segunda-feira, 27 de maio de 2024

E AGORA, LULA? MIMANDO OS PODEROSOS E FERRANDO OS IDEALISTAS, VOCÊ VAI ACABAR SOZINHO NO ESCURO, QUAL BICHO DO MATO!

"E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
E agora, José?"
(Drummond)




Tal cenário de pesadelo acaba de inspirar ao jornalista Leonardo Sakamoto aquele que talvez seja o melhor artigo de sua carreira: Tragédia no RS é aviso sobre a derrocada da sociedade com a mudança do clima (vide aqui), 
no qual ele toca em cheio na ferida:

"Nas próximas décadas, teremos milhões de refugiados ambientais por conta da subida no nível dos oceanos e pelos eventos climáticos extremos; fome em grande escala devido à redução e desertificação de áreas de produção e à perda da capacidade pesqueira; aumento na quantidade de pessoas doentes e subnutridas, além de conflitos e guerras em busca de água e de terra para plantar. 

Muita gente vai morrer no Brasil e no mundo. E os sobreviventes terão que adaptar sua vida para conviver com um ambiente mais hostil e violento".
Há muito eu vinha advertindo que esta situação chegaria. No livro Vida contra Morte, escrito entre 1953 e 1956 por Norman O. Brown e lançado no Brasil em 1972, prestei muita atenção numa conclusão assustadora, mas que era sustentada com brilhantismo por sua análise: a de que, tendo seu crescimento sido travado por aquelas contradições que Marx já detalhara no século retrasado, o capitalismo se voltaria contra si mesmo e contra a sociedade que o engendrou, sendo capturado pelo instinto de morte e passando a expressá-lo.

Não era novidade, Hebert Marcuse já caminhara na mesma direção em
Eros e Civilização (1955), mas Norman O. Brown aprofundou o tema de forma tão consistente e irrefutável que passei a acompanhar com muita atenção os acontecimentos que parecessem confirmar tal fenômeno. 

E assim venho constatando, ao longo de meio século, que as alterações climáticas se tornaram cada vez mais ameaçadoras, com as projeções de avanço do aquecimento global sendo superadas ano a ano; e que os tradicionais cavaleiros do apocalipse, a guerra, a fome e a peste, voltam a nos assombrar com força total.    

Mas, mesmo tendo sido recentemente exterminados em larga escala pela covid e estando agora às voltas com um dilúvio, continuamos resistindo à constatação de que o caos social veio para ficar e o Brasil como o conhecíamos deixou de existir.

Doravante a espécie humana estará cada vez mais lutando por sua sobrevivência, com risco real de ser extinta ainda neste século e a necessidade de direcionar, com máxima urgência, seus melhores esforços para a eliminação de vilões óbvios como os combustíveis fósseis e o desmatamento.

O certo é que o tempo desperdiçado até agora nos condena a sofrer durante muitos anos as consequências de nossa insensatez; e que, se não começarmos a acertar o passo o quanto antes, chegará um momento em que nada mais vai adiantar e a aventura humana sobre a terra terá fim.

A presidência da República está emparedada e
achatada entre o Senado e a Câmara que a tutelam
O que fazermos, então? Marcharmos resignados para o matadouro ou lutarmos com todas as nossas forças para ao menos minorar a devastação que vem por aí e, se conseguirmos garantir a sobrevivência de contingentes humanos, começarmos a reconstruir a nossa civilização sob uma perspectiva diferente?

INIMIGO FIGADAL DA ESQUERDA COMBATIVA

Mas, podem indagar os leitores, o que tudo isto tem a ver com as iniciativas governamentais para esvaziar, pelo estrangulamento financeiro, a educação para o exercício pleno da cidadania no Brasil, tornando o ensino superior atual um versão piorada dos liceus de artes e ofícios de outrora?

Comecemos pelo fato de que, como bem o David Coelho denunciou em dois ótimos artigos (este e este), há no episódio uma nítida rendição do governo federal às posições conservadoras e mesmo reacionárias:
— seja porque Lula venha sempre sendo, desde as longínquas greves do ABC, um inimigo figadal (ainda que dissimulado) da esquerda combativa, nada além de mais um reformista tentando em vão minorar a desumanidade do capitalismo;
— e/ou porque, optando por prostrar-se ao grande capital e comprar a governabilidade cedendo a todas as chantagens do centrão, não lhe sobram recursos orçamentários para atender as demandas do próprio eleitorado do PT, em áreas fundamentais como educação, saúde e políticas ambientais.

É exatamente por causa do viés cada vez mais direitista do Governo Lula e de sua escandalosa união de forças com os inimigos do saber que nossa vitória nas greves atuais me parece tão improvável quanto nas que travamos em 1968 contra os acordos MEC-Usaid. 

Contudo, trata-se também de uma luta que aponta na direção certa: a de nos prepararmos para os confrontos muito mais difíceis e decisivos que travaremos adiante, na luta pela sobrevivência da civilização em meio ao caos e sob os ataques da barbárie.

Assim como tudo que 1968 representou não foi varrido pela promulgação do AI-5 e consequente imposição ao País do terrorismo de estado, mas continuou exercendo forte influência na política, na cultura e nos costumes (principalmente) por pelo menos uma década, esta jornada também deixará muitos frutos e lições.

Inclusive a de que entre o Governo Lula e a esquerda existe hoje um abismo nas intenções e nos atos. Quanto antes nos cair tal ficha, menos tempo precioso atiraremos na lixeira. (por Celso Lungaretti)

4 comentários:

Neves disse...

Na foto em frente à uma igreja templo de Deus: o nome do barco Gabirú significa patife
https://imagens.ebc.com.br/LFmMwGCgPTLWSQQq0WCpilbfd_Q=/1170x700/smart/https://agenciabrasil.ebc.com.br/sites/default/files/thumbnails/image/2024/05/05/2024-05-05t153419z_1_lynxmpek4405m_rtroptp_4_geral-chuvas-rs-5demaio.jpg?itok=ZSuK8dbW

Pátio do Colégio, Impostômetro...Ato falho da 'Folia de Sampa'?
https://f.i.uol.com.br/fotografia/2023/05/14/16840677006460d574d944b_1684067700_3x2_rt.jpg

E este toca gaita?
https://archive.ph/mO19Y/abe1958a793ef048c0f1d2941f888136e80a7872.avif

Anônimo disse...

Amigo, não se derruba uma floresta de Araucárias impunemente.
A conta chega.

Anônimo disse...

Oi Celso, tudo bem por aí? Aqui é o Hebert.
O jornalista e blogueiro Alexandre Figueiredo
do blog "Linhaça atômica" e canais "Alexandre Figueiredo - TV Linhaça",
"Esquerda Autocrítica", já havia feito previsões sobre protestos.
As Manifestações populares (que o atual mandatário se coloca em favor usando discursinho
de sempre), poderão começar a ser tolhidas, e finalmente, reprimidas de forma truculenta. Também já escreveu algo que ele define como AI-Simco: Privilegiados, infantilizados, indenitários, "influencers", certos jornalistas, intelectuais e artistas "independentes". Escrevem textões cheios de "verdades", como quem atira, palavras em "CAIXA ALTA",
como quem grita. Ou vídeos reflexivos cheios falsa lógica e chantagem emocional.
Gente que tem o domínio das mídias sociais, e faz prevalecer suas narrativas,
dizendo "sim" pra tudo que venha do governo atual, da cultura popularesca,
até do sofrimento.
Forte Abraço.

celsolungaretti disse...

Desconheço o trabalho desse cara, Hebert, então prefiro não comentá-lo.

Mas, ultimamente me sinto como se estivesse no baile da Ilha Fiscal. Estamos vivendo o final de uma época e ninguém parece perceber a gravidade da situação.

Pandemia em 2020/2022, dilúvio em 2024, de quantos episódios como esses precisaremos para perceber que o caos veio para ficar, aqui e no mundo inteiro?

Estou muito desanimado. Tive uma vida cheia e queria o mesmo para as minhas filhas, que são a família que me resta. E cada vez mais desconfio que, se sobrar gente viva depois de tudo que está vindo por aí, será algo na linha da terra devastada do Mad Max 2, de 1981, o primeiro grande filme pós-apocalíptico.

O comportamento selvagem no RS, com alguns tentando salvar vidas e outros aproveitando a oportunidade para estuprarem e saquearem lembra muito isso.

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