol"
Sem parênteses.
Anônimo das 11h06, agradeço o aviso. Na verdade eu já tinha até baixado para colocar na janelinha, mas fiquei atrasado para um exame médico e acabei esquecendo de incluir.
Um abração!
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