"Auriverde pendão de minha terra... antes te houvessem roto na batalha que servires a um povo de mortalha" (Castro Alves) |
Os pretextos que alegaram para derrubar o presidente legítimo João Goulart eram mentirosos, daí terem intitulado a quartelada de Revolução de 31 de março, embora nem fosse revolução, nem tivesse ocorrido na véspera do Dia da Mentira, mas sim no próprio.
Foi uma vã tentativa de evitarem a piada pronta. A utilização descarada de fake news por parte dos ultradireitistas vem de longe...
Puxando pela memória, só consigo me lembrar de que a TV vendia o golpe de estado em grande estilo, insuflando tamanha euforia patrioteira que os cordeirinhos faziam fila para atender ao apelo dê ouro para o bem do Brasil!.
E, na preparação do clima para a sedição, houvera a Marcha da Família, com Deus, pela Liberdade. Aquelas senhoras embonecadas e aqueles senhores engravatados me pareceram sumamente ridículos.
Já dizia P. T. Barnum: nasce um otário a cada minuto |
Vai daí que, cabeça feita por esse devoto tardio do cristianismo das catacumbas, eu jamais poderia aplaudir um movimento de católicos opulentos.
E devorara a obra infantil de Monteiro Lobato inteira. Com ele aprendera a prezar a simplicidade, desprezando a ostentação e o luxo; a respeitar os sábios e artistas, de preferência aos ganhadores de dinheiro.
Mas, afora essa rejeição, digamos, estética, eu não tinha opinião sobre a tal da Redentora.
Escutava meu avô dizendo que, se viesse o comunismo, ele teria de dividir sua casa com uma família de baianos (o termo pejorativo com que os paulistas botavam num mesmo saco a maioria dos excluídos da época, predominantemente nordestinos).
Registrava a informação, que me parecia um tanto fantasiosa, mas não tinha certeza de que Vovô estivesse errado.
Marcha da Família, 1964: já vi enterros mais animados |
Da mesma forma, o dia que mudou todo meu futuro – seja o 31 de março do calendário dos déspotas, seja o 1º de abril em que a mentira tomou conta da Nação – não teve nada de mais.
Gostaria de poder afirmar que, logo no primeiro momento, percebi a tragédia que se abatera sobre nós: estávamos começando a carregar uma fedorenta mala sem alça, da qual só nos livraríamos 21 intermináveis anos depois.
Mas, seria abusar da licença poética e eu não minto, nem para tornar mais charmosas as minhas crônicas.
4 comentários:
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Dia aziago... neste dia morreu minha filha.
E com ela minha fé no futuro.
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Concomitantemente os militares destruíram o nosso futuro ao erradicar mais de 4500 km de ferrovias.
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"O coronel do Exército e ministro dos Transportes entre 1967 e 1974, Mário Andreazza, foi o maior expoente dessa política. Com a ajuda de Eliseu Resende, que chefiava o Gesfra, Andreazza e a ditadura militar eliminaram 4.881 quilômetros de estrada de ferro, consideradas “deficitárias” pelo regime".
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Hoje tudo é mais caro por causa dessa decisão.
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Mataram o BR e o transformaram em banânia.
O que foi bem merecido, pois, tirando alguns que lutaram, a maioria era e continua abastardada.
Achando que há saída no modal que temos.
Se o PIB crescer mesmo não temos como atender a demanda.
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Cito Bituca que, pelo menos, algo falou em Ponta de Areia.
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Diverso da dialética dos eruditos a coisa é causal.
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Lamento muito o ocorrido com sua filha. Nem posso imaginar algo assim acontecendo com uma das minhas duas. Seria um golpe pior do que todos que já recebi.
O Andreazza era muito falado no tempo da ditadura, como mutreteiro. E rola muita grana em grandes obras como a inacabada Transamazônica, de reputação horrorosa.
SF também lamento pela sua perda. Abraço
Celso! depois de tantos anos e tantas perdas... o que comentar?Abraço
https://www.theguardian.com/world/2024/mar/29/lula-brazil-coup-anniversary-dictatorship
em tempo...
https://www2.unifap.br/poscult/files/2018/08/VALENTE_Os_Fuzis_e_as_Flechas_-_Historia_de_sangue_e_resis.pdf
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