Biden finalmente atendeu à voz da razão e decidiu abandonar a corrida pela reeleição. Evitando o inescapável fiasco que viria em novembro, o atual presidente dos EUA colocou ponto final em sua infeliz saga política, poupando os estadunidenses de verem mais cenas lamentáveis durante os meses vindouros. Seria melhor mesmo que renunciasse também à presidência, mas isso deixaria Kamala Harris, sua possível substituta, impossibilitada de concorrer a um possível segundo mandato.
O governo do morto-vivo Biden tem sido um desastre do início ao fim. Consumido lentamente pela crise capitalista, incapaz de dar respostas ao alto custo de vida e preso às concepções políticas ultrapassadas pela realidade histórica, afundou na impopularidade e tentou se salvar provocando uma guerra contra a Rússia. Porém, apesar de todos os esforços, a guerra da Ucrânia não foi abraçada pela população estadunidense, que passou mesmo a se opor fortemente a gastos estratosféricos com envios de armamentos em um contexto em que pessoas morrem de fome pelas ruas da terra do Tio Sam.
Uma outra guerra - se é possível usar efetivamente tal designação àquele massacre - selou seu destino: a devastação israelense contra o povo palestino. Ao apoiar Israel e sustentar a matança perpetrada contra a população da Faixa de Gaza, Biden se viu diante de uma mobilização estudantil sem precedentes em anos pelos campi estadunidenses. Passou a ser denominado de GenocideJoe e manifestações contra ele passaram a ocorrer cotidianamente, encurralando-o às vésperas do início de sua campanha.A gota d'água, contudo, viria no primeiro debate transmitido pela rede de TV CNN, oportunidade na qual um perdido e fragilizado Biden foi tratorado por Trump. Ali ficou mais nítida a tendência que já se mostrava há pelo menos dois anos, o ex-presidente estava com o caminho totalmente aberto para vencer facilmente as eleições em novembro, por competir com um presidente fragilizado não apenas politicamente, mas também mentalmente.
Com sua desistência, Biden se une a outros presidentes que também não conseguiram emplacar a continuação de seus mandatos, a exemplo de Alberto Fernández, Bolsonaro e do próprio Trump. A razão não poderia ser mais óbvia e está ligada à atual crise capitalista que gera um estado generalizado de ingovernabilidade da ordem burguesa. Tal ingovernabilidade é a causa das variadas substituições de governo ao redor do mundo nos anos recentes, levando mesmo a uma situação de impasse político em não poucos lugares, a exemplo dos governos minoritários em Portugal e mais recentemente na França.
Não será surpresa caso essa ingovernabilidade se aprofunde, com crises não apenas dos governos, mas também dos regimes políticos, levando a uma situação de instabilidade generalizada. A estagnação do capital poderá evoluir para uma depressão, com consequências drásticas para o futuro capitalista e da própria humanidade.
Por isso, é pouco provável que uma substituição de Biden por Kamala Harris vá trazer algum efeito para a corrida eleitoral. Essa é ainda mais impopular que o atual ocupante da Casa Branca e continua por demais associada ao establishment do partido democrata. Uma opção mais viável seria ou lançar Michele Obama -a qual conta em seu favor com o fato de nunca ter sido política e ter criado certo carisma enquanto primeira-dama - ou alguém da ala esquerda dos democratas, do grupo de Bernie Sanders. Esse é pouco provável que se candidate pela idade já avançada, mas alguém de seu grupo, como Ocássio-Cortez, poderia ter maior combatividade a Trump.
Contudo, nas circunstâncias atuais, um governo mais à esquerda nos EUA poderia ser desastroso para a esquerda estadunidense, pois Sanders e cia nem de longe dariam solução aos problemas do país e poderiam mesmo desmoralizar o socialismo junto àquela população. Nesse aspecto, Michele poderia ser o melhor caminho, pois teria viabilidade eleitoral e seu desgaste não impactaria a esquerda.
De qualquer forma, hoje, Trump está mais próximo de sua vitória que nunca, enquanto Biden parte pateticamente para sua aposentadoria. (por David Coelho)
3 comentários:
Quando a esquerda não ousa governar. Artigo de Antonio Martins
https://outraspalavras.net/estadoemdisputa/quando-a-esquerda-nao-ousa-governar/
Não oferecer uma utopia é uma limitação imediata da esquerda
UMA ENTREVISTA COM Vijay Prashad
https://jacobin.com.br/2024/07/nao-oferecer-uma-utopia-e-uma-limitacao-imediata-da-esquerda/
Hiperimperialismo: um novo estágio decadente perigoso
https://thetricontinental.org/wp-content/uploads/2024/01/PT_Hyperimperialism_RGB_240206.pdf
Biden steps down
https://www.telegraph.co.uk/content/dam/news/2024/07/22/TELEMMGLPICT000386448270_17216768893250_trans_NvBQzQNjv4BqqVzuuqpFlyLIwiB6NTmJwfSVWeZ_vEN7c6bHu2jJnT8.jpeg?imwidth=1280&imdensity=2
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